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VERSO 24

āsīnaḥ saṁviśaṁs tiṣṭhan
bhuñjānaḥ paryaṭan mahīm
cintayāno hṛṣīkeśam
apaśyat tanmayaṁ jagat

āsīnaḥ — ao sentar-se confortavelmente em sua sala de estar ou no trono; saṁviśan — ou ao deitar-se na cama; tiṣṭhan — ou onde quer que estivesse; bhuñjānaḥ — enquanto comia; paryaṭan — enquanto caminhava ou locomovia-se; mahīm — no solo, indo de uma a outra parte; cintayānaḥ — sempre pensando inamistosamente em; hṛṣīkeśam — a Suprema Personalidade de Deus, o controlador de tudo; apaśyat — observava; tat-mayam — consistindo nEle (Kṛṣṇa), e em nada mais; jagat — o mundo inteiro.

Ao sentar-se em seu trono ou em sua sala de estar, ao deitar-se na cama, ou, na verdade, onde quer que estivesse, e enquanto comia, dormia ou caminhava, Kaṁsa via apenas seu inimigo, o Senhor Su­premo, Hṛṣīkeśa. Em outras palavras, pensando em seu inimigo onipenetrante, Kaṁsa tornou-se desfavoravelmente consciente de Kṛṣṇa.

SIGNIFICADO—Śrīla Rūpa Gosvāmī descreve o mais refinado padrão de serviço devocional como ānukūlyena kṛṣṇānuśīlanam, ou cultivar a consciên­cia de Kṛṣṇa favoravelmente. Kaṁsa, é claro, também era consciente de Kṛṣṇa, mas, como tratava Kṛṣṇa por seu inimigo, muito embo­ra estivesse absorto em plena consciência de Kṛṣṇa, sua consciência de Kṛṣṇa não era favorável à sua existência. A consciência de Kṛṣṇa, favoravelmente cultivada, torna alguém felicíssimo, tanto que a pessoa consciente de Kṛṣṇa não considera kaivalya-sukham, ou imergir na existência de Kṛṣṇa, como um grande ganho. Kaivalyaṁ narakāya­te. Para aquele que é consciente de Kṛṣṇa, até mesmo imergir na existência de Kṛṣṇa, ou atingir o Brahman, como almejam os imper­sonalistas, é algo desagradável. Kaivalyaṁ narakāyate tridaśa-pūr ākāśa-puṣpāyate. Os karmīs desejam ser promovidos aos planetas celestiais, mas a pessoa consciente de Kṛṣṇa considera essa promoção um fogo­-fátuo, que não possui utilidade alguma. Durdāntendriya-kāla-sarpa-paṭalī protkhāta-daṁṣṭrāyate. Os yogīs tentam controlar seus sentidos e, dessa maneira, tornarem-se felizes, mas a pessoa consciente de Kṛṣṇa não se importa com os métodos de yoga. Ela não se preocupa nem mesmo com o maior dos inimigos, os sentidos, que são comparados a serpentes. Para alguém consciente de Kṛṣṇa e que cultiva favoravelmente a cons­ciência de Kṛṣṇa, a felicidade concebida pelos karmīs, jñānīs e yogīs é de importância inferior. Kaṁsa, entretanto, devido ao fato de cul­tivar a consciência de Kṛṣṇa de outra maneira – isto é, inamistosa­mente – sentia-se mal em todos os afazeres de sua vida; sentado, dormindo, caminhando ou comendo, ele sempre estava em perigo. Essa é a diferença entre o devoto e o não-devoto. O não-devoto ou ateísta também cultiva a consciência de Deus – tentando evitar Deus em tudo. Por exemplo, os supostos cientistas que querem criar a vida através de uma combinação de elementos químicos conside­ram os elementos materiais externos como supremos. Esses cientis­tas não gostam da ideia de que a vida é parte integrante do Senhor Supremo. Como se afirma claramente na Bhagavad-gītā (mamaivāṁśo jīva-loke jīva-bhūtaḥ), as entidades vivas não surgem de uma combinação de elementos materiais, tais como terra, água, ar e fogo, senão que são porções separadas da Suprema Personalidade de Deus. Se alguém pode entender a posição da entidade viva como uma porção separada da Suprema Personalidade de Deus, estudan­do a natureza da entidade viva, poderá entender a natureza da Divindade Suprema, uma vez que a entidade viva é uma amostra fragmentária da Divindade. Porém, como não estão interessados em consciência de Deus, os ateístas tentam ser felizes cultivando a consciência de Kṛṣṇa de várias maneiras desfavoráveis.

Embora estivesse sempre absorto em pensar em Hari, a Suprema Persona­lidade de Deus, Kaṁsa não se sentia feliz. O devoto, entretanto, quer sentado em um trono, quer debaixo de uma árvore, sempre é feliz. Śrīla Rūpa Gosvāmī renunciou ao gabinete de ministro do governo para sentar-se sob uma árvore, mas ele era feliz. Tyaktvā tūrṇam aśeṣa-maṇḍalapati-śreṇīṁ sadā tucchavat (Ṣaḍ-gosvāmy-aṣṭaka 4). Ele não se importava com sua confortável posição de ministro; em Vṛndāvana, ele se sentia feliz mesmo debaixo de uma árvore, servindo favoravelmente à Suprema Personalidade de Deus. Essa é a diferença entre o devoto e o não-devoto. Para o não-devoto, o mundo está cheio de problemas, ao passo que, para o devoto, o mundo inteiro transborda de felicidade.

viśvaṁ pūrṇa-sukhāyate vidhi-mahendrādiś ca kīṭāyate
yat-kāruṇya-kaṭākṣa-vaibhavavatāṁ taṁ gauram eva stumaḥ

(Caitanya-candrāmṛta 95)

Essa posição confortável do devoto pode ser alcançada pela miseri­córdia do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Yasmin sthito na duḥkhena guruṇāpi vicālyate (Bhagavad-gītā 6.22). Mesmo quando é aparentemente posto em grande dificuldade, o devoto jamais se perturba.

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