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VERSO 27

ekāyano ’sau dvi-phalas tri-mūlaś
catū-rasaḥ pañca-vidhaḥ ṣaḍ-ātmā
sapta-tvag aṣṭa-viṭapo navākṣo
daśa-cchadī dvi-khago hy ādi-vṛkṣaḥ

.

eka-ayanaḥ — o corpo de um ser vivo comum depende por comple­to dos elementos materiais; asau — isto; dvi-phalaḥ — neste corpo, nós nos sujeitamos à felicidade e ao sofrimento materiais, os quais resultam do karma; tri-mūlaḥ — tendo três raízes, os três modos da natureza (bondade, paixão e ignorância), com base nos quais o corpo é criado; catuḥ-rasaḥ — quatro rasas, ou sabores[1]; pañca-vidhaḥ — que consistem em cinco sentidos com os quais se adquire conhecimento (os olhos, os ouvidos, o nariz, a língua e o tato); ṣaṭ-ātmā — seis circunstâncias (lamentação, ilusão, velhice, morte, fome e sede); sapta-tvak — que tem sete coberturas (pele, sangue, músculo, gordura, osso, medula e sêmen); aṣṭa-viṭapaḥ — oito galhos (os cinco elementos grosseiros, ou seja, terra, água, fogo, ar e éter, bem como mente, inteligência e ego); nava-akṣaḥ — nove orifícios; daśa-chadī — dez espécies de ar vital, que se assemelham às folhas de uma árvore; dvi-khagaḥ — dois pássaros (a alma individual e a Superalma); hi — na verdade; ādi-vṛkṣaḥ — esta é a árvore, ou construção, original do corpo mate­rial, quer individual, quer universal.

[1] Assim como a raiz de uma árvore bebe água (rasa) da terra, o corpo saboreia dharma, artha, kāma e mokṣa – religião, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação. Essas são quatro classes de rasas, ou sabores.

O corpo [o corpo total e o corpo individual têm a mesma composição] pode ser chamado figurativamente de “a árvore original”. A partir dessa árvore, cujo solo que a mantém é a natureza material, surgem duas espécies de frutos – o gozo trazido pela felicidade e o sofrimento produzido pelo infortúnio. A causa da árvore, formando três raízes, é a associação com os três modos da natureza material – bondade, paixão e ignorância. Os frutos da felicidade corpórea têm quatro sabores – religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação –, que são experimentados através dos cinco sentidos com os quais se adquire conhecimento em meio a seis circunstâncias: lamentação, ilusão, velhice, morte, fome e sede. As sete camadas de casca que cobrem a árvore são pele, sangue, músculo, gordura, osso, medula e sêmen, e os oito galhos da árvore são os cinco elementos grosseiros e os três elementos sutis, isto é, terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego. A árvore do corpo tem nove orifícios – os olhos, os ouvidos, as narinas, a boca, o reto e os órgãos genitais –, bem como dez folhas, que são os dez ares que passam através do corpo. Nesta árvore do corpo, pousam dois pássaros: um é a alma individual, e o outro, a Superalma.
 

SIGNIFICADO—Este mundo material é composto de cinco elementos principais – terra, água, fogo, ar e éter –, todos os quais emanam de Kṛṣṇa. Embora os cientistas materialistas talvez aceitem esses cinco elemen­tos primários como a causa da manifestação material, os estados grosseiro e sutil desses elementos são produzidos por Kṛṣṇa, cuja potência marginal também dá origem às entidades vivas que atuam neste mundo material. O sétimo capítulo da Bhagavad-gītā afirma claramente que toda a manifestação cósmica é uma combinação de duas energias de Kṛṣṇa – a energia superior e a energia inferior. As entidades vivas são Sua energia superior, e os elementos mate­riais inanimados são Sua energia inferior. Na fase inativa, tudo re­pousa em Kṛṣṇa.

Os cientistas materialistas não podem fazer essa análise completa da estrutura do corpo material. A análise dos cientistas materialis­tas refere-se apenas à matéria inanimada, mas isso é inadequado, pois a entidade viva é inteiramente distinta da estrutura corpórea material. Na Bhagavad-gītā (7.5), o Senhor diz:

apareyam itas tv anyāṁ
prakṛtiṁ viddhi me parām
jīva-bhūtāṁ mahā-bāho
yayedaṁ dhāryate jagat

“Além desta natureza inferior, ó Arjuna de braços poderosos, existe Minha energia superior, que consiste em todas as entidades vivas que estão lutando com a natureza material e sustentam o universo.” Embora emanem de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, os elementos materiais são elementos separados e são mantidos pelos elementos vivos.

Como se indica através da palavra dvi-khagaḥ, os elementos vivos deste corpo assemelham-se a dois pássaros pousados em uma árvore. Kha significa “céu”, e ga, “aquele que voa”. Logo, a palavra dvi­-khagaḥ refere-se a pássaros. Na árvore do corpo, existem dois pássaros, ou dois elementos vivos, e eles são sempre distintos. Na Bhagavad-gītā (13.3), o Senhor diz que kṣetra-jñaṁ cāpi māṁ viddhi sarva-kṣetreṣu bhārata: “Ó descendente de Bharata, deves entender que, em todos os corpos, também sou o conhecedor.” O kṣetra-jña, o proprietário do corpo, também se chama khaga, a entidade viva.

Dentro do corpo, há dois kṣetra-jñas – a alma individual e a Supe­ralma. A alma individual é proprietária do seu corpo individual, mas a Superalma está presente no corpo de todas as entidades vivas. Semelhante análise e compreensão completa da estrutura cor­pórea pode ser obtida apenas na literatura védica.

Quando dois pássaros adentram a copa de uma árvore, pode-se considerar tolamente que os pássaros se tornaram unos com a árvore ou fundiram-se nela, mas não é isso o que realmente ocorre. Em vez disso, cada pássaro mantém sua identidade individual. De modo semelhante, a alma individual e a Superalma não se tornam unas, nem se fundem na matéria. A entidade viva está em íntimo contato com a matéria, mas isso não quer dizer que ela se funde nela ou mistura-se com ela (asaṅgo hy ayaṁ puruṣaḥ), embora os cientistas materialistas considerem erroneamente que o orgânico e o inorgâni­co, ou o animado e o inanimado, estejam integrados um ao outro.

O conhecimento védico tem sido mantido confinado ou escondido, mas todo ser humano precisa realmente compreendê-lo. A moderna civilização baseada na ignorância está ocupada em analisar apenas o corpo, o que leva à conclusão errada de que a força viva dentro do corpo é gerada sob certas condições materiais. As pessoas não têm informação acerca da alma, mas este verso fornece a expli­cação perfeita de que existem duas forças vivas (dvi-khaga): a alma individual e a Superalma. A Superalma está presente em todos os corpos (īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati), ao passo que a alma individual se situa apenas em seu próprio corpo (dehī) e transmigra de um corpo a outro.

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