VERSO 39
vīkṣyālakāvṛta-mukhaṁ tava kuṇdala-śrī
gaṇḍa-sthalādhara-sudhaṁ hasitāvalokam
dattābhayaṁ ca bhuja-daṇḍa-yugaṁ vilokya
vakṣaḥ śriyaika-ramaṇaṁ ca bhavāma dāsyaḥ
vīkṣya — vendo; alaka — por Teu cabelo; āvṛta — coberto; mukham — o rosto; tava — Teu; kuṇḍala — de Teus brincos; śrī — com a beleza; gaṇḍa-sthala — tendo as bochechas; adhara — de Teus lábios; sudham — e o néctar; hasita — sorridentes; avalokam — com olhares; datta — concedendo; abhayam — destemor; ca — e; bhuja-daṇḍa — de Teus braços poderosos; yugam — o par; vilokya — olhando para; vakṣaḥ — Teu peito; śrī — da deusa da fortuna; eka — a única; ramaṇam — fonte de prazer; ca — e; bhavāma — devemos nos tornar; dāsyaḥ — Tuas servas.
Vendo Teu rosto rodeado de cachos de cabelo ondulado, Tuas bochechas embelezadas com brincos, Teus lábios cheios de néctar e Teu olhar sorridente, e vendo também Teus dois imponentes braços, que afastam nosso temor, e Teu peito, que é a única fonte de prazer para a deusa da fortuna, temos de nos tornar Tuas servas.
SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura visiona o relacionamento das gopīs com Kṛṣṇa da seguinte maneira:
“Kṛṣṇa diz: ‘Como quereis tornar-vos Minhas servas, tenho de comprar-vos com algum pagamento, ou estais vos entregando de graça?’
“As gopīs respondem: ‘Desde o despertar de nossa jovem feminilidade, tens estado a nos comprar com um pagamento milhões e milhões de vezes maior do que o suficiente. Esse pagamento é Teu sorridente olhar semelhante a uma joia, que constitui um grande tesouro do qual nunca ouvimos falar nem vimos em nenhum outro lugar.’
“Quando acomodas sobre a cabeça o Teu turbante dourado, Tua serva agirá como camareira, ajeitando-o aos poucos para que ele fique na posição correta. E mesmo quando lhe apontas um dedo ameaçador, tentando a todo custo proibi-la, ela passará a mão por debaixo de Teu turbante e aproveitará a oportunidade para olhar para Teu rosto. Dessa maneira, nós, Tuas servas, desfrutaremos com nossos olhos de Tua abundante doçura.’
“Kṛṣṇa diz: ‘Vossos maridos não tolerarão este comportamento de vossa parte. Eles apresentarão amargas queixas ao rei Kaṁsa, provocando desse modo uma terrível situação para Mim e também para vós.’
“As gopīs dizem: ‘Mas Kṛṣṇa, Teus dois poderosos braços nos deixam destemidas, assim como o fizeram quando ergueste a colina Govardhana para nos proteger do orgulho de Mahendra. Esses braços com certeza matarão aquele detestável Kaṁsa.’
“‘Contudo, por ser uma pessoa religiosa, não posso tornar as esposas alheias Minhas servas.’
“‘Ó joia mais preciosa dentre as personalidades religiosas, podes dizer que recusas fazer das esposas dos vaqueiros Tuas servas, mas, à força, já tiraste Lakṣmī, a esposa de Nārāyaṇa, de Vaikuṇṭha e a estás levando em Teu peito. Por acanhamento, ela assumiu a forma de um cordão dourado em Teu peito e ali obtém seu único prazer.
“‘Além disso, dentro de todos os quatorze mundos, e mesmo acima desses mundos – em Vaikuṇṭhaloka, além deste universo –, jamais rejeitas uma mulher bela, não importando quem seja ou a quem pertença. Sabemos disso muito bem.’”