VERSO 37
śṛṇvan gṛṇan saṁsmarayaṁś ca cintayan
nāmāni rūpāṇi ca maṅgalāni te
kriyāsu yas tvac-caraṇāravindayor
āviṣṭa-cetā na bhavāya kalpate
śṛṇvan — constantemente ouvindo sobre o Senhor (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ); gṛṇan — cantando ou recitando (o santo nome do Senhor e Suas atividades); saṁsmarayan — lembrando (pensando constantemente nos pés de lótus do Senhor e em Sua forma); ca — e; cintayan — contemplando (as atividades transcendentais do Senhor); nāmāni — Seus nomes transcendentais; rūpāṇi — Suas formas transcendentais; ca — também; maṅgalāni — que são todos transcendentais e, portanto, auspiciosos; te — de Vossa Onipotência; kriyāsu — em ocupar-se no serviço devocional; yaḥ — aquele que; tvat-caraṇa-aravindayoḥ — aos Vossos pés de lótus; āviṣṭa-cetāḥ — o devoto que está inteiramente absorto (em tais atividades); na — não; bhavāya — para a plataforma material; kalpate — se qualifica.
Mesmo enquanto se ocupam em várias atividades, os devotos cujas mentes absorvem-se apenas em Vossos pés de lótus, e que sempre ouvem, cantam e contemplam Vossos nomes e formas transcendentais, e que induzem os outros a lembrarem-se desses nomes e formas, vivem no plano transcendental e, dessa maneira, podem entender a Suprema Personalidade de Deus.
SIGNIFICADO—Neste verso, temos a explicação de como se pode praticar o bhakti-yoga. Śrīla Rūpa Gosvāmī disse que todo aquele que dedicou sua vida a serviço do Senhor (īhā yasya harer dāsye) através de suas atividades, mente e palavras (karmaṇā manasā girā), em qualquer posição de vida que esteja (nikhilāsv apy avasthāsu), deixou de ser condicionado, pois já é liberado (jīvan-muktaḥ sa ucyate). Muito embora esteja em um corpo material, esse devoto nada tem a ver com esse corpo, pois está situado transcendentalmente. Nārāyaṇa-parāḥ sarve na kutaścana bibhyati: como se ocupa em atividades transcendentais, o devoto não teme estar materialmente corporificado. (Śrīmad-Bhāgavatam 6.17.28) Ilustrando essa posição liberada, Śrī Caitanya Mahāprabhu orou que mama janmani janmanīśvare bhavatād bhaktir ahaitukī tvayi: “Tudo o que desejo em Minha vida é Vosso serviço devocional imotivado, nascimento após nascimento.” (Śikṣāṣṭaka 4) Mesmo que um devoto, pela vontade suprema do Senhor, nasça neste mundo material, ele continua seu serviço devocional. Quando o rei Bharata cometeu um erro e, em sua vida seguinte, tornou-se um veado, seu serviço devocional não foi descontinuado, embora tenha recebido um castigo suave devido à sua negligência. Nārada Muni diz que mesmo que alguém caia da plataforma de serviço devocional, ele não está perdido, ao passo que os não-devotos estão inteiramente perdidos porque não se ocupam em prestar serviço. A Bhagavad-gītā (9.14), portanto, recomenda que todos sempre se ocupem pelo menos em cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa:
satataṁ kīrtayanto māṁ
yatantaś ca dṛḍha-vratāḥ
namasyantaś ca māṁ bhaktyā
nitya-yuktā upāsate
“Sempre cantando Minhas glórias, esforçando-se com muita determinação, prostrando-se diante de Mim, as grandes almas adoram-Me perpetuamente com devoção.”
Ninguém deve abandonar o processo de serviço devocional, que é realizado de nove diferentes maneiras (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ smaraṇaṁ pāda-sevanam etc.). O processo mais importante é ouvir (śravaṇam) o guru, os sādhus e os śāstras – o mestre espiritual, os ācāryas santos e a literatura védica. Sādhu-śāstra-guru-vākya, cittete kariyā aikya. Não devemos ouvir os comentários e explicações dos não-devotos, pois isso é estritamente proibido por Śrīla Sanātana Gosvāmī, que cita o Padma Purāṇa:
avaiṣṇava-mukhodgīrṇaṁ
pūtaṁ hari-kathāmṛtam
śravaṇaṁ naiva kartavyaṁ
sarpocchiṣṭaṁ yathā payaḥ
Devemos seguir à risca esse preceito e nunca procurar ouvir os māyāvādīs, os impersonalistas, os niilistas, os políticos ou os falsos eruditos. Evitando estritamente semelhante associação inauspiciosa, devemos apenas ouvir os devotos puros. Śrīla Rūpa Gosvāmī, portanto, recomenda que śrī-guru-padāśrayaḥ: deve-se buscar refúgio nos pés de lótus de um devoto puro que saiba agir como guru. Caitanya Mahāprabhu aconselha que guru é aquele que segue estritamente as instruções da Bhagavad-gītā: yare dekha tare kaha ‘kṛṣṇa’-upadeśa. (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 7.128) Um ilusionista, um mágico ou aquele que segue a carreira acadêmica apenas para falar tolices não são gurus. Em vez disso, guru é aquele que apresenta a Bhagavad-gītā, as instruções de Kṛṣṇa, como elas são. Śravaṇa é muito importante; deve-se ouvir o sādhu, o guru e os śāstras que sejam vaiṣṇavas.
Neste verso, a palavra kriyāsu, que significa “através do trabalho manual”, ou “através do trabalho”, é importante. Todos devem ocupar-se em prestar serviço prático ao Senhor. Em nosso movimento da consciência de Kṛṣṇa, todas as nossas atividades concentram-se em distribuir a literatura de Kṛṣṇa. Isso é muito importante. Podemos aproximar-nos de qualquer pessoa e estimulá-la a ler publicações sobre Kṛṣṇa para que, no futuro, ela também possa tornar-se um devoto. Tais atividades são recomendadas neste verso. Kriyāsu yas tvac-caraṇāravindayoḥ. Tais atividades sempre farão os devotos lembrarem-se dos pés de lótus do Senhor. Concentrando-se plenamente em distribuir livros para servir a Kṛṣṇa, as pessoas podem absorver-se em Kṛṣṇa. Isso se chama samādhi.