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Capítulo 68

O Casamento de Sāmba

Duryodhana, o filho de Dhṛtarāṣṭra, tinha uma filha em idade de se casar chamada Lakṣmanā. Ela era uma moça altamente qualificada da dinastia dos Kurus, e muitos príncipes desejavam desposá-la. Em tais casos, a cerimônia de svayaṁvara é realizada de forma que a donzela possa selecionar seu marido segundo sua própria escolha. Sāmba apareceu na assembleia de svayaṁvara de Lakṣmanā no momento em que a mocinha estava para escolher o seu marido. Ele era filho de Kṛṣṇa com Jāmbavatī, uma das esposas principais do Senhor Kṛṣṇa. Esse filho Sāmba recebera esse nome porque ele era uma criança muito querida e vivia sempre perto de sua mãe. O nome Sāmba indica um filho que é o favorito da mãe. Ambā quer dizer “mãe”, e sa significa “com”. Assim, ele recebeu esse nome especial porque sempre permanecia com a mãe. Ele também era conhecido como Jāmbavatī-suta pela mesma razão. Como previamente explicado, todos os filhos de Kṛṣṇa eram tão qualificados quanto o grande pai. Sāmba desejava a filha de Duryodhana, Lakṣmanā, embora ela não estivesse inclinada a tê-lo como esposo. Então, Sāmba raptou Lakṣmanā à força da assembleia de svayaṁvara.

Porque Sāmba levou Lakṣmanā da assembleia à força, todos os membros da dinastia dos Kurus, como Dhṛtarāṣṭra, Bhīṣma, Vidura e Arjuna, consideraram um insulto à sua tradição familiar que o rapaz, Sāmba, pudesse ter raptado a filha deles. Todos eles sabiam que Lakṣmanā não estava inclinada a escolhê-lo como o seu esposo, e que ela não tivera a oportunidade de selecionar o seu próprio marido; ao invés disso, ela foi levada embora violentamente por aquele rapaz. Dessa forma, eles decidiram que ele deveria ser castigado. Foi declarado por unanimidade que ele era muito descarado e tinha degradado a tradição familiar dos Kurus. Por conseguinte, todos eles, sob a deliberação dos membros mais velhos da família Kuru, decidiram prender o rapaz, sem necessariamente o matar. Eles concluíram que a moça não poderia se casar com outro rapaz que não fosse Sāmba, dado que ela já tinha sido tocada por ele. (Conforme o sistema védico, uma vez tendo sido tocada por algum homem, uma donzela não pode se casar ou ser dada a algum outro homem. Tampouco alguém concordaria em casar-se com uma moça que já tivesse se associado com outro rapaz.) Os membros mais velhos da família, como Bhīṣma, quiseram prendê-lo. Assim, todos os membros da dinastia Kuru, especialmente os grandes guerreiros, uniram-se apenas para lhe ensinar uma lição, e Karṇa foi nomeado o comandante-em-chefe para essa pequena batalha.

Enquanto elaboravam o plano para capturar Sāmba, os Kurus aconselharam-se entre si de que, na apreensão dele, os membros da dinastia Yadu ficariam muito irados com eles. Havia toda a possibilidade dos Yadus aceitarem o desafio e lutarem contra os Kurus. Não obstante, eles também pensaram: “Se eles viessem aqui para lutar conosco, o que poderiam fazer? Os membros da dinastia Yadu não podem se igualar aos membros da dinastia Kuru, pois os reis da dinastia Kuru são os imperadores, ao passo que os reis da dinastia Yadu podem desfrutar a Terra meramente porque nós a concedemos a eles”. Os Kurus pensaram: “Se eles vierem aqui para nos desafiar, porque o filho deles foi preso, nós aceitaremos a briga e lhes ensinaremos uma lição, de forma que, automaticamente, eles serão subjugados sob pressão, assim como os sentidos são conquistados pelo processo de prāṇāyāma do yoga místico”. (No sistema mecânico de yoga místico, os ares dentro do corpo são controlados, e os sentidos são dominados e impedidos de comprometerem-se com qualquer coisa senão a meditação no Senhor Viṣṇu.)

Depois de consultar e receber permissão dos membros mais velhos da dinastia dos Kurus, como Bhīṣma e Dhṛtarāṣṭra, cinco grandes guerreiros – Karṇa, Śala, Bhūri, Yajñaketu e Duryodhana, o pai da menina – que eram todos mahā-rathīs e que eram guiados pelo notável lutador Bhīṣmadeva, tentaram prender o rapaz Sāmba. Há diferentes graus de lutadores, incluindo mahā-rathī, eka-rathī e rathī, classificados de acordo com sua habilidade em lutar. Esses mahā-rathīs poderiam lutar sozinhos com muitos milhares de homens. Todos eles juntaram-se para capturar Sāmba, que também era mahā-rathī, mas que estava só, tendo que lutar com os outros seis mahā-rathīs. Ainda assim, ele não se intimidou quando viu todos os grandes lutadores da dinastia Kuru vindo atrás dele para prendê-lo.

Sozinho, ele virou-se na direção deles e empunhou seu excelente arco, postando-se exatamente como um leão que se levanta inflexível à frente de outros animais. Karṇa, conduzindo o grupo, desafiou Sāmba: “Por que você está fugindo? Fique e nós lhe ensinaremos uma lição!” Quando desafiado por outro kṣatriya a ficar e lutar, um kṣatriya não pode fugir: ele tem de lutar. Então, Sāmba aceitou o desafio e se colocou sozinho diante deles, mas, tão logo assim procedeu, foi inundado por chuvas de flechas atiradas por todos os grandes guerreiros. Um leão nunca tem medo de ser perseguido por muitos lobos e chacais. De modo semelhante, Sāmba, o filho glorioso da dinastia Yadu, dotado de potências inconcebíveis, sendo filho do Senhor Kṛṣṇa, ficou iradíssimo com os guerreiros da dinastia Kuru por usarem impropriamente flechas contra ele. Ele os combateu com grande talento. Em primeiro lugar, ele atingiu cada um dos seis quadrigários com seis flechas separadas. Ele usou outras quatro flechas para matar os cavalos dos quadrigários, quatro em cada quadriga. Então, ele usou uma flecha para matar o quadrigário e uma flecha para Karṇa, e também para outros lutadores célebres. Enquanto Sāmba lutava sozinho tão diligentemente contra os seis grandes guerreiros, eles todos apreciaram a potência inconcebível do rapaz. Até mesmo durante o combate, eles admitiram francamente que esse rapaz Sāmba era maravilhoso. Entretanto, a peleja foi conduzida no espírito kṣatriya. Todos juntos, embora fosse impróprio, obrigaram Sāmba a descer de sua quadriga, agora quebrada em pedaços. Dos seis guerreiros, quatro se encarregaram de matar os quatro cavalos de Sāmba, um deles golpeou o quadrigário e outro conseguiu cortar o fio do arco de Sāmba, de forma que ele já não pudesse lutar contra eles. Desse modo, a duras penas, e depois de um embate severo, eles privaram Sāmba da sua quadriga e puderam prendê-lo. Portanto, os guerreiros da dinastia Kuru aceitaram a grande vitória e levaram de Sāmba a filha deles, Lakṣmanā. Depois disso, eles entraram na cidade de Hastināpura com grande triunfo.

O grande sábio Nārada imediatamente levou a notícia para a dinastia Yadu de que Sāmba tinha sido capturado e contou-lhes toda a história. Os membros da dinastia Yadu ficaram enfurecidos com a prisão de Sāmba e sua realização de maneira tão imprópria, por seis guerreiros. Agora, com a permissão do líder da dinastia Yadu, o rei Ugrasena, eles se prepararam para atacar a capital da dinastia dos Kurus.

Embora o Senhor Balarāma soubesse muito bem que, por uma pequena provocação, as pessoas estão dispostas a lutar umas com as outras na era de Kali, Ele não gostou da ideia de que as duas grandes dinastias, a dinastia Kuru e a dinastia Yadu, lutassem entre si, embora estivessem influenciados por Kali-yuga. “Em vez de lutar com eles”, pensou Ele sabiamente, “deixe-Me ir lá e ver a situação e tentar descobrir se o conflito pode ser resolvido por meio da compreensão mútua”. A ideia de Balarāma era que, se a dinastia Kuru pudesse ser induzida a libertar Sāmba junto com a esposa dele, Lakṣmanā, o confronto poderia ser evitada. Portanto, Ele imediatamente organizou uma quadriga adequada para ir até Hastināpura, acompanhado por sacerdotes e brāhmaṇas instruídos, bem como alguns dos membros mais velhos da dinastia Yadu. Ele estava confiante de que os membros da dinastia de Kuru concordariam com esse matrimônio e evitariam lutar com os Yadus. Enquanto o Senhor Balarāma prosseguia para Hastināpura em Sua quadriga, acompanhado pelos brāhmaṇas e anciões, Ele assemelhava-Se à Lua que brilha no céu claro entre as estrelas cintilantes. Quando o Senhor Balarāma chegou às cercanias da cidade de Hastināpura, Ele não entrou, mas estacionou em um acampamento fora da cidade, em uma pequena casa jardinada. Em seguida, Ele pediu a Uddhava para se reunir com os líderes da dinastia Kuru e perguntar se eles desejavam enfrentar a dinastia Yadu ou fazer um acordo. Uddhava foi encontrar-se com os líderes da dinastia de Kuru e reuniu-se com todos os membros importantes, incluindo Bhīṣmadeva, Dhṛtarāṣṭra, Droṇācārya, Duryodhana e Bāhlika. Depois de oferecer-lhes seus devidos respeitos, ele informou-lhes que o Senhor Balarāma chegara ao jardim fora do portão da cidade.

Os líderes da dinastia Kuru, especialmente Dhṛtarāṣṭra e Duryodhana, alegraram-se porque sabiam muito bem que o Senhor Balarāma era um grande benquerente de sua família. Não houve limites para a sua alegria ao ouvir a notícia, e, assim, eles deram imediatas boas-vindas a Uddhava. A fim de receber o Senhor Balarāma apropriadamente, todos tomaram em suas mãos artigos auspiciosos para a Sua recepção e foram vê-lO fora do portão da cidade. De acordo com suas respectivas posições, eles deram boas-vindas ao Senhor Balarāma, doando-Lhe em caridade belas vacas e arghya (uma mistura de água de ārati e uma variedade de artigos, como mel, manteiga, flores e polpa de sândalo). Como todos conheciam a elevada posição do Senhor Balarāma como a Suprema Personalidade de Deus, eles inclinaram suas cabeças ante o Senhor com grande respeito. Todos eles trocaram palavras de recepção, perguntando-se uns aos outros pelo seu bem-estar. Quando tais formalidades terminaram, o Senhor Balarāma, em uma voz elevada e com muita paciência, submeteu diante deles as seguintes palavras à sua consideração: “Meus queridos amigos, Eu, desta vez, vim como um mensageiro com a ordem do todo-poderoso rei Ugrasena. Então, por favor, ouçam a ordem com atenção e grande cuidado. Sem desperdiçar um único momento, por obséquio, tentem cumprir a ordem. O rei Ugrasena sabe muito bem que vocês, os guerreiros da dinastia Kuru, lutaram impropriamente contra o piedoso Sāmba, que estava sozinho, e que, com grande dificuldade e táticas injustas, vocês o prenderam. Todos nós ouvimos essas notícias, mas não estamos muito preocupados, pois estamos intimamente relacionados. Não penso que deveríamos perturbar nossa boa relação; deveríamos continuar nossa amizade sem qualquer luta desnecessária. Então, por gentileza, libertem Sāmba imediatamente e tragam-no junto com sua esposa, Lakṣmanā, diante de Mim”.

Quando o Senhor Balarāma falou em um tom de comando cheio de afirmação heroica, supremacia e cavalheirismo, os líderes da dinastia de Kuru não apreciaram Suas declarações. Ao contrário, todos eles ficaram agitados e, com grande raiva, disseram: “Ei! Essas palavras são muito surpreendentes, mas bem condizentes com a era de Kali; caso contrário, como poderia Balarāma falar tão injuriosamente? A linguagem e o tom usados por Balarāma são simplesmente abusivos e, devido à influência desta era, parece que os sapatos que servem aos pés querem subir ao topo da cabeça onde fica o elmo. Nós estamos relacionados com a dinastia Yadu através de laços matrimoniais, e, por causa disso, eles receberam a oportunidade de vir conviver, jantar e dormir conosco. Agora, eles estão tirando proveito desses privilégios. Eles não tinham praticamente nenhuma posição antes que nós lhes déssemos uma porção de nosso reino para que regessem e, agora, estão tentando nos comandar. Nós permitimos que a dinastia Yadu fizesse uso das insígnias reais, como o abano de cauda de iaque, o búzio, a sombrinha branca, a coroa, o trono, o assento elevado e o leito real, juntamente com tudo mais que serve à ordem real. Eles não deveriam ter usado tal parafernália real em nossa presença, mas nós não os impedimos devido às nossas relações familiares. Agora, eles têm a audácia de nos apresentar ordens. Bem, chega de tal descaramento! Não podemos permitir-lhes continuar com essa conduta, nem devemos dar permissão para que usem essas insígnias reais. Seria melhor tomarmos todas essas coisas; é impróprio alimentar uma serpente com leite, visto que tais atividades piedosas apenas aumentam o seu veneno. A dinastia Yadu está querendo agora ir contra aqueles que os alimentaram tão bem. A condição de sua prosperidade se deve a nossas dádivas e ao nosso comportamento misericordioso, apesar do que eles são tão descarados que estão tentando nos dar uma ordem. Quão lamentáveis são todas essas atividades! Ninguém no mundo pode desfrutar de algo se os membros da dinastia Kuru, como Bhīṣma, Droṇācārya e Arjuna, não permitam. Exatamente como um cordeiro não pode desfrutar a vida na presença de um leão, não é nem mesmo possível aos semideuses do céu, encabeçados pelo rei Indra, achar prazer na vida sem nosso desejo, o que falar de seres humanos ordinários!” De fato, os membros da dinastia Kuru estavam excessivamente presunçosos em virtude de sua opulência, reino, aristocracia, tradição familiar, grandes guerreiros, membros familiares e vasto império em expansão. Eles nem mesmo observaram as formalidades comuns da sociedade civilizada e, na presença do Senhor Balarāma, proferiram palavras insultantes sobre a dinastia Yadu. Tendo falado desse modo, retornaram à sua cidade de Hastināpura.

Embora o Senhor Balarāma tivesse ouvido pacientemente suas palavras ultrajantes e simplesmente observado seu comportamento incivilizado, estava claro, a partir de Sua aparência, que Ele queimava de raiva e estava pensando em retaliar com grande vingança. Suas características físicas ficaram tão agitadas que era difícil para qualquer um olhar para Ele. Ele riu muito ruidosamente e disse: “É verdade que, se um homem se torna muito prepotente devido à sua família, opulência, beleza e avanço material, ele já não deseja uma vida pacífica, mas se torna agressivo para com todos os outros. É inútil dar a tal pessoa boas instruções para um comportamento gentil e uma vida sóbria; ao contrário, devem-se procurar os modos e meios para castigá-lo”. De certo modo, em virtude da opulência material, um homem se torna exatamente como um animal. Dar a um animal instruções de sobriedade é inútil, e os únicos meios são argumentum ad baculum. Em outras palavras, os únicos meios para se manter animais em ordem são através de uma vara. “Veja só quão descarados são os membros da dinastia Kuru! Eu quis fazer um acordo pacífico apesar da ira de todos os outros membros da dinastia Yadu, inclusive o próprio Senhor Kṛṣṇa. Eles estavam se preparando para atacar todo o reino da dinastia dos Kurus, mas Eu os apaziguei e trouxe a questão para ser solucionada aqui sem qualquer confronto. Contudo, estes velhacos se comportam assim! Está claro que eles não querem uma solução pacífica porque eles são realmente malfeitores. Com grande orgulho, eles Me insultaram repetidamente, proferindo palavras ofensivas contra a dinastia Yadu”.

“Até mesmo o rei dos céus, Indra, cumpre a ordem da dinastia Yadu, e vocês consideram o rei Ugrasena, o líder dos Bhojas, Vṛṣṇis, Andhakas e Yādavas, como o comandante de uma pequena falange! Sua conclusão é maravilhosa! Vocês não consideram o rei Ugrasena, cuja ordem é obedecida até mesmo pelo rei Indra. Considerem a posição elevada da dinastia Yadu. Eles usaram à força tanto o salão de assembleias quanto a árvore pārijāta dos planetas celestiais e, ainda assim, vocês pensam que eles não podem lhes dar ordens. Vocês nem mesmo pensam que o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, pode Se sentar no elevado trono real e comandar o mundo inteiro? Certo! Se esse é o Seu pensamento, vocês merecem receber uma excelente lição. Vocês julgam sábio que as insígnias reais, como o abano de rabo de iaque, a sombrinha branca, o trono real e outras parafernálias principescas, não deveriam ser usadas pela dinastia Yadu. Isso significa que até mesmo o Senhor Kṛṣṇa, o Senhor da criação inteira e esposo da deusa da fortuna, não pode usar essa parafernália real? A poeira dos pés de lótus de Kṛṣṇa é adorada por todos os grandes semideuses. As águas do Ganges inundam o mundo todo e, como emanam dos pés de lótus dEle, suas margens se tornaram grandes lugares de peregrinação. As principais deidades de todos os planetas se ocupam no serviço dEle e se consideram afortunadíssimas por levar a poeira dos pés de lótus de Kṛṣṇa em seus elmos. Grandes semideuses, como o senhor Brahmā, o senhor Śiva e até mesmo a deusa da fortuna e Eu, somos simplesmente partes plenárias da identidade espiritual dEle, a despeito do que vocês pensam que Ele não é adequado para usar as insígnias reais, ou mesmo sentar-Se no trono real? Ah! Quão lamentável é que estes tolos considerem-nos, os membros da dinastia Yadu, como calçados e eles como elmos. Está agora claro que estes líderes da dinastia dos Kurus enlouqueceram por causa de posses mundanas e opulência. Todas as declarações que eles fizeram estavam cheias de propostas insanas. Eu deveria imediatamente colocá-los nos seus lugares e trazê-los à razão. Se Eu não agir contra eles, será impróprio da Minha parte. Logo, neste mesmo dia, libertarei o mundo inteiro de qualquer vestígio da dinastia Kuru. Devo exterminá-los imediatamente!”

Enquanto falava dessa maneira, o Senhor Balarāma exibiu uma aparência tão furiosa que era como se Ele pudesse reduzir toda a criação cósmica a cinzas. Ele Se levantou decididamente, apanhou Seu arado na mão, começou a golpear a terra com ele, separando a cidade inteira de Hastināpura do restante do mundo e, em seguida, começou a arrastar a cidade para as águas correntes do rio Ganges. Isso causou um grande tremor ao longo de Hastināpura, como se tivesse havido um terremoto, e pareceu que a cidade inteira seria destruída.

Quando todos os membros da dinastia Kuru viram que a cidade estava a ponto de entrar na água do Ganges e quando ouviram os cidadãos gritando em grande ansiedade, eles imediatamente se conscientizaram e compreenderam o que estava acontecendo. Portanto, sem esperar nem mais um segundo, eles trouxeram sua filha Lakṣmanā. Eles também trouxeram Sāmba, que tentara, à força, levá-la embora, mantendo-se na vanguarda, com Lakṣmanā em sua retaguarda. Todos os membros da dinastia Kuru apareceram ante o Senhor Balarāma com as mãos postas para implorar o perdão da Suprema Personalidade de Deus. Agora, usando o bom senso, eles disseram: “Ó Senhor Balarāma, reservatório de todos os prazeres, Você é o mantenedor e o repouso de toda a manifestação cósmica. Infelizmente, nós éramos todos desconhecedores de Suas potências inconcebíveis. Querido Senhor, por favor, considere-nos os mais tolos. Nossa inteligência estava confusa e em desordem. Destarte, viemos até Você suplicar Seu perdão. Por gentileza, perdoe-nos. Você é o criador original, mantenedor e aniquilador da manifestação cósmica inteira, e Sua posição é sempre transcendental. Ó Senhor todo-poderoso, grandes sábios falam sobre Você, que é o manipulador original, e tudo no mundo é como Seu brinquedo. Ó ilimitado, Você mantém tudo e, como uma brincadeira de criança, Você segura todos os sistemas planetários sobre a Sua cabeça. Quando o tempo para a dissolução chega, Você fecha a manifestação cósmica inteira dentro de Você. Neste momento, nada permanece, senão Você, que repousa no Oceano Causal como Mahā-Viṣṇu. Nosso querido Senhor, Você apareceu nesta Terra em Seu corpo transcendental só para a manutenção da situação cósmica. Estando acima de toda ira, inveja e inimizade, tudo o que Você faz, até mesmo na forma de castigo, é auspicioso para toda a existência material. Oferecemos nossas respeitosas reverências a Você, que é a imperecível Suprema Personalidade de Deus, o reservatório de todas as opulências e potências. Ó Criador de universos inumeráveis, deixe-nos prostrar e oferecer-Lhe reiteradas vezes nossas respeitosas reverências. Agora, rendemo-nos completamente a Você. Então, por obséquio, seja misericordioso para conosco e dê-nos Sua proteção”. Quando os membros proeminentes da dinastia de Kuru, desde o avô Bhīṣmadeva até Arjuna e Duryodhana, tinham oferecido suas orações respeitosas daquele modo, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Balarāma, imediatamente Se acalmou e os assegurou de que não havia nenhuma razão para medo e que eles não precisavam se preocupar.

Na maioria das vezes, era a prática dos reis kṣatriyas começar algum tipo de luta entre as comitivas da noiva e do noivo antes do casamento. Quando Sāmba tomou Lakṣmanā violentamente, os membros mais velhos da dinastia Kuru ficaram satisfeitos por ver que ele era, de fato, o partido apropriado para ela. A fim de ver sua força pessoal, porém, eles lutaram com ele e, sem respeitar os regulamentos da luta, todos eles prenderam-no. Quando a dinastia Yadu decidiu libertar Sāmba da prisão dos Kurus, o Senhor Balarāma foi pessoalmente acertar a questão e, como um kṣatriya poderoso, ordenou-lhes que soltassem Sāmba imediatamente. Os Kauravas foram superficialmente insultados por essa ordem e, assim, desafiaram o poder do Senhor Balarāma. Eles simplesmente queriam vê-lO exibir Sua força inconcebível. Dessa forma, com grande prazer, eles entregaram sua filha a Sāmba e tudo se solucionou. Duryodhana, sendo afetuoso com sua filha Lakṣmanā, casou-a com Sāmba em grande pompa. Para o dote dela, em primeiro lugar, ele deu mil e duzentos elefantes, cada um com pelo menos sessenta anos de idade; depois, ele deu dez mil esplêndidos cavalos, seis mil carruagens que brilhavam como o raio do Sol e mil criadas decoradas com ornamentos dourados. O Senhor Balarāma, o membro mais proeminente da dinastia Yadu, atuou como o guardião do noivo, Sāmba, que muito prazerosamente aceitou o dote. Balarāma ficou muito satisfeito com a grande recepção do lado dos Kurus e, acompanhado pelos recém-casados, partiu para a Sua capital, Dvārakā.

O Senhor Balarāma chegou em Dvārakā triunfalmente, onde Se encontrou com muitos cidadãos que eram todos Seus devotos e amigos. Quando eles se reuniram, o Senhor Balarāma narrou toda a história do matrimônio e eles ficaram atônitos ao ouvir como Balarāma fizera tremer a cidade de Hastināpura. É confirmado por Śukadeva Gosvāmī que, naqueles dias, o rio que fluía pela cidade de Hastināpura, hoje Nova Delhi, era conhecido como Ganges, embora hoje ele seja chamado de Yamunā. De autoridades como Jīva Gosvāmī, confirma-se que o Ganges e o Yamunā são o mesmo rio a fluir em cursos diferentes. A parte do Ganges que flui através de Hastināpura até a área de Vṛndāvana é chamada Yamunā porque é santificada pelos passatempos transcendentais do Senhor Kṛṣṇa. A parte de Hastināpura que se inclina para o Yamunā é inundada durante a estação chuvosa e faz com que todos se lembrem da ameaça do Senhor Balarāma de lançar a cidade no Ganges.

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do capítulo sessenta e oito de Kṛṣṇa, intitulado “O Casamento de Sāmba”.

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