Capítulo 59
A Libertação do Demônio Bhaumāsura
A história de Bhaumāsura – de como ele raptou e fez cativas dezesseis mil princesas arrebatando-as dos palácios de vários reis e como ele foi morto por Kṛṣṇa, o Senhor Supremo de caráter maravilhoso – é toda descrita por Śukadeva Gosvāmī ao rei Parīkṣit no Śrīmad-Bhāgavatam. De um modo geral, os demônios sempre estão contra os semideuses. Este demônio, Bhaumāsura, tendo se tornado muito poderoso, tomou à força a sombrinha do trono do semideus Varuṇa. Ele também tomou os brincos de Aditi, a mãe dos semideuses. Ele conquistou uma porção do monte celestial Meru e ocupou a região conhecida como Maṇi-parvata. O rei dos planetas celestiais, Indra, veio, então, a Dvārakā para se queixar de Bhaumāsura diante do Senhor Kṛṣṇa.
Ouvindo essa reclamação por parte do rei dos céus, Indra, o Senhor Kṛṣṇa, acompanhado por Sua esposa Satyabhāmā, partiu imediatamente para a morada de Bhaumāsura. Os dois montaram na parte traseira de Garuḍa, que os transportou para Pragjyotiṣa-pura, a cidade capital de Bhaumāsura. Entrar na cidade de Pragjyotiṣa-pura não era uma tarefa muito fácil, porque ela era muito bem fortificada. Em primeiro lugar, havia quatro fortalezas guardando as quatro direções da cidade, a qual era bem protegida em todos os lados por uma formidável força militar. O próximo obstáculo era um canal de água ao redor da cidade, e, além disso, a cidade inteira fora cercada por fios eletrificados. A fortificação seguinte era de anila, uma substância gasosa. Ademais, havia uma rede de arame farpado construída por um demônio de nome Mura. A cidade parecia bem protegida, até mesmo em termos dos avanços científicos de hoje.
Quando Kṛṣṇa chegou, Ele destroçou todas as fortalezas com golpes de Sua maça e dispersou a força militar para todos os lados com o ataque constante de Suas flechas. Com Seu célebre cakra Sudarśana, Ele destruiu a cerca eletrificada, desativou o canal de água e a barreira gasosa, e cortou em pedaços a cadeia eletrificada fabricada pelo demônio Mura. Pela vibração de Seu búzio, Ele despedaçou os corações dos grandes lutadores, bem como as máquinas de guerra que estavam por lá. De igual modo, Ele quebrou as paredes ao redor da cidade com Sua maça invencível.
A vibração do búzio do Senhor Kṛṣṇa soou como um trovão na hora da dissolução da manifestação cósmica inteira. O demônio Mura ouviu a vibração do búzio, despertou do seu sono e saiu para ver o que acontecera. Ele tinha cinco cabeças e estivera vivendo por muito tempo dentro d’água. O demônio Mura era tão brilhante quanto o Sol na hora da dissolução do cosmo, e seu temperamento era como o fogo ardente. A refulgência do seu corpo era tão deslumbrante que era difícil vê-lo com os olhos abertos. Quando saiu, ele primeiro tirou seu tridente e arremeteu-se contra a Suprema Personalidade de Deus. O demônio Mura, em seu ataque, era como uma grande serpente atacando Garuḍa. Seu humor feroz era muito severo, e ele parecia pronto para devorar os três mundos. Em primeiro lugar, ele atacou o transportador de Kṛṣṇa, Garuḍa, girando e depois arremessando seu tridente e, pelas suas cinco bocas, vibrou sons semelhantes ao rugido de um leão. Essas vibrações se espalharam por toda a atmosfera, até que alcançaram o mundo inteiro e o espaço exterior, em cima e embaixo, e nas dez direções, estrondeando por todo o universo.
O Senhor Kṛṣṇa viu que o tridente do demônio Mura dirigia-se rapidamente para Garuḍa, que O transportava. Imediatamente, por um truque da Sua mão, Ele pegou duas flechas e as atirou contra o tridente, cortando-o em pedaços. Simultaneamente, usando muitas flechas, Ele perfurou as bocas do demônio Mura. Quando o demônio Mura se viu frustrado em seus planos pela Suprema Personalidade de Deus, ele começou a golpear o Senhor com grande ira com sua maça. Porém, o Senhor Kṛṣṇa, com Sua própria maça, quebrou a maça de Mura em pedaços antes que ela pudesse alcançá-lO. O demônio, desprovido de suas armas, decidiu atacar Kṛṣṇa com seus braços fortes. No entanto, Kṛṣṇa, com a ajuda de Seu cakra Sudarśana, imediatamente separou as cinco cabeças do corpo do demônio, que caiu na água da mesma maneira que o pico de uma montanha cai no oceano depois de ser atingido pelo raio de Indra.
Esse demônio Mura tinha sete filhos, chamados Tāmra, Antarikṣa, Śravaṇa, Vibhāvasu, Vasu, Nabhasvān e Aruṇa. Todos eles ficaram envaidecidos e vingativos por causa da morte de seu pai e, para retaliar, se prepararam, com imensa ira, para lutar com Kṛṣṇa. Eles se equiparam com as armas necessárias e colocaram Pīṭha, outro demônio, para agir como o comandante no campo de batalha. Pela ordem de Bhaumāsura, todos eles atacaram Kṛṣṇa conjuntamente.
Quando se defrontaram com o Senhor Kṛṣṇa, eles começaram a alvejá-lO com diversos tipos de armas, como espadas, maças, lanças, flechas e tridentes. Contudo, eles não sabiam que a força da Suprema Personalidade de Deus é ilimitada e invencível. Kṛṣṇa, com Suas flechas, cortou todas as armas dos homens de Bhaumāsura em pedaços, como grãos. Em seguida, Kṛṣṇa atirou Suas armas, e o comandante-em-chefe de Bhaumāsura, Pīṭha, bem como Seus assistentes, caíram no chão com suas armaduras militares despedaçadas, e com suas cabeças, pernas, braços e coxas cortados. Todos eles foram enviados ao superintendente da morte, Yamarāja.
Bhaumāsura, o qual também era conhecido como Narakāsura, era o filho da Terra personificada. Quando ele viu que todos os seus soldados, comandantes e guerreiros tinham sido mortos no campo de batalha pelos golpes das armas da Personalidade de Deus, ele ficou imensamente irado com o Senhor. Então, ele saiu da cidade com um grande número de elefantes que haviam todos nascido e sido criados na região litorânea. Todos eles estavam altamente enlouquecidos. Quando saíram, eles viram que o Senhor Kṛṣṇa e Sua esposa estavam belamente situados no espaço exterior, exatamente como uma nuvem enegrecida sobre o Sol, reluzindo com a luz da eletricidade. O demônio Bhaumāsura, de imediato, lançou uma arma chamada Śataghnī, pela qual ele poderia matar centenas de guerreiros com um golpe, e todos os seus assistentes lançaram simultaneamente suas respectivas armas contra a Suprema Personalidade de Deus. O Senhor Kṛṣṇa enfrentou todas essas armas lançando Suas flechas emplumadas. O resultado dessa luta foi que todos os soldados e comandantes de Bhaumāsura caíram ao solo com seus braços, pernas e cabeças separados dos troncos, e todos os seus cavalos e elefantes também caíram com eles. Desse modo, todas as armas lançadas por Bhaumāsura foram cortadas em pedaços pelas flechas do Senhor.
O Senhor estava lutando nas costas de Garuḍa, o qual estava ajudando o Senhor golpeando os cavalos e elefantes com suas asas e arranhando as cabeças deles com suas unhas afiadas e bico pontiagudo. Os elefantes, sentindo muita dor pelo ataque de Garuḍa contra eles, dispersaram-se do campo de batalha. Bhaumāsura permaneceu sozinho no campo de batalha e se ocupou em lutar contra Kṛṣṇa. Ele viu que Garuḍa, que transportava Kṛṣṇa, tinha causado grande perturbação aos seus soldados e elefantes e, com grande ira, golpeou Garuḍa com toda a sua força, que desafiava até a força de um raio. Afortunadamente, Garuḍa não era um pássaro comum, em razão do que sentiu os golpes desfechados por Bhaumāsura da mesma maneira que um grande elefante sente o impacto de uma guirlanda de flores.
Desta forma, Bhaumāsura entendeu que nenhum dos seus truques surtiria efeito contra Kṛṣṇa, e ele se deu conta de que todas as suas tentativas para matar Kṛṣṇa seriam frustradas. Entretanto, ele tentou, pela última vez, tomando de um tridente em sua mão para golpeá-lO. Kṛṣṇa era tão hábil que, antes que Bhaumāsura pudesse lançar seu tridente, a cabeça dele foi decepada pelo afiado cakra Sudarśana. A cabeça dele, iluminada por brincos e um elmo, caiu no campo de batalha. Na ocasião em que Bhaumāsura foi exterminado pelo Senhor Kṛṣṇa, os parentes de todos os demônios gritaram em decepção, e as pessoas santas glorificaram as atividades guerreiras do Senhor. Aproveitando essa oportunidade, os cidadãos dos planetas celestiais derramaram flores sobre o Senhor.
Nesse momento, a Terra personificada apareceu diante do Senhor Kṛṣṇa e O saudou com uma guirlanda de flores vaijayantī. Então, ela devolveu os refulgentes brincos de Aditi, ornados com joias e ouro. Ela também devolveu o guarda-chuva de Varuna, junto com uma valiosa joia que ela dera de presente a Kṛṣṇa. Depois disso, a Terra personificada ofereceu suas orações a Kṛṣṇa, a Personalidade Suprema e mestre do mundo, que sempre é adorado pelos semideuses elevados. Ela prostrou-se em reverência e, em grande êxtase devocional, começou a falar.
“Deixe-me oferecer minhas respeitosas reverências ao Senhor que sempre está presente com quatro símbolos – a saber, Seu búzio, disco, lótus e maça – e que é o Senhor de todos os semideuses. Por favor, aceite minhas respeitosas reverências. Meu querido Senhor, Você é a Superalma e, para satisfazer as aspirações de Seus devotos, Você desce à Terra em Suas várias encarnações transcendentais, que são apropriadas ao desejo de adoração dos devotos. Por obséquio, aceite minhas respeitosas reverências”.
“Meu querido Senhor, a flor de lótus cresce de Seu umbigo, e Você sempre está decorado com uma guirlanda de flores de lótus. Seus olhos estão sempre abertos como as pétalas da flor de lótus e, assim, são todo-atrativos aos olhos dos outros. Seus suaves e delicados pés de lótus são sempre adorados por Seus devotos puros, e esses pés de lótus pacificam os corações de lótus deles. Destarte, ofereço-Lhe minhas reiteradas e respeitosas reverências”.
“Você possui toda beleza, força, fama, propriedade, conhecimento e renúncia, sendo o abrigo de todas as seis opulências. Embora seja onipenetrante, Você apareceu como o filho de Vasudeva. Então, por favor, aceite minhas respeitosas reverências. Você é a original Suprema Personalidade de Deus e a causa suprema de todas as causas. Somente Sua Onipotência é o reservatório de todo o conhecimento. Deixe-me oferecer-Lhe minhas respeitosas reverências. Pessoalmente, Você é não-nascido; todavia, Você é o pai da manifestação cósmica inteira, sendo o reservatório e o abrigo de todos os tipos de energias. O aparecimento manifestado deste mundo é causado por Você, que é tanto a causa quanto o efeito desta manifestação cósmica. Por favor, então, aceite minhas respeitosas reverências”.
“Meu querido Senhor, quanto aos três deuses Brahmā, Viṣṇu e Śiva, eles não são independentes de Você. Quando há necessidade de criar esta manifestação cósmica, Você cria o Seu aparecimento no modo da paixão como Brahmā e, quando deseja manter esta manifestação cósmica, Você Se expande como o Senhor Viṣṇu, o reservatório de toda a bondade. De igual modo, Você aparece como o senhor Śiva, mestre do modo da ignorância, e assim dissolve a criação inteira. Você sempre mantém Sua posição transcendental apesar de criar esses três modos da natureza material. Você jamais Se enreda nesses modos da natureza, como acontece com as entidades vivas ordinárias”.
“Na verdade, meu Senhor, Você é a natureza material, o pai do universo e o tempo eterno que causou a combinação dos elementos da natureza e a manifestação da criação material. Não obstante, Você é sempre transcendental a todas essas atividades materiais. Meu querido Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus, eu sei que terra, água, fogo, ar, céu, os cinco objetos dos sentidos, a mente, os sentidos e suas deidades, o egotismo e a energia material total – todas as coisas animadas e inanimadas neste mundo fenomenal – repousam em Você. Visto que tudo é produzido por Você, nada pode Lhe estar separado. Apesar disso, devido à Sua posição transcendental, nada material pode ser identificado com Sua personalidade. Portanto, tudo é simultaneamente uno conSigo e diferente de Você, e os filósofos que tentam separar tudo de Você estão certamente enganados em seus pontos de vista”.
“Meu querido Senhor, deixe-me informar-Lhe que este garoto, cujo nome é Bhagadatta, é o filho de meu filho Bhaumāsura. Ele ficou deveras afetado pela horrível situação criada pela morte do pai dele e ficou muito confuso e amedrontado. Portanto, eu o trouxe para que ele se renda aos Seus pés de lótus. Imploro a Sua Onipotência que conceda abrigo a este garoto e o abençoe com Seus pés de lótus. Eu o trago até Você de forma que ele possa ser aliviado das reações de todas as atividades pecaminosas do pai dele”.
Quando o Senhor Kṛṣṇa ouviu as orações da mãe Terra, Ele imediatamente assegurou-lhe proteção contra todas as situações amedrontadoras. Ele disse a Bhagadatta: “Não tenha medo algum”. Logo após, Ele entrou no palácio de Bhaumāsura, o qual tinha toda sorte de opulências. No palácio de Bhaumāsura, o Senhor Kṛṣṇa viu 16 mil e 100 jovens princesas que tinham sido raptadas e eram mantidas cativas ali. Quando as princesas viram a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, entrar no palácio, elas ficaram imediatamente atraídas pela beleza do Senhor e oraram pela Sua misericórdia sem causa. Dentro de suas mentes, elas decidiram, sem vacilação, aceitar o Senhor Kṛṣṇa como seu marido. Cada uma delas orou à Providência para que Kṛṣṇa pudesse Se tornar seu esposo. Sincera e seriamente, elas ofereceram seus corações aos pés de lótus de Kṛṣṇa com uma atitude de pura devoção. Como a Superalma no coração de todos, Kṛṣṇa pôde entender seu desejo impoluto e concordou em as aceitar como Suas esposas. Assim, Ele arranjou roupas e ornamentos adequados para elas, e, cada uma delas, sentada em seu palanquim, foi encaminhada para a cidade de Dvārakā. Kṛṣṇa também coletou a riqueza ilimitada do palácio – um tesouro de carruagens, cavalos, joias e assim por diante. Ele Se apossou de 50 elefantes brancos do palácio, cada um com quatro presas de marfim, e todos eles foram despachados para Dvārakā.
Depois desse incidente, o Senhor Kṛṣṇa e Satyabhāmā foram a Amarāvatī, a cidade capital dos planetas celestiais. Eles imediatamente entraram no palácio do rei Indra, e sua esposa, Sacidevī, deu-lhes boas-vindas. Então, Kṛṣṇa presenteou Indra com os brincos de Aditi.
Quando Kṛṣṇa e Satyabhāmā estavam voltando da cidade capital de Indra, Satyabhāmā se lembrou da promessa de Kṛṣṇa de lhe dar uma árvore pārijāta. Aproveitando a oportunidade de ter ido até o reino celestial, ela desarraigou uma árvore pārijāta e colocou-a nas costas de Garuḍa. Certa vez, Nārada levou uma flor pārijāta e a deu de presente à esposa principal de Kṛṣṇa, Śrī Rukmiṇīdevī. Por causa disso, Satyabhāmā desenvolvera um complexo de inferioridade; ela também queria que Kṛṣṇa lhe desse uma de tais flores. Kṛṣṇa entendeu a natureza feminina competitiva das Suas coesposas e sorriu. Ele perguntou a Satyabhāmā: “Por que está pedindo apenas uma flor? Eu gostaria de lhe dar uma árvore inteira de flores pārijāta”.
Na verdade, Kṛṣṇa tinha levado Sua esposa Satyabhāmā de propósito, de forma que ela pudesse colher a pārijāta com suas próprias mãos. Todavia, os cidadãos dos planetas celestiais, inclusive Indra, ficaram muito irritados. Sem permissão, Satyabhāmā arrancara uma árvore pārijāta, que não é encontrada no planeta Terra. Indra, junto de outros semideuses, se opuseram a Kṛṣṇa e a Satyabhāmā por tomarem a árvore. No entanto, para agradar Sua esposa favorita, Satyabhāmā, Kṛṣṇa foi determinado e inflexível, e assim houve um combate entre os semideuses e Kṛṣṇa. Como sempre, Kṛṣṇa saiu vitorioso, e Ele, triunfalmente, levou a árvore pārijāta escolhida por Sua esposa para este planeta Terra, para Dvārakā. Depois disso, a árvore foi instalada no jardim do palácio de Satyabhāmā. Por causa dessa árvore extraordinária, o jardim da casa de Satyabhāmā ficou extraordinariamente belo. Como a árvore pārijāta desceu ao planeta terrestre, a fragrância das flores também veio, e os zangões celestiais migraram para esta Terra à procura de sua fragrância e mel.
O comportamento do rei Indra para com Kṛṣṇa não foi muito apreciado pelos grandes sábios, como Śukadeva Gosvāmī. Devido à Sua misericórdia sem causa, Kṛṣṇa fora ao reino celestial, Amarāvatī, para presentear o rei Indra com os brincos da mãe dele, os quais tinham sido tomados por Bhaumāsura, e Indra ficara muito alegre em os receber. No entanto, quando uma árvore pārijāta do reino divino foi levada por Kṛṣṇa, Indra ofereceu-se para lutar com Ele. Isso era egoísmo da parte de Indra. Ele ofereceu sua oração e tocou sua cabeça nos pé de lótus de Kṛṣṇa, porém, assim que seu propósito foi servido, ele se tornou uma criatura diferente. Esse é o modo dos procedimentos dos homens materialistas, que estão sempre interessados em seu próprio lucro. Para esse propósito, eles podem oferecer qualquer tipo de respeito a qualquer um, mas, quando o interesse pessoal termina, eles não são mais amigos. Essa natureza egoísta não se encontra apenas entre a classe mais rica de homens neste planeta, mas também em personalidades como Indra e outros semideuses. Muita riqueza torna um homem egoísta. Um homem egoísta não está preparado para assumir a consciência de Kṛṣṇa e é condenado por grandes devotos, como Śukadeva Gosvāmī. Em outras palavras, a posse de muitas riquezas mundanas é uma desqualificação para o avanço em consciência de Kṛṣṇa.
Depois de derrotar Indra, Kṛṣṇa fez arranjos para casar-Se com as 16 mil e 100 mocinhas que trouxera da custódia de Bhaumāsura. Expandindo-Se em 16 mil e 100 formas, Ele as desposou simultaneamente em palácios diferentes no mesmo momento auspicioso. Ele, assim, estabeleceu a verdade de que Kṛṣṇa, e ninguém mais, é a Suprema Personalidade de Deus. Não há nada impossível para Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus; Ele é todo-poderoso, onipresente e imperecível, e, como tal, não há nada de maravilhoso neste passatempo. Todos os palácios das mais de 16 mil rainhas de Kṛṣṇa eram completos, com jardins, mobiliário e outras coisas, e eram sem qualquer paralelo neste mundo. Não há qualquer exagero nesta história do Śrīmad-Bhāgavatam. As rainhas de Kṛṣṇa eram todas expansões da deusa da fortuna, Lakṣmījī. Kṛṣṇa morou com elas em diferentes palácios, e Ele as tratou exatamente do mesmo modo que um homem comum trataria sua esposa.
Sempre deveríamos nos lembrar de que a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, estava agindo exatamente como um ser humano, apesar de Ele ter mostrado Suas extraordinárias opulências casando-Se com mais de 16 mil esposas simultaneamente em mais de 16 mil palácios. Ele Se comportou com elas exatamente como um homem comum, e Ele seguiu estritamente a relação entre esposo e esposa requerida nos lares comuns. Então, é muito difícil entender as características do Brahman Supremo, a Personalidade de Deus. Até mesmo semideuses como Brahmā não conseguem sondar os passatempos transcendentais do Senhor. As esposas de Kṛṣṇa eram tão afortunadas que elas adquiriram a Suprema Personalidade de Deus como seu marido, embora a personalidade do marido delas fosse desconhecida até mesmo por Brahmā e os outros semideuses.
Nas suas relações como marido e esposa, Kṛṣṇa e Suas rainhas sorriam, falavam, brincavam, abraçavam-se e assim por diante, e sua relação conjugal desenvolvia-se cada vez mais. Desse modo, Kṛṣṇa e as rainhas desfrutavam de felicidade transcendental na vida doméstica. Embora toda e cada rainha tivesse milhares de criadas empenhadas no serviço a elas, as rainhas eram pessoalmente atentas no serviço a Kṛṣṇa. Cada uma delas costumava receber Kṛṣṇa pessoalmente quando Ele entrava no palácio. Elas se ocupavam em sentá-lO em um sofá agradável, adorando-O com todos os tipos de parafernália, lavando Seus pés de lótus com água do Ganges, oferecendo-Lhe nozes de bétel e massageando Suas pernas. Assim, elas Lhe davam alívio da fadiga que Ele sentia depois de estar longe de casa. Elas O abanavam, ofereciam-Lhe essência de óleo floral fragrante, decoravam-nO com guirlandas de flores, arrumavam Seu cabelo, pediam-Lhe para que Se deitasse para descansar, banhavam-nO pessoalmente e preparavam pratos saborosos para Ele. Cada rainha fazia todas essas coisas sozinha, sem contar com a ajuda das criadas. Em outras palavras, Kṛṣṇa e Suas variadas rainhas exibiram nesta Terra uma vida doméstica ideal.
Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do capítulo cinquenta e nove de Kṛṣṇa, intitulado “A Libertação do Demônio Bhaumāsura”.