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VERSO 30

tvayy ambujākṣākhila-sattva-dhāmni
samādhināveśita-cetasaike
tvat-pāda-potena mahat-kṛtena
kurvanti govatsa-padaṁ bhavābdhim

tvayi — em Vós; ambuja-akṣa — ó Senhor de olhos de lótus; akhila­-sattva-dhāmni — que sois a causa que origina toda a existência, a pessoa da qual tudo emana e na qual todas as potências residem; samādhinā — através da meditação constante e absorção completa (em pensar em Vós, a Suprema Personalidade de Deus); āveśita — plenamente absortos, plenamente ocupados; cetasā — mas mediante essa mentalização; eke — o processo de pensar sempre e unicamente em Vossos pés de lótus; tvat-pāda-potena — subindo a bordo de semelhante barco, que são Vossos pés de lótus; mahat-kṛtena — median­te esta ação que é considerada a existência original mais poderosa ou que é executada pelos mahājanas; kurvanti — eles fazem; govatsa­-padam — como a pegada de um bezerro; bhava-abdhim — o grande oceano de ignorância.

Ó Senhor de olhos de lótus, concentrando-se em meditar em Vossos pés de lótus, os quais são o reservatório de toda a existência, e aceitando esses pés de lótus como o barco no qual se pode cruzar o oceano da ignorância, seguem-se os passos dos mahājanas (santos, sábios e devotos grandiosos). Mediante esse simples processo, pode-se cruzar o oceano de ignorância tão facilmente como se pode pular sobre a pegada de um bezerro.

SIGNIFICADO—O verdadeiro objetivo da vida é cruzar o oceano da ignorância, no qual há repetidos nascimentos e mortes. Todavia, aqueles que habitam na escuridão da ignorância não conhecem esse objetivo. Em vez disso, sendo arrastados pelas ondas da natureza material (prakṛteḥ kriyamāṇāni guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ), submetem-se às tribulações de mṛtyu-saṁsāra-vartmani, repetidos nascimentos e mortes. Mas as pessoas que, através da associação com os devotos, alcançaram o conhecimento, seguem os mahājanas (mahat-kṛtena). Semelhante pessoa sempre concentra sua mente nos pés de lótus do Senhor e executa pelo menos uma das nove variedades de serviço devocional (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ smaraṇaṁ pāda-sevanam). Mediante esse simples processo, pode-se cruzar o intransponível oceano da ignorância.

Qualquer forma de serviço devocional é poderosa. Śrī-viṣṇoḥ śravaṇe parīkṣid abhavad vaiyāsakiḥ kīrtane. (Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.265) De acordo com este verso, Mahārāja Parīkṣit libertou-se, concentrando toda a sua mente em ouvir o santo nome, os atribu­tos e os passatempos do Senhor. De modo semelhante, Śukadeva Gosvāmī fixou-se em glorificar o Senhor e, narrando assuntos con­cernentes a Kṛṣṇa, os quais formam todo o Śrīmad-Bhāgavatam, ele também se libertou. Também é possível libertar-se simples­mente através de sakhya, ter um comportamento amigável com o Senhor. Esse é o poder do serviço devocional, como aprendemos com os exem­plos estabelecidos por muitos devotos puros do Senhor.

svayambhūr nāradaḥ śambhuḥ
kumāraḥ kapilo manuḥ
prahlādo janako bhīṣmo
balir vaiyāsakir vayam

(Śrīmad-Bhāgavatam 6.3.20)

Temos de seguir os passos desses devotos, pois, através desse processo simples, pode-se cruzar o grande oceano da ignorância, assim como alguém pode saltar uma pequena pegada criada pelo casco de um bezerro.

Aqui, o Senhor é descrito como ambujākṣa, ou pessoa de olhos de lótus. Vendo os olhos do Senhor, os quais são comparados a flores de lótus, a pessoa torna-se tão satisfeita que não quer dirigir seus olhos a nenhuma outra parte. Pelo simples fato de ver a forma trans­cendental do Senhor, o devoto logo se absorve por completo no Senhor dentro de seu coração. Essa absorção se chama samādhi. Dhyānāvasthita-tad-gatena manasā paśyanti yaṁ yoginaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 12.13.1) O yogī absorve-se plenamente em pensar na Suprema Per­sonalidade de Deus, pois ele se ocupa apenas em pensar no Senhor dentro do coração. Afirma-se também:

samāśritā ye pada-pallava-plavaṁ
mahat-padaṁ puṇya-yaśo murāreḥ
bhavāmbudhir vatsa-padaṁ paraṁ padaṁ
padaṁ padaṁ yad vipadāṁ na teṣām

“Para quem aceitou como seu barco os pés de lótus do Senhor, o qual é o refúgio da manifestação cósmica e é famoso como Murāri, o inimigo do demônio Mura, o oceano do mundo material é como a água contida na pegada de um bezerro. Sua meta é paraṁ padam, ou Vaikuṇṭha, o lugar onde não há sofrimentos materiais, e não o lugar onde há perigo a cada passo.” (Śrīmad-Bhāgavatam 10.14.58) Esse processo é aqui recomendado por autoridades como o senhor Brahmā e o senhor Śiva (svayambhūr nāradaḥ śambhuḥ), e, portanto, devemos aceitar esse processo para transcendermos a ignorância. Isso é muito fácil, mas devemos seguir os passos das grandes personalidades, e, então, o sucesso será possível.

Com referência à palavra mahat-kṛtena, também é significativo que o processo seguido pelos grandes devotos serve não apenas para eles, mas também para os demais. Se as condições se tornam fáceis, devem favorecer a pessoa que as tornou fáceis e também os outros que seguem os mesmos princípios. O processo encontrado neste verso que ensina como cruzar o oceano da ignorância é fácil não apenas para o devoto, mas também para as pessoas comuns que seguem o devoto (mahājano yena gataḥ sa panthāḥ).

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