VERSO 24
tāṅhāra sammati lañā bhakte sukha dite
rathe caḍi’ bāhira haila vihāra karite
tāṅhāra sammati — a permissão dela; lañā — pedindo; bhakte — os devotos; sukha dite — para satisfazer; rathe caḍi’ — passeando na carruagem; bāhira haila — saiu; vihāra karite — para realizar passatempos.
Pedindo permissão à deusa da fortuna, o Senhor saiu então para passear na carruagem Ratha e realizar Seus passatempos para o prazer dos devotos.
SIGNIFICADO—A esse respeito, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura comenta que, como um esposo ideal, o Senhor Jagannātha permaneceu quinze dias em um lugar recluso com Sua esposa, a suprema deusa da fortuna. Não obstante, o Senhor quis sair da reclusão para alegrar Seus devotos. O Senhor diverte-Se de duas maneiras, conhecidas como svakīya e parakīya. O amor conjugal do Senhor em svakīya-rasa relaciona-se aos princípios reguladores observados em Dvārakā. Ali, o Senhor é casado com muitas rainhas; em Vṛndāvana, porém, o amor conjugal do Senhor não é com Suas esposas, mas com Suas namoradas, as gopīs. O amor conjugal com as gopīs chama-se parakīya-rasa. O Senhor Jagannātha deixa o lugar recluso, onde desfruta da companhia da suprema deusa da fortuna em svakīya-rasa, e vai para Vṛndāvana, onde desfruta de parakīya-rasa. Portanto, Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura lembra-nos que o prazer do Senhor em parakīya-rasa é superior a Seu prazer em svakīya-rasa.
No mundo material, parakīya-rasa, ou romances amorosos com moças solteiras, é uma relação muito degradada, mas, no mundo espiritual, essa espécie de romance amoroso é considerada o desfrute supremo. No mundo material, tudo não passa de um reflexo do mundo espiritual, e um reflexo pervertido. Não podemos compreender os assuntos do mundo espiritual tomando como base nossa experiência no mundo material. Por isso, os acadêmicos mundanos e polemistas interpretam erroneamente os passatempos do Senhor com as gopīs. Ninguém deve discutir a parakīya-rasa do mundo espiritual, a não ser aquele que é muito avançado em serviço devocional puro. Não se pode comparar a parakīya-rasa do mundo espiritual com a do mundo material. Aquela é como ouro, e esta é como ferro. Por haver tamanha diferença entre as duas, não há como compará-las, na realidade. No entanto, pode-se facilmente distinguir o valor do ouro ao se ver o valor do ferro. Aquele que tem o devido discernimento pode facilmente distinguir as atividades transcendentais do mundo espiritual e as atividades materiais.