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VERSO 8

devakyā jaṭhare garbhaṁ
śeṣākhyaṁ dhāma māmakam
tat sannikṛṣya rohiṇyā
udare sanniveśaya

devakyāḥ — de Devakī; jaṭhare — dentro do ventre; garbham — o embrião; śeṣa-ākhyam — conhecido como Śeṣa, a expansão plenária de Kṛṣṇa; dhāma — a expansão plenária; māmakam — Minha; tat — a Ele; sannikṛṣya — atraindo; rohiṇyāḥ — de Rohiṇī; udare — para dentro do ventre; sanniveśaya — transfere facilmente.

Dentro do ventre de Devakī, encontra-se Minha expansão plenária parcial, conhecida como Saṅkarṣaṇa ou Śeṣa. Sem dificuldade, transfere-O para o ventre de Rohiṇī.

SIGNIFICADO—A primeira expansão plenária de Kṛṣṇa é Baladeva, também conhecido como Śeṣa. A encarnação da Suprema Personalidade de Deus manifesta sob a forma de Śeṣa sustenta todo o universo, e a mãe eterna dessa encarnação é mãe Rohiṇī. “Porque estou indo para o ventre de Devakī”, disse o Senhor a Yogamāyā, “a encarnação Śeṣa já Se estabeleceu ali e fez arranjos adequados para que Eu possa viver no ventre. Agora, Ele deve entrar no ventre de Rohiṇī, Sua mãe eterna.”

Com relação a isso, pode-se perguntar como a Suprema Persona­lidade de Deus, que sempre está situado transcendentalmente, pôde entrar no ventre de Devakī, que antes abrigara seis asuras, os ṣaḍ-garbhas. Isso significa que os corpos dos ṣad-garbhāsuras e da transcendental Suprema Personalidade de Deus eram iguais? Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura apresenta-nos a seguinte resposta.

Toda a criação, bem como suas partes individuais, são uma ex­pansão da energia da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, muito embora entre no mundo material, o Senhor, ao mesmo tempo, não entra. Isso é explicado pelo próprio Senhor na Bhagavad-gītā (9.45):

mayā tatam idaṁ sarvaṁ
jagad avyakta-mūrtinā
mat-sthāni sarva-bhūtāni
na cāhaṁ teṣv avasthitaḥ

na ca mat-sthāni bhūtāni
paśya me yogam aiśvaram
bhūta-bhṛn na ca bhūta-stho
mamātmā bhūta-bhāvanaḥ

“Sob Minha forma imanifesta, Eu penetro este universo inteiro. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles. E, mesmo assim, os elementos criados não repousam em Mim. Observa Minha opulência mística! Embora Eu seja o mantenedor de todas as entidades vivas e embora esteja em toda parte, não faço parte desta manifestação cósmica, pois Meu eu é a própria fonte da criação.” Sarvaṁ khalv idaṁ brahma. Tudo é uma expansão do Brahman, a Suprema Personalidade de Deus, mas tudo o que existe não é a Divindade Suprema, e Ele não está em toda parte. Tudo repousa nEle e, apesar disso, não repousa nEle. Isso pode ser explicado apenas através da filosofia acintya-bhedābheda. Entretan­to, essas verdades só podem ser entendidas pelos devotos puros, pois o Senhor diz na Bhagavad-gītā (18.55), bhaktyā mām abhijānāti yāvān yaś cāsmi tattvataḥ: “É unicamente através do serviço devocional que alguém pode entender a Suprema Personalidade como Ele é.” Muito embora o Senhor não possa ser entendido por pessoas comuns, pode-se aprender este princípio nos śāstras.

O devoto puro sempre está transcendentalmente situado porque executa nove diferentes processos de bhakti-yoga (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ smaranaṁ pāda-sevanam/ arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ sakhyam ātma-nivedanam). Situado nesse serviço devocional, o de­voto, embora no mundo material, não está no mundo material. No entanto, ele sempre teme: “Porque estou associado com o mundo material, há tantas contaminações que me afetam!” Em vista disso, sentindo temor, ele sempre está em alerta, de modo que ele aos poucos diminui sua associação material.

Simbolicamente, o fato de mãe Devakī viver em um estado de cons­tante medo de Kaṁsa estava purificando-a. O devoto puro deve sempre temer a associação material, e, dessa maneira, todos os asuras que se manifestam como a associação material serão mortos, do mesmo modo que os ṣaḍ-garbhāsuras foram mortos por Kaṁsa. Afirma-se que Marīci surge da mente. Em outras palavras, Marīci é uma en­carnação da mente. Marīci tem seis filhos: Kāma, Krodha, Lobha, Moha, Mada e Mātsarya (luxúria, ira, cobiça, ilusão, loucura e in­veja). A Suprema Personalidade de Deus aparece através do servi­ço devocional puro. Confirma-se isso nos Vedas: bhaktir evainaṁ darśayati. Somente bhakti pode colocar alguém em contato com a Suprema Personalidade de Deus. A Suprema Personalidade de Deus veio do ventre de Devakī, e, portanto, Devakī é uma representação simbólica de bhakti, e Kaṁsa representa, simbolicamente, o medo material. Quando o devoto puro sempre teme a associação material, sua verdadeira posição de bhakti manifesta-se, e ele natu­ralmente perde o interesse pelo gozo material. Quando os seis filhos de Marīci morrem sob a ação desse medo e a pessoa livra-se da con­taminação material, a Suprema Personalidade de Deus aparece no ventre de bhakti. Logo, a sétima gravidez de Devakī significa o apa­recimento da Suprema Personalidade de Deus. Depois que os seis filhos Kāma, Krodha, Lobha, Moha, Mada e Mātsarya são mortos, a encarnação Śeṣa cria uma situação adequada para o aparecimento da Suprema Personalidade de Deus. Em outras palavras, quando a pessoa naturalmente desperta sua consciência de Kṛṣṇa, o Senhor Kṛṣṇa aparece. Essa é a explicação dada por Śrīla Viśvanātha Cakra­vartī Ṭhākura.

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