VERSO 53
deho ’pi mamatā-bhāk cet
tarhy asau nātma-vat priyaḥ
yaj jīryaty api dehe ’smin
jīvitāśā balīyasī
dehaḥ — o corpo; api — também; mamatā — da possessividade; bhāk — o foco; cet — se; tarhi — então; asau — aquele corpo; na — não; ātma-vat — do mesmo modo que a alma; priyaḥ — querido; yat — porque; jīryati — quando está envelhecendo; api — mesmo; dehe — o corpo; asmin — neste; jīvita-āśā — o desejo de continuar vivendo; balīyasī — muito forte.
Se alguém chegar ao ponto de considerar o corpo como “meu” em vez de “eu”, decerto não considerará o corpo tão querido quanto o próprio eu. Afinal, mesmo quando o corpo fica velho e inútil, o desejo de continuar vivendo permanece forte.
SIGNIFICADO—A expressão mamatā-bhāk é muito significativa neste contexto. Um homem tolo e qualquer pensa: “Eu sou este corpo.” Alguém já inteligente, de maior discriminação, pensa: “Este é o meu corpo.” Na literatura e folclore dos diversos povos, encontramos a história comum da pessoa velha e decrépita que sonha em obter um corpo novo e jovem. Logo, até homens banais têm alguma noção acerca da autorrealização, compreendendo por instinto que é possível para a alma existir em muitos corpos diferentes.
Apesar de o corpo de alguém inteligente ficar velho e inútil, tal pessoa continua com o forte desejo de viver, mesmo sabendo que o corpo não pode viver muito tempo mais. Isso indica que, pouco a pouco, ele está se conscientizando de que o eu é mais importante do que o corpo. Assim, o mero desejo de viver pode indiretamente levá-lo a uma compreensão preliminar da autorrealização. E neste caso também, seu apego básico é ao próprio eu e não àquilo que supostamente lhe pertence.
Pode-se salientar que toda a discussão entre o rei Parīkṣit e Śukadeva Gosvāmī sobre a afeição ao próprio eu tem como finalidade levantar o assunto concernente ao motivo de as vacas e esposas dos vaqueiros de Vṛndāvana considerarem Kṛṣṇa mais querido do que o próprio eu delas e decerto mais querido do que seus próprios filhos. A discussão, então, prossegue.