VERSO 5
etan nānāvatārāṇāṁ
nidhānaṁ bījam avyayam
yasyāṁśāṁśena sṛjyante
deva-tiryaṅ-narādayaḥ
etat — essa (forma); nānā — multifárias; avatārāṇām — das encarnações; nidhānam — fonte; bījam — semente; avyayam — indestrutível; yasya — cuja; aṁśa — porção plenária; aṁśena — parte da porção plenária; sṛjyante — criam; deva — semideuses; tiryak — animais; nara-ādayaḥ — seres humanos e outras.
Essa forma [a segunda manifestação do puruṣa] é fonte e semente indestrutível de multifárias encarnações dentro do universo. Das partículas e porções dessa forma, diferentes entidades vivas, como semideuses, homens e outras, são criadas.
SIGNIFICADO—O puruṣa, após criar inumeráveis universos no mahat-tattva, entrou em cada um deles como o segundo puruṣa, Garbhodakaśāyī Viṣṇu. Quando viu que, dentro do universo, havia apenas escuridão e espaço, sem um lugar de repouso, Ele encheu metade do universo com água de Sua própria transpiração e deitou-Se na mesma água. Essa água chama-se Garbhodaka. Então, brotou de Seu umbigo o caule da flor de lótus, e, nas pétalas da flor, deu-se o nascimento de Brahmā, ou o engenheiro-mestre do plano universal. Brahmā se tornou o engenheiro do universo, e o próprio Senhor encarregou-Se da manutenção do universo, como Viṣṇu. Brahmā foi gerado do rajo-guṇa da prakṛti, ou o modo da paixão na natureza, e Viṣṇu fez-Se o Senhor do modo da bondade. Viṣṇu, sendo transcendental a todos os modos, está sempre separado da afeição materialista. Isso já foi explicado. De Brahmā, surge Rudra (Śiva), que se encarrega do modo da ignorância, ou escuridão. Ele destrói toda a criação pela vontade do Senhor. Portanto, todos os três, a saber, Brahmā, Viṣṇu e Śiva, são encarnações do Garbhodakaśāyī Viṣṇu. De Brahmā, outros semideuses como Dakṣa, Marīci, Manu e muitos outros encarnam-se para gerar entidades vivas dentro do universo. Esse Garbhodakaśāyī Viṣṇu é glorificado nos Vedas, nos hinos de Garbha-stuti, que começam com a descrição do Senhor como tendo milhares de cabeças etc. O Garbhodakaśāyī Viṣṇu é o Senhor do universo e, embora pareça estar deitado dentro do universo, Ele é sempre transcendental. Isso também já foi explicado. O Viṣṇu que é a porção plenária do Garbhodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma da vida universal, e é conhecido como o mantenedor do universo, ou Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Compreendem-se, assim, os três aspectos do puruṣa original. E todas as encarnações dentro do universo são emanações desse Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu.
Em diferentes milênios, há diferentes encarnações, e elas são inumeráveis, embora algumas sejam muito proeminentes, tais como Matsya, Kūrma, Varāha, Rāma, Nṛsiṁha, Vāmana e muitas outras. Essas encarnações chamam-se encarnações līlā. A seguir, há encarnações qualitativas, tais como Brahmā, Viṣṇu e Śiva (ou Rudra), que se encarregam dos diferentes modos da natureza material.
O Senhor Viṣṇu não é diferente da Personalidade de Deus. O senhor Śiva está na posição marginal entre a Personalidade de Deus e as entidades vivas, ou jīvas. Brahmā é sempre um jīva-tattva. O ser vivo mais piedoso, ou o maior devoto do Senhor, é investido com a potência do Senhor para a criação, e ele é chamado Brahmā. Seu poder é como o poder do Sol refletido em joias e pedras preciosas. Quando não há semelhante ser vivo para assumir o posto de Brahmā, o próprio Senhor torna-Se Brahmā e Se encarrega do posto.
O senhor Śiva não é um ser vivo comum. Ele é a porção plenária do Senhor, mas, porque o senhor Śiva está em contato direto com a natureza material, ele não está exatamente na mesma posição transcendental que o Senhor Viṣṇu. A diferença é a mesma existente entre o leite e a coalhada. A coalhada não é nada mais que leite, mas não pode ser usada no lugar do leite.
As próximas encarnações são os Manus. Dentro de cada dia na duração da vida de Brahmā (a qual é calculada pelo nosso ano solar como sendo 4.300.000 vezes 1.000 anos), há catorze Manus. Portanto, há 420 Manus em um mês de Brahmā, e 5.040 Manus em um ano de Brahmā. Brahmā vive cem anos, de modo que há 5.040 vezes 100 Manus, ou 504.000 Manus, na duração da vida de Brahmā. Existem inumeráveis universos, com um Brahmā em cada um deles, e todos são criados e aniquilados durante o período de respiração do puruṣa. Portanto, podemos apenas imaginar quantos milhões de Manus existem durante uma respiração do puruṣa.
Os Manus preeminentes dentro deste universo são os seguintes: Yajña, como Svāyambhuva Manu; Vibhu, como Svārociṣa Manu; Satyasena, como Uttama Manu; Hari, como Tāmasa Manu; Vaikuṇṭha, como Raivata Manu; Ajita, como Cākṣuṣa Manu; Vāmana, como Vaivasvata Manu (a era atual está sob o regime de Vaivasvata Manu); Sārvabhauma, como Sāvarṇi Manu; Ṛṣabha, como Dakṣa-sāvarṇi Manu; Viṣvaksena, como Brahma-sāvarṇi Manu; Dharmasetu, como Dharma-sāvarṇi Manu; Sudhāmā, como Rudra-sāvarṇi Manu; Yogeśvara, como Deva-sāvarṇi Manu, e Bṛhadbhānu, como Indra-sāvarṇi Manu. Esses são os nomes de um conjunto de catorze Manus, cobrindo 4.300.000.000 de anos solares, como se descreve acima.
Há ainda os yugāvatāras, ou as encarnações dos milênios. Os yugas são conhecidos como Satya-yuga, Tretā-yuga, Dvāpara-yuga e Kali-yuga. As encarnações de cada yuga são de cores diferentes. As cores são branca, vermelha, preta e amarela. Em Dvāpara-yuga, o Senhor Kṛṣṇa apareceu na cor negra, e, em Kali-yuga, apareceu o Senhor Caitanya, na cor amarela.
Assim, todas as encarnações do Senhor são mencionadas nas escrituras reveladas. Não há oportunidade para um impostor tornar-se uma encarnação, pois uma encarnação tem que estar mencionada nos śāstras. Uma encarnação não declara ser encarnação do Senhor, mas grandes sábios aceitam-nA unanimemente pelos sintomas mencionados nas escrituras reveladas. Os aspectos da encarnação e o tipo particular de missão que Ela tem que executar são mencionados nas escrituras reveladas.
À parte das encarnações diretas, há inumeráveis encarnações dotadas de poder. Elas também são mencionadas nas escrituras reveladas. Tais encarnações são tanto direta quanto indiretamente dotadas de poder. Quando são diretamente dotadas de poder, elas se chamam encarnações, mas, quando são indiretamente dotadas de poder, chamam-se vibhūtis. Encarnações diretamente dotadas de poder são os Kumāras, Nārada, Pṛthu, Śeṣa, Ananta etc. Quanto às vibhūtis, elas são explicitamente descritas na Bhagavad-gītā, no capítulo Vibhūti-yoga. E para todos esses diferentes tipos de encarnações, o manancial é o Garbhodakaśāyī Viṣṇu.