VERSO 30
tadopasaṁhṛtya giraḥ sahasraṇīr
vimukta-saṅgaṁ mana ādi-pūruṣe
kṛṣṇe lasat-pīta-paṭe catur-bhuje
puraḥ sthite ’mīlita-dṛg vyadhārayat
tadā — nessa altura; upasaṁhṛtya — retraindo; giraḥ — palavras; sahasraṇīḥ — Bhīṣmadeva (que era hábil em milhares de ciências e artes); vimukta-saṅgam — completamente livre de tudo mais; manaḥ — mente; ādi-pūruṣe — na original Personalidade de Deus; kṛṣṇe — em Kṛṣṇa; lasat-pīta-paṭe — decorado com roupas amarelas; catur-bhuje — no original Nārāyaṇa de quatro braços; puraḥ — justamente antes; sthite — de pé; amīlita — arregalados; dṛk — visão; vyadhārayat — fixou.
Depois disso, aquele homem que falara sobre diferentes assuntos com milhares de significados e que lutara em milhares de campos de batalha e protegera milhares de homens, parou de falar e, estando completamente livre de todo cativeiro, retraiu sua mente de tudo mais e fixou seus olhos arregalados na original Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, que estava de pé diante dele, com quatro braços, e vestindo roupas amarelas que cintilavam e reluziam.
SIGNIFICADO—Na importante hora de deixar seu corpo material, Bhīṣmadeva estabeleceu um glorioso exemplo a respeito da importante função da forma de vida humana. O tema que atrai a atenção do homem moribundo se torna o começo de sua próxima vida. Portanto, se uma pessoa está absorta em pensamentos sobre o Supremo Senhor Śrī Kṛṣṇa, ela tem garantida sua volta ao Supremo, sem sombra de dúvida. Isso se confirma na Bhagavad-gītā (8.5-15):
5: E quem quer que, no momento da morte, deixe seu corpo lembrando-se unicamente de Mim, alcança de imediato Minha natureza. Quanto a isso, não há dúvida.
6: Qualquer que seja o estado de existência de que a pessoa se lembre quando deixa seu corpo, esse mesmo estado ela alcançará sem falta.
7: Portanto, Arjuna, tu deves sempre pensar em Mim sob a forma de Kṛṣṇa e, ao mesmo tempo, executar teu dever prescrito de lutar. Com tuas atividades dedicadas a Mim e com tua mente e inteligência fixas em Mim, não há dúvida de que virás a Mim.
8: Aquele que meditar na Suprema Personalidade de Deus, com a mente constantemente ocupada em lembrar-se de Mim, sem se desviar do caminho, esse, ó Pārtha [Arjuna], com toda a certeza Me alcançará.
9: Deve-se meditar na Pessoa Suprema como aquele que conhece tudo, como aquele que é o mais velho, que é o controlador, que é menor que o menor, que é o mantenedor de tudo, que está além de toda concepção material, que é inconcebível, e que é sempre uma pessoa. Ele é luminoso como o Sol e, sendo transcendental, está além desta natureza material.
10: Aquele que, no momento da morte, fixar seu ar vital entre as sobrancelhas e, com plena devoção, se ocupar em lembrar-se do Senhor Supremo, certamente atingirá a Suprema Personalidade de Deus.
11: As pessoas eruditas nos Vedas, que pronunciam o oṁkāra e que são grandes sábios na ordem renunciada, entram no Brahman. Desejando tal perfeição, a pessoa pratica o celibato. Agora, Eu te explicarei esse processo pelo qual se pode alcançar a salvação.
12: A situação ióguica é de desapego de todas ocupações sensoriais. Fechando todas as portas dos sentidos e fixando a mente no coração e o ar vital no topo da cabeça, a pessoa se estabelece em yoga.
13: Após situar-se nesta prática de yoga e vibrar a sagrada sílaba oṁ, a combinação suprema de letras, se a pessoa pensar na Suprema Personalidade de Deus e abandonar seu corpo, certamente alcançará os planetas espirituais.
14: Para aquele que se lembra de Mim sem desvio, sou fácil de obter, ó filho de Pṛthā, por causa de sua constante ocupação em serviço devocional.
15: Após Me alcançarem, as grandes almas, que são yogīs em devoção, jamais regressam a este mundo temporário, que é cheio de misérias, porque alcançaram a perfeição máxima.
Śrī Bhīṣmadeva alcançou a perfeição de deixar o corpo de acordo com sua própria vontade, e teve a fortuna de ter o Senhor Kṛṣṇa, o objeto de sua atenção, pessoalmente presente no momento da morte. Por isso, Bhīṣma fixou nEle seus olhos abertos. Ele queria ver Śrī Kṛṣṇa por bastante tempo devido a seu amor espontâneo por Ele. Porque era um devoto puro, ele tinha pouca coisa a ver com a execução detalhada dos princípios ióguicos. Simplesmente bhakti-yoga é o bastante para trazer a perfeição. Portanto, o desejo ardente de Bhīṣmadeva era ver a pessoa do Senhor Kṛṣṇa, o mais elevado objeto de amor, e, pela graça do Senhor, Śrī Bhīṣmadeva teve essa oportunidade no momento de seu último suspiro.