VERSO 31
eṣa kiṁ nibhṛtāśeṣa-
karaṇo mīlitekṣaṇaḥ
mṛṣā-samādhir āhosvit
kiṁ nu syāt kṣatra-bandhubhiḥ
eṣaḥ — este; kim — se; nibhṛta-aśeṣa — espírito meditativo; karaṇaḥ — sentidos; mīlita — fechados; īkṣaṇaḥ — olhos; mṛṣā — falso; samādhiḥ — transe; āho — permanece; svit — se é assim; kim — ou se; nu — mas; syāt — pode ser; kṣatra-bandhubhiḥ — pelo kṣatriya inferior.
Ao retornar, ele começou a considerar e raciocinar consigo mesmo se o sábio estava realmente em meditação, com os sentidos concentrados e os olhos fechados, ou se ele havia somente fingido transe, apenas para evitar de receber um kṣatriya inferior.
SIGNIFICADO—O rei, sendo um devoto do Senhor, não aprovou sua própria ação e, assim, começou a se perguntar se o sábio estava realmente em transe ou estava apenas dissimulando para evitar de receber o rei, que era um kṣatriya e, portanto, de casta inferior. O arrependimento vem à mente de uma boa alma logo que ela comete algum erro. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura e Śrīla Jīva Gosvāmī não acreditam que a ação do rei fosse devido a suas maldades passadas. O Senhor arranjou as coisas dessa maneira apenas para chamar o rei de volta ao lar, de volta ao Supremo.
Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, o plano foi feito pela vontade do Senhor, e, pela vontade do Senhor, criou-se a situação de frustração. O plano era que, por sua suposta má ação, o rei seria amaldiçoado por um inexperiente menino brāhmaṇa, contaminado pela influência de Kali, e, assim, o rei deixaria o conforto do lar para sempre. Suas relações com Śrīla Śukadeva Gosvāmī proporcionariam a apresentação do grande Śrīmad-Bhāgavatam, que é considerado a encarnação de livro do Senhor. Essa encarnação de livro do Senhor fornece muitas informações fascinantes acerca dos passatempos transcendentais do Senhor, como Sua rāsa-līlā com as espirituais donzelas vaqueirinhas de Vrajabhūmi. Esse passatempo específico do Senhor tem um significado especial, pois qualquer pessoa que aprenda adequadamente esse passatempo em particular do Senhor, certamente será dissuadida do desejo sexual mundano e será posta no caminho do sublime serviço devocional ao Senhor. A frustração mundana do devoto puro se destina a elevar o devoto a uma posição transcendental superior. O Senhor criou o prelúdio da Guerra de Kurukṣetra ao colocar Arjuna e os Pāṇḍavas em frustração, devido à intriga de seus primos-irmãos. Isso se deu com o objetivo de encarnar a representação sonora do Senhor, a Bhagavad-gītā. Assim, por colocar o rei Parīkṣit numa situação incômoda, a encarnação do Śrīmad-Bhāgavatam foi criada pela vontade do Senhor. O fato de ele ter sido atormentado pela fome e pela sede foi somente uma encenação, dado que o rei havia suportado mais coisas, mesmo no ventre de sua mãe. Ele não se perturbara nem um pouco com o calor escaldante do brahmāstra lançado por Aśvatthāmā. A condição aflitiva do rei certamente era sem precedentes. Os devotos como Mahārāja Parīkṣit são poderosos o bastante para suportar tais aflições, pela vontade do Senhor, e eles nunca se perturbam. Portanto, a situação neste caso foi toda planejada pelo Senhor.