VERSO 29
evaṁ rājā vidureṇānujena
prajñā-cakṣur bodhita ājamīḍhaḥ
chittvā sveṣu sneha-pāśān draḍhimno
niścakrāma bhrātṛ-sandarśitādhvā
evam — assim; rājā — rei Dhṛtarāṣṭra; vidureṇa anujena — por seu irmão mais novo, Vidura; prajñā — conhecimento introspectivo; cakṣuḥ — olhos; bodhitaḥ — sendo entendido; ājamīḍhaḥ — Dhṛtarāṣṭra, descendente da família de Ajamīḍha; chittvā — rompendo; sveṣu — quanto aos parentes; sneha-pāśān — forte rede da afeição; draḍhimnaḥ — por causa da perseverança; niścakrāma — saiu; bhrātṛ — por seu irmão; sandarśita — orientação a; adhvā — o caminho da liberação.
Assim, Mahārāja Dhṛtarāṣṭra, o descendente da família de Ajamīḍha, firmemente convencido através de conhecimento introspectivo [prajñā], rompeu de uma vez a forte rede da afeição familiar, com determinação resoluta. Desse modo, ele imediatamente deixou o lar para empreender o caminho da liberação, conforme orientação de Vidura, seu irmão mais novo.
SIGNIFICADO—O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, o grande pregador dos princípios do Śrīmad-Bhāgavatam, enfatiza a importância da companhia de sādhus, devotos puros do Senhor. Ele dizia que, mesmo por um momento de associação com um devoto puro, pode-se alcançar toda a perfeição. Não nos sentimos envergonhados de admitir que esse fato foi experimentado em nossa vida prática. Se não tivéssemos sido favorecidos por Sua Divina Graça Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja, através de nosso primeiro encontro de apenas alguns minutos, teria sido impossível que aceitássemos esta grandiosa tarefa de descrever o Śrīmad-Bhāgavatam em inglês. Se não o tivéssemos visto naquele momento oportuno, poderíamos ter-nos tornado um grande magnata dos negócios, mas jamais teríamos sido capazes de trilhar o caminho da liberação e nos ocuparmos no verdadeiro serviço ao Senhor, sob as instruções de Sua Divina Graça. Aqui, há outro exemplo prático pela ação da companhia que Dhṛtarāṣṭra recebeu de Vidura. Mahārāja Dhṛtarāṣṭra estava fortemente emaranhado na rede de afinidades materiais relacionadas com política, economia e apego familiar, e fez tudo que pôde para obter assim chamado êxito nos projetos que planejou, mas se frustrou do começo ao fim quanto às suas atividades materiais. E, todavia, apesar de sua vida de fracassos, ele alcançou o maior de todos os sucessos em autorrealização, através das instruções convincentes de um devoto puro do Senhor, que é o típico símbolo de um sādhu. As escrituras prescrevem, portanto, que devemos nos associar somente com sādhus, rejeitando todos os outros tipos de associação, e, por fazê-lo, teremos ampla oportunidade de ouvir os sādhus, que podem cortar em pedaços as amarras da afeição ilusória no mundo material. É um fato que o mundo material é uma grande ilusão, pois tudo parece ser uma realidade tangível, mas, no momento seguinte, evapora-se como a espuma impetuosa do mar, ou como a nuvem no céu. Uma nuvem no céu indubitavelmente parece ser realidade, porque chove, e, devido às chuvas, surge muita vegetação temporária; porém, em última instância, tudo desaparece, ou seja, a nuvem, a chuva e a vegetação, tudo no seu devido tempo. Mas o céu permanece, e as variedades do céu, ou as luminárias, também permanecem para sempre. De forma semelhante, a Verdade Absoluta, que é comparada ao céu, permanece eternamente, e a ilusão temporária, como uma nuvem, surge e desaparece. Os seres vivos tolos se sentem atraídos pela nuvem temporária, mas os homens inteligentes estão mais interessados no céu eterno, com toda a sua variedade.