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Capítulo 16

Submissão de Kāliya

Quando compreendeu que a água do Yamunā estava sendo poluída pela serpente negra Kāliya, o Senhor Kṛṣṇa agiu contra ela e fez com que deixasse o Yamunā e fosse para outro lugar, purificando, assim, a água do rio.

Quando Śukadeva Gosvāmī narrou esta história, Mahārāja Parīkṣit ficou interessado em ouvir mais sobre os passatempos infantis de Kṛṣṇa. Ele perguntou a Śukadeva Gosvāmī como Kṛṣṇa castigou Kāliya, que morava na água havia muitos anos. Na verdade, Mahārāja Parīkṣit ficava cada vez mais entusiasmado ao ouvir os passatempos transcendentais de Kṛṣṇa, e sua pergunta foi feita com grande interesse.

Śukadeva Gosvāmī narrou a história como segue: Dentro do rio Yamunā, havia um grande lago, e, naquele lago, morava a serpente negra Kāliya. Por causa de seu veneno, a área toda estava tão contaminada que exalava um vapor venenoso vinte e quatro horas por dia. Se alguma ave sobrevoasse por acaso o local, ela cairia imediatamente na água e morreria. Por causa do efeito venenoso dos vapores do Yamunā, as árvores e a relva junto à margem do Yamunā tinham secado. O Senhor Kṛṣṇa viu o efeito do veneno da grande serpente: todo o rio que corria diante de Vṛndāvana estava agora mortal.

Kṛṣṇa, que adveio só para erradicar todos os elementos indesejáveis do mundo, subiu logo em uma grande árvore kadamba na margem do Yamunā. A kadamba é uma árvore com flor redonda amarela, que, em geral, só se vê na área de Vṛndāvana. Depois de subir ao topo da árvore, Kṛṣṇa apertou Seu cinturão de pano e, agitando os braços como se fosse um lutador, saltou no meio do lago envenenado. A árvore kadamba de onde Kṛṣṇa saltara era a única árvore ali que não estava morta. Alguns comentaristas dizem que, por tocar os pés de lótus de Kṛṣṇa, a árvore ficou viva imediatamente. Em outros Purāṇas, é dito que Garuḍa, o eterno transportador de Viṣṇu, sabia que Kṛṣṇa agiria assim no futuro e, por isso, colocou um pouco de néctar naquela árvore para preservá-la. Quando o Senhor Kṛṣṇa pulou na água, o rio inundou suas margens como se algo muito grande tivesse caído nele. Essa exibição de força de Kṛṣṇa não é em nada incomum, porque Ele é o reservatório de toda a força.

Kṛṣṇa nadava como um grande e forte elefante e produziu um som tão forte que a grande serpente negra Kāliya pôde ouvir. O tumulto foi tão intolerável que ela compreendeu que isso era uma tentativa de atacar seu lar. Por isso, ela foi ter com Kṛṣṇa imediatamente. Kāliya viu que realmente valia a pena ver Kṛṣṇa, porque Seu corpo era muito belo e delicado; Sua cor assemelhava-se à da nuvem, e Suas pernas pareciam uma flor de lótus. Ele estava adornado com a Śrīvatsa e joias, e usava roupas amarelas. Ele sorria com um rosto muito belo e brincava no rio Yamunā com muita força. Todavia, apesar do belo aspecto de Kṛṣṇa, Kāliya sentiu muita ira em seu coração e, devido a isso, agarrou Kṛṣṇa com seus poderosos anéis.

Vendo a maneira incrível com que Kṛṣṇa estava envolvido pelos anéis da serpente, os afetuosos vaqueirinhos e moradores de Vṛndāvana ficaram logo atônitos de medo. Eles haviam dedicado tudo a Kṛṣṇa, suas vidas, propriedades, afeto, atividades – tudo era para Kṛṣṇa –, e, quando eles O viram naquele estado, foram dominados pelo temor e caíram no chão. Todas as vacas, touros e bezerros ficaram cheios de aflição e começaram a olhar para Kṛṣṇa com grande ansiedade. Por causa do medo, só podiam chorar em agonia e ficar de pé na margem, incapazes de ajudar seu amado Kṛṣṇa.

Certos maus presságios começaram a se manifestar enquanto ocorria esta cena na margem do Yamunā. A terra tremia, meteoros caíam do céu e o lado esquerdo do corpo dos homens se arrepiava: tudo isso indicava grande perigo imediato. Observando os sinais inauspiciosos, os vaqueiros, inclusive Mahārāja Nanda, ficaram muito ansiosos por causa do medo. Ao mesmo tempo, foram informados de que Kṛṣṇa tinha ido para o pasto sem Seu irmão mais velho, Balarāma. Logo que Nanda e Yaśodā ouviram essa notícia, ficaram ainda mais ansiosos. Devido à sua grande afeição por Kṛṣṇa e sem conhecerem a extensão das potências dEle, Nanda e Yaśodā encheram-se de pesar e ansiedade porque não tinham nada mais querido do que Kṛṣṇa e porque dedicavam tudo o que tinham – vida, propriedade, afeição, mente e atividades – a Kṛṣṇa. Por causa de seu grande apego a Kṛṣṇa, pensavam: “Hoje, com certeza, Kṛṣṇa será derrotado!”

Todos os habitantes de Vṛndāvana saíram da vila para ver Kṛṣṇa. O grupo era formado por crianças, jovens e velhos, mulheres, animais e todas as entidades vivas; todos sabiam que Kṛṣṇa era seu único meio de sustento. Enquanto acontecia isso, Balarāma, que é o senhor de todo o conhecimento, ficou ali sorrindo. Ele sabia o quanto o Seu irmão mais novo era poderoso, e que não havia motivo para ansiedade quando Kṛṣṇa estava lutando com uma serpente comum do mundo material. Por isso, Ele não partilhava da preocupação dos habitantes de Vṛndāvana. Por outro lado, todos os demais, estando perturbados, começaram a procurar por Kṛṣṇa. Seguindo a impressão de Suas pegadas no chão, eles foram correndo em direção ao Yamunā. Por fim, seguindo as pegadas que tinham a marca da bandeira, arco e búzio, os habitantes de Vṛndāvana chegaram à margem do rio e viram que todas as vacas e meninos estavam chorando, vendo Kṛṣṇa envolvido nos anéis da serpente negra. Então, ficaram ainda mais dominados pelo pesar.

Enquanto Balarāma sorria ao ver a lamentação deles, todos os habitantes de Vrajabhūmi se afogavam num oceano de pesar porque pensavam que Kṛṣṇa estava acabado. Embora os residentes de Vṛndāvana não soubessem muito sobre Kṛṣṇa, seu amor por Ele estava além de comparação. Logo que viram que Kṛṣṇa estava no rio Yamunā envolvido pela serpente Kāliya e que todos os meninos e vacas estavam lamentando, esses habitantes de Vṛndāvana só conseguiam pensar na amizade de Kṛṣṇa, em Seu rosto sorridente, em Suas doces palavras e em Seu relacionamento com eles. Pensando em tudo isso e acreditando que seu Kṛṣṇa agora estava nas garras de Kāliya, eles sentiram, de repente, que os três mundos haviam ficado vazios. O Senhor Caitanya também disse que Ele estava vendo os três mundos como vazios por causa da falta de Kṛṣṇa. Esse é o nível mais elevado da consciência de Kṛṣṇa. Quase todos os moradores de Vṛndāvana tinham o mais elevado amor extático por Kṛṣṇa.

Quando mãe Yaśodā chegou, ela logo quis entrar no rio Yamunā e desmaiou ao ser impedida. Outras amigas que estavam igualmente aflitas derramavam lágrimas como torrentes de chuva ou ondas de rio, mas, para trazer mãe Yaśodā à consciência, começaram a falar em voz alta sobre os passatempos transcendentais de Kṛṣṇa. Mãe Yaśodā continuava quieta, como morta, porque sua consciência estava concentrada no rosto de Kṛṣṇa. Nanda e todos os outros, que haviam dedicado tudo a Kṛṣṇa, inclusive sua vida, estavam prontos a entrar nas águas do Yamunā, mas o Senhor Balarāma os impediu porque sabia perfeitamente que não havia perigo algum.

Por duas horas, Kṛṣṇa ficou preso nos anéis de Kāliya como uma criança comum, mas logo Se libertou quando viu que todos os moradores de Gokula, – inclusive Sua mãe e Seu pai, as gopīs, os meninos e as vacas – estavam quase morrendo e não tinham nenhum outro abrigo contra a morte iminente. Ele começou a expandir Seu corpo, e a serpente sentiu-se demasiadamente esgotada ao tentar segurá-lO. Por causa do esgotamento, seus anéis se afrouxaram e ela não teve alternativa a soltar a Personalidade de Deus, o Senhor Kṛṣṇa, de suas garras. Kāliya, então, ficou com muita raiva, e seus grandes capelos se expandiram. Exalava gases venenosos de suas narinas, seus olhos flamejavam como fogo, e chamas saíam de sua boca. A grande serpente permaneceu algum tempo quieta, olhando para Kṛṣṇa. Lambendo os lábios com línguas bifurcadas, a serpente, com duplos capelos, olhava para Kṛṣṇa com um olhar cheio de veneno. Kṛṣṇa imediatamente lançou-Se sobre ela, assim como Garuḍa precipita-se sobre uma cobra. Assim atacada, Kāliya procurou uma oportunidade para mordê-lO, mas Kṛṣṇa Se movia em sua volta. Enquanto Kṛṣṇa e Kāliya moviam-se em círculo, a serpente foi se cansando, e sua força pareceu diminuir consideravelmente. Kṛṣṇa logo comprimiu os capelos da serpente e pulou sobre eles. Os pés de lótus do Senhor tingiram-se do vermelho irradiado pelas joias dos capelos da serpente. Então, Ele que é o artista original de todas as belas artes, como a dança, começou a dançar sobre os capelos da serpente, embora eles se movessem para todos os lados. Ao verem isso, os residentes dos planetas superiores começaram a despejar chuvas de flores, a tocar tambores e diferentes tipos de flautas e a recitar várias preces e cantos. Dessa maneira, todos os habitantes do céu, como os gandharvas, siddhas e semideuses, ficaram muito satisfeitos.

Enquanto Kṛṣṇa dançava em seus capelos, Kāliya tentava puxar Kṛṣṇa para baixo com alguns de seus outros capelos. Kāliya tinha cerca de cem capelos, mas Kṛṣṇa assumiu o controle deles. Ele começou a golpear Kāliya com Seus pés de lótus, mas isso era mais do que Kāliya podia suportar. Aos poucos, Kāliya ficou reduzida a lutar por sua própria vida. Vomitou toda espécie de refugos e exalou fogo. À medida que vomitava material venenoso de seu interior, sua situação pecaminosa ia se reduzindo. Em razão da grande ira, ela começou a lutar pela existência e tentou erguer um dos capelos para matar o Senhor. O Senhor imediatamente capturou aquele capelo e o dominou, chutando-o e dançando sobre ele. De fato, parecia que a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, estava sendo adorado; os venenos que saíam da boca da serpente pareciam oferendas de flores. Kāliya, então, começou a vomitar sangue em lugar de veneno; estava completamente exausta. Seu corpo todo parecia estar quebrado pelos chutes do Senhor. Em sua mente, porém, ela começou a compreender que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus e começou a render-se a Ele. Ela entendeu que Kṛṣṇa é o Senhor Supremo, o dono de tudo.

As esposas da serpente, chamadas nāgapatnīs, viram que seu marido estava sendo subjugado pelos chutes do Senhor, dentro de cujo ventre todo o universo repousa. As esposas de Kāliya se prepararam para adorar o Senhor, embora, em sua pressa, seus vestidos, cabelo e adornos tenham ficado em desalinho. Elas também se renderam ao Senhor Supremo e começaram a orar. Apresentando-se diante dEle, puseram seus filhos na frente e, ansiosas, ofereceram respeitosas reverências, prostrando-se nas margens do Yamunā. As nāgapatnīs sabiam que Kṛṣṇa é o abrigo de todas as almas rendidas, e queriam livrar seu marido do perigo iminente satisfazendo o Senhor através de suas orações.

As nāgapatnīs começaram a oferecer suas orações: “Ó querido Senhor, Você é equânime para com todos. Para Você, não há distinção entre Seus filhos, amigos ou inimigos. Por isso, o castigo que Você tão bondosamente ofereceu a Kāliya é bastante adequado. Ó Senhor, Você veio especialmente com o objetivo de aniquilar todas as espécies de elementos perturbadores dentro do mundo, e, por ser a Verdade Absoluta, não há diferença entre Sua misericórdia e Seu castigo. Achamos, portanto, que este aparente castigo de Kāliya é, de fato, uma grande bênção. Consideramos que Seu castigo é Sua grande misericórdia para conosco, porque, quando Você castiga alguém, deve-se entender que as reações pecaminosas dele são erradicadas. Já está claro que esta criatura que apareceu neste corpo de serpente deve carregar consigo todo tipo de pecado; senão, como poderia ter o corpo de uma serpente? Sua dança sobre os capelos dela reduz todos os resultados pecaminosos das ações causadas pelo fato de ela ter este corpo de serpente. É, portanto, muito auspicioso que Você tenha Se irado e tenha punido nosso esposo dessa maneira. Ficamos espantadas de ver como Você ficou tão satisfeito com esta serpente, que evidentemente executou várias atividades religiosas em suas vidas passadas, satisfazendo a todos. Ela deve ter-se submetido a todo tipo de penitências e austeridades, honrado humildemente certas pessoas e deve ter executado atividades para o bem-estar universal de todas as criaturas vivas”.

As nāgapatnīs confirmam que ninguém pode entrar em contato com Kṛṣṇa sem ter executado atividades piedosas em serviço devocional em suas vidas anteriores. Como o Senhor Caitanya aconselhou em Seu Śikṣāṣṭaka, devemos executar serviço devocional cantando com humildade o mantra Hare Kṛṣṇa, considerando-nos mais baixos que a palha na rua e não esperando honra pessoal, mas oferecendo toda sorte de honra aos outros. As nāgapatnīs ficaram espantadas com o fato de que, muito embora Kāliya tivesse o corpo de uma serpente como resultado de atividades pecaminosas graves, ela estava em contato com o Senhor a ponto de ter os pés de lótus do Senhor tocando em seus capelos. Decerto este não era o resultado comum de atividades piedosas. Esses dois fatos contraditórios as espantaram. Assim, elas continuaram a rezar: “Ó querido Senhor, estamos simplesmente atônitas de ver que esta serpente é tão afortunada que tem a poeira de Seus pés de lótus sobre sua cabeça. Essa é uma fortuna procurada por grandes pessoas santas. Até mesmo a deusa da fortuna se submeteu a severas austeridades com o único propósito de ter a poeira de Seus pés de lótus, então, como é que Kāliya está conseguindo com tanta facilidade essa poeira em sua cabeça? Ouvimos de fontes autorizadas que aqueles que são abençoados com a poeira de Seus pés de lótus não se interessam nem pelo posto mais alto neste universo, ou seja, o posto do senhor Brahmā, nem pela realeza nos planetas celestiais, nem pela soberania deste planeta. Nem desejam essas pessoas governar os planetas acima desta Terra, tais como Siddhaloka, nem aspiram aos poderes místicos conseguidos pelo processo de yoga, tampouco desejam a libertação de se tornarem unos com Você. Meu Senhor, embora tenha nascido em uma espécie de vida que é nutrida pelos mais abomináveis modos da natureza material, acompanhados pela qualidade da ira, este rei das serpentes realizou algo muitíssimo raro. As entidades vivas que vagam por este universo e obtêm diferentes espécies de vida podem com muita facilidade conseguir a maior das bênções somente por Sua misericórdia”.

Também se confirma no Caitanya-caritāmṛta que as entidades vivas estão vagando pelo universo em várias espécies de vida, mas que, pela misericórdia de Kṛṣṇa e do mestre espiritual, elas podem obter a semente da devoção e, assim, abrirem seu caminho para a libertação.

“Nós, portanto, oferecemos nossas respeitosas reverências a Você”, continuaram as nāgapatnīs, “nosso querido Senhor, porque Você é a Pessoa Suprema, que vive como a Superalma dentro de toda entidade viva; embora seja transcendental à manifestação cósmica, tudo repousa em Você. O tempo eterno, incansável e personificado é Você. Toda a força do tempo existe em Você, que é o vidente e a encarnação do tempo total na forma de passado, presente e futuro, mês, dia, hora, momento – tudo. Em outras palavras, ó Senhor, Você pode ver com perfeição todas as atividades que acontecem a cada momento, a cada hora, a cada dia, a cada mês, a cada ano, no passado, no presente e no futuro. Você é a forma universal e, mesmo assim, é diferente deste universo. Ao mesmo tempo idêntico ao Universo e diferente dele. Nós Lhe oferecemos, portanto, nossas respeitosas reverências.”

“Você mesmo é todo o universo, e, ainda assim, o criador de todo o universo. É o superintendente e mantenedor deste universo inteiro, e sua causa original. Embora esteja presente dentro deste universo por meio de Suas três encarnações qualitativas, Brahmā, Viṣṇu e Maheśvara, Você é transcendental à criação material. Embora seja a causa do aparecimento de todas as espécies de entidades vivas – seus sentidos, suas vidas, suas mentes, suas inteligências – Você deve ser compreendido por meio de Sua energia interna. Ofereçamos, pois, nossas respeitosas reverências a Você, que é ilimitado, mais sutil que o mais sutil, o centro de toda a criação e o conhecedor de tudo.”

“Diferentes variedades de especuladores filosóficos tentam alcançá-lO. Você é a meta final de todos os esforços filosóficos, e é aquele que de fato é descrito por todas as filosofias e por diferentes espécies de doutrinas. Ofereçamos-Lhe nossas respeitosas reverências, porque Você é a origem de toda escritura e a fonte do conhecimento. É a raiz de todas as evidências, e é a Pessoa Suprema que pode nos conceder o conhecimento supremo. Você é a causa de todas as espécies de desejos, e é a causa de todas as espécies de satisfação. Você é a personificação dos Vedas. Por isso, oferecemos-Lhe nossas respeitosas reverências.”

“Nosso querido Senhor, Você é a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, e é também o desfrutador supremo que agora aparece como o filho de Vasudeva, que é uma manifestação do puro estado de bondade. Você é a Deidade predominante da mente e da inteligência, Pradyumna e Aniruddha, e é o Senhor de todos os vaiṣṇavas. Por Sua expansão como o catur-vyūha – ou seja, Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Aniruddha e Pradyumna –, Você é a causa do desenvolvimento da mente e da inteligência. Só por Suas atividades é que as entidades vivas ficam encobertas pelo esquecimento ou descobrem sua verdadeira identidade. Isso também se confirma no capítulo quinze do Bhagavad-gītā, onde se diz que o Senhor está sentado como a Superalma no coração de todos, e, por causa de Sua presença, a entidade viva ou se esquece de si ou revive sua identidade original. Podemos compreender, em parte, que Você está dentro de nossos corações como a testemunha de todas as nossas atividades, mas é muito difícil apreciar Sua presença, embora cada uma de nós possa fazer isso até certo ponto. Você é o controlador supremo das energias materiais e espirituais; portanto, Você é o líder supremo, embora seja diferente desta manifestação cósmica. Você é a testemunha e o criador e o próprio ingrediente desta manifestação cósmica. Nós, por isso, oferecemos nossas respeitosas reverências a Você.

Nosso querido Senhor, no que se refere à criação desta manifestação cósmica, Você, pessoalmente, nada tem a executar; pela expansão de Suas diferentes espécies de energia – a saber, o modo da bondade, o modo da paixão e o modo da ignorância –, Você pode criar, manter e aniquilar esta manifestação cósmica. Como o controlador de toda a força do tempo, Você pode simplesmente olhar para a energia material, criar este universo e energizar todas as diferentes forças da natureza material, que agem diferentemente em diferentes criaturas. Ninguém pode avaliar, portanto, como Suas atividades ocorrem neste mundo.

Nosso querido Kṛṣṇa, embora Você tenha Se expandido nas três principais deidades deste universo – o senhor Brahmā, o Senhor Viṣṇu e o senhor Śiva – para a criação, manutenção e destruição, Seu aparecimento como o Senhor Viṣṇu é de fato para abençoar as criaturas vivas. Por isso, recomenda-se àqueles que são de fato pacíficos e que aspiram à paz suprema, a adoração à Sua forma pacífica como o Senhor Viṣṇu.”

“Ó Senhor, apresentamos-Lhe nossas preces. Você pode entender que esta pobre serpente vai abandonar sua vida. Sabe que, para nós mulheres, nossas vidas e tudo o que temos são de nossos maridos; por isso, pedimos-Lhe que, por favor, perdoe Kāliya, nosso marido, porque, se esta serpente morrer, ficaremos em grande dificuldade. Olhando somente para nós, por favor, perdoe este grande ofensor. Nosso querido Senhor, toda criatura viva é Seu filho, e Você mantém a todos. Esta serpente é também Seu filho, e Você pode perdoá-la embora ela O tenha ofendido por desconhecer Seu poder. Estamos orando para que ela possa ser perdoada desta vez. Nosso querido Senhor, estamos Lhe oferecendo nosso serviço amoroso porque somos todas servas eternas de Sua onipotência. Pode nos ordenar e pedir-nos para fazer qualquer coisa que queira. Todo ser vivo pode ser aliviado de todas as espécies de desespero se concordar em obedecer a Suas ordens”.

Depois que as nāgapatnīs apresentaram suas preces, o Senhor Kṛṣṇa libertou Kāliya de seu castigo. Kāliya já estava inconsciente por causa dos golpes do Senhor. Depois de recuperar a consciência e de se livrar de seu castigo, Kāliya recuperou sua força vital e a capacidade de funcionamento de seus sentidos. De mãos postas, começou a orar humildemente ao Supremo Senhor Kṛṣṇa: “Meu querido Senhor, nasci em uma espécie tal que, por natureza, sou irado e invejoso, estando na região mais escura do modo da ignorância. Bem sabe Sua Onipotência que é muito difícil abandonar o próprio instinto natural, embora, por causa de tais instintos, a criatura viva transmigre de um corpo para outro”. Também se confirma no Bhagavad-gītā que é muito difícil sair das garras da natureza material, mas, se alguém se rende à Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, os modos da natureza material não podem mais agir sobre ele. “Meu querido Senhor”, Kāliya continuou, “Você é, portanto, o criador original dos modos da natureza material, pelos quais o universo é criado. É a causa das diferentes espécies de mentalidade que as criaturas vivas possuem, pelas quais elas obtiveram diferentes espécies de corpos. Meu querido Senhor, nasci como serpente, em consequência do que, por instinto natural, sou muito irado. Então, como será possível, sem a Sua misericórdia, abandonar a natureza que adquiri? É muito difícil sair das garras de Sua māyā. Por Sua māyā, continuamos escravizados. Meu querido Senhor, por favor, perdoe-me por minhas tendências materiais inevitáveis. Agora, pode punir-me ou salvar-me, conforme deseje”.

Depois de ouvir isso, a Suprema Personalidade de Deus, que estava agindo como uma pequena criança humana, ordenou assim à serpente: “Você deve deixar este lugar imediatamente e ir para o oceano. Saia sem demora. Pode levar consigo todos os seus filhos, esposas e tudo o que possui. Não polua as águas do Yamunā. Deixe que ela seja bebida pelas Minhas vacas e vaqueirinhos sem obstáculo algum”. Então, o Senhor declarou que a ordem que Ele dera a Kāliya fosse recitada e ouvida por todos de modo que ninguém mais precisasse temer Kāliya.

Quem quer que ouça a narração da serpente Kāliya e seu castigo não precisa mais temer as atividades invejosas das serpentes. O Senhor também declarou: “Se alguém tomar banho no lago Kāliya, onde Meus amigos vaqueirinhos e Eu nos banhamos, ou se alguém, jejuando por um dia, oferecer oblações aos antepassados da água deste lago, será libertado de todas as espécies de reações pecaminosas”. O Senhor também garantiu a Kāliya: “Você veio para cá por medo de Garuḍa, que queria comê-lo na bela terra às margens do oceano. Agora, depois de ver as marcas onde toquei sua cabeça com Meus pés de lótus, Garuḍa não lhe perturbará mais”.

O Senhor estava satisfeito com Kāliya e suas esposas. Imediatamente depois de ouvir Suas ordens, as esposas começaram a adorá-lO com grandes oferendas de belas roupas, flores, guirlandas, joias, ornamentos, polpa de sândalo, flores de lótus e belas frutas comestíveis. Dessa maneira, satisfizeram o senhor de Garuḍa, de quem tinham muito medo. Então, obedecendo à ordem do Senhor Kṛṣṇa, todos deixaram o lago que ficava no Yamunā.

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do capítulo dezesseis de Kṛṣṇa, intitulado “Submissão de Kāliya”.

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