VERSO 19
brāhmaṇā ūcuḥ
pārtha prajāvitā sākṣād
ikṣvākur iva mānavaḥ
brahmaṇyaḥ satya-sandhaś ca
rāmo dāśarathir yathā
brāhmaṇāḥ — os bons brāhmaṇas; ūcuḥ — disseram; pārtha — ó filho de Pṛthā (Kuntī); prajā — aqueles que nascem; avitā — mantenedor; sākṣāt — diretamente; ikṣvākuḥ iva — exatamente como o rei Ikṣvāku; mānavaḥ — filho de Manu; brahmaṇyaḥ — seguidores dos brāhmaṇas e respeitosos com os mesmos; satya-sandhaḥ — veraz na promessa; ca — também; rāmaḥ — a Personalidade de Deus Rāma; dāśarathiḥ — o filho de Mahārāja Daśaratha; yathā — como Ele.
Os brāhmaṇas eruditos disseram: Ó filho de Pṛthā, esta criança será exatamente como o rei Ikṣvāku, filho de Manu, na manutenção de todos aqueles que nascem. E no que diz respeito a seguir os princípios bramânicos, especialmente quanto a ser fiel à sua promessa, ele será exatamente como Rāma, a Personalidade de Deus, o filho de Mahārāja Daśaratha.
SIGNIFICADO—Prajā significa o ser vivo que nasce no mundo material. De fato, o ser vivo não tem nascimento nem morte, mas, devido à sua separação do serviço ao Senhor e por causa de seu desejo de assenhorear-se da natureza material, é-lhe oferecido um corpo adequado para satisfazer seus desejos materiais. Diante disso, as leis da natureza material condicionam a pessoa, e o corpo material é trocado de acordo com seu próprio trabalho. A entidade viva transmigra, desse modo, de um corpo a outro em 8.400.000 espécies de vida. Contudo, por ser parte integrante do Senhor, ela não somente é mantida pelo Senhor em todas as necessidades da vida, como também é protegida pelo Senhor e Seus representantes, os reis santos. Esses reis santos protegem todos os prajās, ou seres vivos, para viverem e cumprirem seus períodos de aprisionamento. Mahārāja Parīkṣit era um verdadeiro rei santo e ideal, pois, enquanto viajava por seu reino, calhou de ver que uma pobre vaca estava prestes a ser morta pelo Kali personificado, a quem ele puniu de imediato como um assassino. Isso significa que mesmo os animais recebiam proteção dos administradores santos, não sob algum ponto de vista sentimental, mas porque aqueles que nascem no mundo material têm o direito de viver. Todos os reis santos, começando do rei do globo solar e descendo até o rei da Terra, têm essa inclinação devido à influência das literaturas védicas. As literaturas védicas também são ensinadas nos planetas superiores, conforme há referência na Bhagavad-gītā (4.1) a respeito dos ensinamentos transmitidos pelo Senhor ao deus do Sol (Vivasvān), e essas lições são transferidas através de sucessão discipular, como foi feito pelo deus do Sol a seu filho Manu, e por Manu a Mahārāja Ikṣvāku. Há catorze Manus em um dia de Brahmā, e o Manu aqui referido é o sétimo Manu, que é um dos prajāpatis (aqueles que criam progênie), e filho do deus do Sol. Ele é conhecido como o Vaivasvata Manu. Ele teve dez filhos, um dos quais é Mahārāja Ikṣvāku. Mahārāja Ikṣvāku também aprendeu bhakti-yoga, como se ensina na Bhagavad-gītā, com seu pai, Manu, que aprendeu com seu pai, o deus do Sol. Mais tarde, o ensinamento da Bhagavad-gītā desceu através de sucessão discipular a partir de Mahārāja Ikṣvāku, mas, no decorrer do tempo, a corrente foi rompida por pessoas inescrupulosas, e, portanto, o conhecimento teve que ser ensinado novamente a Arjuna no Campo de Batalha de Kurukṣetra. Assim, todas as literaturas védicas são correntes desde o próprio início da criação do mundo material, e, desse modo, as literaturas védicas são conhecidas como apauruṣeya (não feitas pelo homem). O conhecimento védico foi proferido pelo Senhor e ouvido primeiramente por Brahmā, o primeiro ser vivo criado dentro do universo.
Mahārāja Ikṣvāku: Um dos filhos de Vaivasvata Manu. Teve cem filhos. Proibiu o comer de carne. Seu filho Śaśāda se tornou o próximo rei depois de sua morte.
Manu: O Manu mencionado neste verso como pai de Ikṣvāku é o sétimo Manu, chamado Vaivasvata Manu, o filho do deus do Sol, Vivasvān, a quem o Senhor Kṛṣṇa transmitiu os ensinamentos da Bhagavad-gītā antes de transmiti-los a Arjuna. A humanidade é descendente de Manu. Esse Vaivasvata Manu teve dez filhos, chamados Ikṣvāku, Nabhaga, Dhṛṣṭa, Śaryāti, Nariṣyanta, Nābhāga, Diṣṭa, Karūṣa, Pṛṣadhra e Vasumān. A encarnação Matsya do Senhor (o peixe gigante) apareceu durante o início do reino de Vaivasvata Manu. Ele aprendeu os princípios da Bhagavad-gītā com seu pai, Vivasvān, o deus do Sol, e tornou a ensiná-los a seu filho Mahārāja Ikṣvāku. No começo de Tretā-yuga, o deus do Sol instruiu o serviço devocional a Manu, e Manu, por sua vez, o ensinou a Ikṣvāku, para o bem-estar de toda a sociedade humana.
Senhor Rāma: A Suprema Personalidade de Deus encarnou como Śrī Rāma, aceitando ser filho de Seu devoto puro Mahārāja Daśaratha, o rei de Ayodhyā. O Senhor Rāma desceu juntamente com Suas porções plenárias, e todas elas apareceram como Seus irmãos mais novos. No mês de Caitra, no nono dia da lua crescente, em Tretā-yuga, o Senhor apareceu, como de costume, para estabelecer os princípios da religião e para aniquilar os elementos perturbadores. Quando era apenas um jovem rapaz, Ele ajudou o grande sábio Viśvāmitra, matando Subāhu e ferindo Mārīcā, os dois demônios que estavam perturbando os sábios no desempenho diário de seus deveres. Os brāhmaṇas e kṣatriyas destinam-se a cooperar para o bem-estar da massa popular. Os brāhmaṇas sábios se esforçam para iluminar as pessoas com conhecimento perfeito, e os kṣatriyas se destinam a protegê-las. O Senhor Rāmacandra é o rei ideal porque protegeu e manteve a mais elevada cultura da humanidade, conhecida como brāhmaṇya-dharma. O Senhor é especificamente o protetor das vacas e dos brāhmaṇas e, por isso, Ele promove a prosperidade do mundo. Ele recompensou os semideuses administrativos com armas efetivas para conquistar os demônios, através da agência de Viśvāmitra. Esteve presente no sacrifício de arco do rei Janaka e, por quebrar o invencível arco de Śiva, casou-Se com Sītādevī, a filha de Mahārāja Janaka.
Após Seu casamento, aceitou o exílio na floresta por catorze anos, por ordem de Seu pai, Mahārāja Daśaratha. Para ajudar a administração dos semideuses, Ele matou catorze mil demônios, e, devido às intrigas dos demônios, Sua esposa, Sītādevī, foi raptada por Rāvaṇa. Ele fez amizade com Sugrīva, que foi ajudado pelo Senhor a matar Vali, irmão de Sugrīva. Com a ajuda do Senhor Rāma, Sugrīva se tornou o rei dos Vānaras (uma raça de gorilas). O Senhor construiu uma ponte flutuante de pedras sobre o Oceano Índico e alcançou Laṅkā, o reino de Rāvaṇa, que havia raptado Sītā. Depois, Ele matou Rāvaṇa, e o irmão de Rāvaṇa, Vibhīṣana, foi instalado no trono de Laṅkā. Vibhīṣana era um dos irmãos de Rāvaṇa, um demônio, mas o Senhor Rāma o fez imortal com Suas bênçãos. Ao expirarem catorze anos, após resolver os assuntos de Laṅkā, o Senhor voltou a Seu reino, Ayodhyā, em um aeroplano de flores. Ele instruiu Seu irmão Śatrughna a atacar Lavaṇāsura, que reinava em Mathurā, e o demônio foi morto. Ele executou dez sacrifícios aśvamedha e, mais tarde, desapareceu enquanto tomava banho no rio Śarayu. O grande épico Rāmāyaṇa é a história das atividades do Senhor Rāma no mundo, e o Rāmāyaṇa autorizado foi escrito pelo grande poeta Vālmīki.