VERSO 11
harer guṇākṣipta-matir
bhagavān bādarāyaṇiḥ
adhyagān mahad ākhyānaṁ
nityaṁ viṣṇu-jana-priyaḥ
hareḥ — de Hari, a Personalidade de Deus; guṇa — atributo transcendental; ākṣipta — estando absorto em; matiḥ — mente; bhagavān — poderoso; bādarāyaṇiḥ — o filho de Vyāsadeva; adhyagāt — submeteu-se aos estudos; mahat — grande; ākhyānam — narrativa; nityam — regularmente; viṣṇu-jana — devotos do Senhor; priyaḥ — amado.
Śrīla Śukadeva Gosvāmī, filho de Śrīla Vyāsadeva, não era apenas transcendentalmente poderoso; ele também era muito querido pelos devotos do Senhor. Assim, ele se submeteu ao estudo desta grande narrativa [o Śrīmad-Bhāgavatam].
SIGNIFICADO—Segundo o Brahma-vaivarta Purāṇa, Śrīla Śukadeva Gosvāmī era uma alma liberada mesmo dentro do ventre de sus mãe. Śrīla Vyāsadeva sabia que a criança, após seu nascimento, não permaneceria em casa. Portanto, ele (Vyāsadeva) lhe inculcou a sinopse do Bhāgavatam para que o filho pudesse se apegar às atividades transcendentais do Senhor. Após seu nascimento, o filho foi ainda mais instruído no tema do Bhāgavatam, com a recitação dos poemas em si.
A ideia é que as almas liberadas, em geral, são apegadas ao aspecto do Brahman impessoal, com uma visão monística de tornarem-se unas com o todo supremo. Porém, pela companhia de devotos puros como Vyāsadeva, mesmo as almas liberadas se atraem pelas qualidades transcendentais do Senhor. Pela misericórdia de Śrī Nārada, Śrīla Vyāsadeva foi capaz de narrar a grande epopeia Śrīmad-Bhāgavatam, e, pela misericórdia de Vyāsadeva, Śrīla Śukadeva Gosvāmī foi capaz de assimilar o seu significado. As qualidades transcendentais do Senhor são de tal modo atrativas que Śrīla Śukadeva Gosvāmī se desligou do estado de completa absorção no Brahman impessoal e aceitou positivamente a atividade pessoal do Senhor.
Na prática, ele foi desalojado da concepção impessoal do Absoluto, pensando consigo mesmo que simplesmente perdera tanto tempo em devotar-se ao aspecto impessoal do Supremo, ou, em outras palavras, ele se realizou em maior bem-aventurança transcendental com o aspecto pessoal do que com o impessoal. E, desde então, ele não apenas se tornou muito querido pelos viṣṇu-janas, ou devotos do Senhor, como também os viṣṇu-janas tornaram-se muito queridos para ele. Os devotos do Senhor, que não desejam matar a individualidade das entidades vivas e que desejam tornar-se servos pessoais do Senhor, não gostam muito dos impersonalistas, e, do mesmo modo, os impersonalistas, que desejam tornar-se unos com o Supremo, são incapazes de dar valor aos devotos do Senhor. Assim, desde tempos imemoriais, esses dois peregrinos transcendentais têm sido frequentes competidores. Em outras palavras, cada um deles gosta de manter-se separado do outro por causa das realizações últimas pessoal e impessoal. Parece, portanto, que Śrīla Śukadeva Gosvāmī também não tinha apreço pelos devotos. Contudo, desde que ele próprio se tornou um devoto plenamente satisfeito, desejava sempre a companhia dos viṣṇu-janas, e os viṣṇu-janas também gostavam de sua companhia, desde que ele se tornou um bhāgavata pessoalmente. Assim, tanto o filho quanto o pai eram completamente cientes do conhecimento transcendental em Brahman e, mais tarde, ambos se absorveram nos aspectos pessoais do Senhor Supremo. Deste modo, a pergunta sobre como Śukadeva Gosvāmī se atraiu pela narração do Bhāgavatam é perfeitamente respondida neste śloka.