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VERSO 14

sa eva svaprakṛtyedaṁ
sṛṣṭvāgre tri-guṇātmakam
tad anu tvaṁ hy apraviṣṭaḥ
praviṣṭa iva bhāvyase

saḥ — Ele (a Suprema Personalidade de Deus); eva — na verdade; sva-prakṛtyā — por Vossa energia pessoal (mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram); idam — este mundo material; sṛṣṭvā — após criar; agre — no começo; tri-guṇa-ātmakam — feito dos três modos de energia (sattva-rajas-tamo-guṇa); tat anu — em seguida; tvam — ­Vossa Onipotência; hi — na verdade; apraviṣṭaḥ — embora não entrás­seis; praviṣṭaḥ iva — parece terdes entrado; bhāvyase — assim sois compreendido.

Meu Senhor, sois a própria pessoa que, no começo, criou este mundo material através de Sua energia externa pessoal. Após a criação deste mundo sob o influxo dos três guṇas [sattva, rajas e tamas], parece terdes entrado nele, embora de fato não o tenhais.

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (7.4), a Suprema Personalidade de Deus explica claramente:

bhūmir āpo ’nalo vāyuḥ
khaṁ mano buddhir eva ca
ahaṅkāra itīyaṁ me
bhinnā prakṛtir aṣṭadhā

Este mundo material, que sofre a influência dos três modos da natureza – sattva-guṇa, rajo-guṇa e tamo-guṇa –, é composto de terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego, todos os quais são energias provenientes de Kṛṣṇa, mas Kṛṣṇa, sendo sempre transcendental, está à parte deste mundo material. Aqueles que não têm conhecimento puro pensam que Kṛṣṇa é um produto da matéria e que, como o nosso, o Seu corpo é material (avajānanti māṁ mūḍhāḥ). Entretanto, Kṛṣṇa, na verdade, sempre está à parte deste mundo material.

Vemos na literatura védica que a criação é descrita em relação com o Mahā-Viṣṇu. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (5.35):

eko ’py asau racayituṁ jagad-aṇḍa-koṭiṁ
yac-chaktir asti jagad-aṇḍa-cayā yad-antaḥ
aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-sthaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Adoro Govinda, o Senhor primordial, a Personalidade de Deus original. Através de Sua expansão plenária parcial como Mahā-Viṣṇu, Ele entra na natureza material. Depois, Ele entra em todos os universos como Garbhodakaśāyī Viṣṇu, e entra em todos os elementos, incluindo cada átomo da matéria, como Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Essas manifestações da criação cósmica são inúmeras, tanto nos universos quanto nos átomos individuais.” Govinda manifesta-Se parcialmen­te como o antaryāmī, a Superalma, que entra neste mundo material (aṇḍāntara-stha) e que também está dentro do átomo. Continuando, a Brahma-saṁhitā (5.48) diz:

yasyaika-niśvasita-kālam athāvalambya
jīvanti loma-vilajā jagad-aṇḍa-nāthāḥ
viṣṇur mahān sa iha yasya kalā-viśeṣo
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

Este verso descreve Mahā-Viṣṇu como uma expansão plenária de Kṛṣṇa. Mahā-Viṣṇu deita-Se no Oceano Causal, e, ao exalar, milhões de brahmāṇḍas, ou universos, surgem dos poros do Seu corpo. Em seguida, quando Mahā-Viṣṇu inspira, todos esses brahmāṇḍas desaparecem. Logo, neste mundo material, os milhões de brahmāṇḍas controlados pelos Brahmās e outros semideuses surgem e desa­parecem através da respiração de Mahā-Viṣṇu.

As pessoas tolas pensam que, ao aparecer como filho de Vasudeva, Kṛṣṇa é limitado como uma criança comum. Mas Vasudeva sabia que, embora tivesse aparecido como seu filho, o Senhor não entra­ra no ventre de Devakī e depois saíra de lá. Em vez disso, o Senhor sempre esteve ali. O Senhor Supremo é onipenetrante, presente dentro e fora. Praviṣṭa iva bhāvyase: apenas parecia que Ele entrara no ventre de Devakī e agora aparecia como filho de Vasudeva. O fato de Vasudeva ter manifestado esse conhecimento deixou bem claro que ele sabia como é que esses eventos aconteceram. Vasudeva decerto era um devoto do Senhor dotado de conhecimento pleno, e devemos aprender com devotos como ele. A Bhagavad-gītā (4.34), portanto, recomenda:

tad viddhi praṇipātena
paripraśnena sevayā
upadekṣyanti te jñānaṁ
jñāninas tattva-darśinaḥ

“Tenta aprender a verdade aproximando-te de um mestre espiritual. Faze-lhe perguntas com submissão e presta-lhe serviço. As almas autorrealizadas podem te transmitir conhecimento porque elas são videntes da verdade.” Vasudeva gerou a Suprema Personalidade de Deus, mas tinha pleno conhecimento de como é que o Senhor Supremo aparece e desaparece. Portanto, ele era tattva-darśī, um vidente da verdade, porque viu pessoalmente como a Suprema Verdade Absoluta aparecera como seu filho. Vasudeva não estava em ignorância, pensando que, como a Divindade Suprema aparecera como seu filho, o Senhor Se tornara limitado. O Senhor tem existência ilimitada e é onipenetrante, dentro e fora. Logo, está fora de cogitação Ele aparecer ou desaparecer.

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