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VERSO 27

dāna-dharmān rāja-dharmān
mokṣa-dharmān vibhāgaśaḥ
strī-dharmān bhagavad-dharmān
samāsa-vyāsa-yogataḥ

dāna-dharmān os atos de caridade; rāja-dharmān atividades pragmáticas dos reis; mokṣa-dharmān os atos para a salvação; vibhāgaśaḥ por divisões; strī-dharmān deveres das mulheres; bhagavat-dharmān os atos dos devotos; samāsa — geralmente; vyāsa — explicitamente; yogata — por meio de.

Então, ele explicou, por partes, os atos de caridade, as atividades pragmáticas de um rei e as atividades para a salvação. Depois, explicou os deveres das mulheres e dos devotos, tanto de maneira sucinta como demorada.

SIGNIFICADO—Dar caridade é uma das principais funções do chefe de família, e ele deve estar preparado para dar em caridade pelo menos cinquenta por cento do dinheiro ganho com o suor de seu rosto. O brahmacārī, ou estudante, deve executar sacrifícios; o chefe de família deve dar caridade, e a pessoa na ordem de vida retirada ou na ordem de vida renunciada deve praticar penitências e austeridades. Essas são as funções gerais de todos os āśramas, ou ordens de vida no caminho da autorrealização. Na vida de brahmacārī, o treinamento é suficientemente transmitido para que a pessoa possa entender que o mundo, como propriedade, pertence ao Senhor Supremo, a Personalidade de Deus. Ninguém, portanto, pode afirmar que é proprietário de algo no mundo. Desse modo, na vida de chefe de família, que é uma espécie de licença para o desfrute sexual, deve-se dar caridade para o serviço ao Senhor. A energia de todos é gerada ou tomada emprestada do reservatório de energia do Senhor; portanto, as ações resultantes de tal energia têm que ser dadas ao Senhor sob a forma de transcendental serviço amoroso a Ele. Assim como os rios tiram água do mar através das nuvens e novamente descem para o mar; analogamente, nossa energia é tomada emprestada da fonte suprema, a energia do Senhor, e ela tem que retornar ao Senhor. Essa é a perfeição de nossa energia. Na Bhagavad-gītā (9.27), portanto, o Senhor diz que tudo o que façamos, tudo a que nos submetamos como penitência, tudo o que sacrifiquemos, tudo o que comamos, ou tudo o que dermos em caridade deve primeiramente ser oferecido a Ele (o Senhor). Essa é a maneira de utilizarmos a energia que tomamos de empréstimo. Quando nossa energia é utilizada dessa maneira, essa energia é purificada da contaminação dos inebriamentos materiais, e, assim, tornamo-nos aptos para nossa vida original e natural de serviço ao Senhor.

Rāja-dharma é uma grande ciência, em contraposição à diplomacia moderna pela supremacia política. Os reis eram treinados sistematicamente para se tornarem magnânimos, e não para serem meros coletores de impostos. Eles eram treinados a executar diferentes sacrifícios unicamente para a prosperidade dos súditos. Conduzir os prajās à aquisição da salvação era um grande dever do rei. O pai, o mestre espiritual e o rei não devem ser irresponsáveis quanto a levar seus subordinados ao caminho da liberação final do nascimento, morte, doença e velhice. Quando esses deveres primários são devidamente cumpridos, não há necessidade de governo do povo pelo povo. Nos dias modernos, as pessoas em geral ocupam a administração por força de votos manipulados, mas elas nunca são treinadas nos deveres essenciais de um rei, o que também não é possível para todos. Nessas circunstâncias, os administradores destreinados fracassam em fazer os súditos felizes sob todos os aspectos. Por outro lado, esses administradores destreinados gradualmente se tornam ladrões e assaltantes e aumentam os impostos para financiar uma administração onerosa que é inútil para todos os propósitos. Na verdade, os brāhmaṇas qualificados destinam-se a dar orientações aos reis para a administração adequada de acordo com escrituras como a Manu-saṁhitā e os Dharma-śāstras de Parāśara. Um rei típico é o ideal das pessoas em geral, e se o rei é piedoso, religioso, cavalheiresco e magnânimo, os cidadãos geralmente o seguem. Um rei assim não é uma pessoa preguiçosa e sensual que vive à custa dos súditos, mas está sempre alerta para matar ladrões e salteadores. Os reis piedosos não eram misericordiosos com os salteadores e ladrões em nome de uma ahiṁsā (não-violência) disparatada. Os ladrões e salteadores eram punidos de maneira exemplar para que, no futuro, ninguém ousasse cometer tais contravenções de forma organizada. Esses ladrões e salteadores nunca se destinavam à administração, como acontece atualmente.

A lei de impostos era simples. Não havia coação nem usurpação. O rei tinha direito a tomar uma quarta parte da produção feita pelo súdito. O rei tinha direito de exigir uma quarta parte da riqueza acumulada por uma pessoa. Ninguém jamais demonstraria má vontade em fazer a partilha, porque, devido à piedade do rei e à harmonia religiosa, havia suficiente riqueza natural, como cereais, frutas, flores, seda, algodão, leite, joias, minerais etc., motivo pelo qual ninguém era materialmente infeliz. Os cidadãos eram ricos na agricultura e criação de animais e, portanto, tinham suficientes cereais, frutas e leite sem nenhuma necessidade artificial de sabonetes e artigos de toalete, cinemas e bares.

O rei tinha de cuidar para que as reservas humanas de energia fossem adequadamente utilizadas. A energia humana não se destina exatamente a satisfazer propensões animais, mas, sim, à autorrealização. Todo o governo era especificamente planejado para satisfazer a esse propósito em particular. Desse modo, o rei tinha que selecionar apropriadamente o gabinete ministerial, mas não por força de base eleitoral. Os ministros, os comandantes militares e mesmo os soldados ordinários eram todos selecionados por qualificações pessoais, e o rei tinha que os supervisionar apropriadamente antes que fossem apontados para seus respectivos postos. O rei ficava especialmente atento para que os tapasvīs, ou pessoas que sacrificavam tudo para disseminar o conhecimento espiritual, jamais fossem desconsiderados. O rei sabia bem que a Suprema Personalidade de Deus nunca tolera qualquer insulto a Seus devotos imaculados. Esses tapasvīs eram líderes de confiança mesmo dos ladrões e dos assaltantes, que nunca desobedeciam às ordens dos tapasvīs. O rei costumava dar proteção especial aos iletrados, aos desamparados e às viúvas do estado. Medidas de defesa eram tomadas antes de qualquer ataque dos inimigos. O processo de impostos era fácil, e não se destinava ao esbanjamento, mas, sim, ao fortalecimento do fundo de reserva. Os soldados eram recrutados de todas as partes do mundo e eram treinados para deveres especiais.

Quanto à salvação, é preciso conquistar os princípios de luxúria, ira, desejos ilícitos, avareza e desnorteamento. Para livrar-se da ira, deve-se aprender a perdoar. Para livrar-se dos desejos ilícitos, não se devem fazer planos. Através do cultivo espiritual, somos capazes de dominar o sono. Somente através da tolerância podemos dominar os desejos e a avareza. As perturbações provocadas por várias doenças podem ser evitadas por dietas reguladas. Através do autocontrole, podemos nos livrar das falsas esperanças, e podemos poupar dinheiro evitando más companhias. Pela prática do yoga, podemos controlar a fome, e o mundanismo pode ser evitado cultivando conhecimento da impermanência. A vertigem pode ser dominada pelo levantar-se, e os falsos argumentos podem ser rebatidos pela verdadeira comprovação. A tagarelice pode ser evitada pela gravidade e o silêncio, e, pela coragem, podemos evitar o temor. Podemos obter conhecimento perfeito através do cultivo do eu. Devemos estar livres de luxúria, avareza, ira, sonho etc., para realmente alcançar o caminho da salvação.

Quanto à classe das mulheres, elas são aceitas como um poder de inspiração para os homens. Sendo assim, as mulheres são mais poderosas que os homens. O poderoso Júlio César era controlado por uma Cleópatra. Essas mulheres poderosas são controladas pelo recato. Portanto, o recato é importante para as mulheres. Uma vez que essa válvula de controle seja afrouxada, as mulheres podem acarretar estragos à sociedade sob a forma de adultério. Adultério significa produção de filhos não desejados, conhecidos como varṇa-saṅkara, os quais perturbam o mundo.

O último item ensinado por Bhīṣmadeva foi o processo de comprazer ao Senhor. Todos nós somos servos eternos do Senhor e, quando esquecemos essa parte essencial de nossa natureza, somos postos em condições materiais de vida. O processo simples de comprazer ao Senhor (especialmente para os chefes de família) é instalar em casa a Deidade do Senhor. Concentrando-se na Deidade, a pessoa pode continuar progressivamente seu trabalho rotineiro e diário. Adorar a Deidade em casa, servir ao devoto, ouvir o Śrīmad-Bhāgavatam, residir num lugar sagrado e cantar o santo nome do Senhor são todos itens pouco dispendiosos, através dos quais podemos comprazer ao Senhor. Assim o avô explicou o assunto a seus netos.

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