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VERSO 31

viśvaṁ yad etat sva-tanau niśānte
yathāvakāśaṁ puruṣaḥ paro bhavān
bibharti so ’yaṁ mama garbhago ’bhūd
aho nṛ-lokasya viḍambanaṁ hi tat

viśvam — toda a manifestação cósmica; yat etat — contendo todas as criações móveis e inertes; sva-tanau — dentro de Vosso corpo; niśā-ante — no momento da devastação; yathā-avakāśam — refúgio em Vosso corpo sem dificuldade; puruṣaḥ — a Suprema Personali­dade de Deus; paraḥ — transcendental; bhavān — Vossa Onipotência; bibharti — mantém; saḥ — esta (Suprema Personalidade de Deus); ayam — esta forma; mama — meu; garbha-gaḥ — entrou em meu ventre; abhūt — assim aconteceu; aho — oh!; nṛ-lokasya — dentro deste mundo material de entidades vivas; viḍambanam — é impossível pensar em; hi — na verdade; tat — esta (classe de concepção).

No momento da devastação, todo o cosmo, contendo todas as entidades móveis e inertes, entra em Vosso corpo transcendental, onde é mantido sem dificuldade. Agora, entretanto, essa forma transcenden­tal nasceu de meu ventre. As pessoas não acreditarão nisso, e eu cairei no ridículo.

SIGNIFICADO—Como se explica no Caitanya-caritāmṛta, o serviço amoroso à Personalidade de Deus é de duas diferentes classes: aiśvarya-pūrṇa, cheio de opulência, e aiśvarya-śīthila, sem opulência. O verdadeiro amor a Deus começa com aiśvarya-śīthila, simplesmente com base no amor puro.

premāñjana-cchurita-bhakti-vilocanena
santaḥ sadaiva hṛdayeṣu vilokayanti
yaṁ śyāmasundaram acintya-guṇa-svarūpaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

(Brahma-saṁhitā 5.38)

Os devotos puros, cujos olhos estão untados com o bálsamo de prema, amor, querem ver a Suprema Personalidade de Deus como Śyāmasundara, Muralīdhara, com uma flauta dançando em Suas duas mãos. Essa é a forma com a qual entram em contato os habi­tantes de Vṛndāvana, todos os quais amam a Suprema Personalidade de Deus como Śyāmasundara, e não como o Senhor Viṣṇu, Nārāyaṇa, que é adorado em Vaikuṇṭha, onde os devotos admiram Sua opulên­cia. Embora não esteja na plataforma de Vṛndāvana, Devakī está perto da plataforma de Vṛndāvana. Na plataforma de Vṛndāvana, a mãe de Kṛṣṇa é mãe Yāśodā, e nas plataformas de Mathurā e Dvārakā, a mãe de Kṛṣṇa é Devakī. Em Mathurā e Dvārakā, o amor pelo Senhor está misturado com o apreço por Sua opulência, mas, em Vṛndāvana, não há manifestação da opulência da Suprema Personalidade de Deus.

Existem cinco fases de serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus – śānta, dāsya, sakhya, vātsalya e mādhurya. Devakī está na plataforma de vātsalya. Ela queria relacionar-se com seu filho eterno, Kṛṣṇa, naquela fase amorosa, e, portanto, ela queria que a Suprema Personalidade de Deus retraísse Sua opulenta forma de Viṣṇu. Ao explicar este verso, Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura esclarece esse fato muito precisamente.

Bhakti, bhagavān e bhakta não pertencem ao mundo material. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (14.26):

māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate
sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate

“Aquele que se ocupa nas atividades espirituais do serviço devocional imaculado transcende imediatamente os modos da natureza ma­terial e eleva-se à plataforma espiritual.” Desde o comecinho de seus empreendimentos em bhakti, a pessoa situa-se na plataforma transcendental. Vasudeva e Devakī, portanto, estando situados em um estado devocional inteiramente puro, estão além deste mundo material e não se sujeitam ao medo material. No mundo transcen­dental, entretanto, devido à devoção pura, também existe um con­ceito referente ao medo, mas que se deve ao amor intenso.

Como se afirma na Bhagavad-gītā (bhaktyā mām abhijānāti yāvān yaś cāsmi tattvataḥ) e como se confirma no Śrīmad-Bhāgavatam (bhaktyāham ekayā grāhyaḥ), sem bhaktī, não se pode entender a situação espiritual do Senhor. Bhakti pode ser considerada em três etapas, chamadas guṇī-bhūta, pradhānī-bhūta e kevala, e, de acordo com essas etapas, há três divisões, chamadas jñāna, jñānamayī e rati, ou prema – isto é, conhecimento simples, amor misturado com conhecimento, e amor puro. Aquele que tem conhecimento simples percebe bem-aventurança transcendental sem variedade. Essa percepção chama-se māna-bhūti. Quando alguém chega à etapa de jñāna­mayī, compreende as opulências transcendentais da Personalidade de Deus. Porém, quando se alcança amor puro, compreende-se a forma transcendental do Senhor como o Senhor Kṛṣṇa ou o Senhor Rāma. Afinal, é isso o que se deseja. Especialmente em mādhurya-rasa, a pessoa fica apegada à Personalidade de Deus (śrī-vigraha-niṣṭha-rūpādi). Então, começam as trocas amorosas entre o Senhor e o devoto.

O significado especial de Kṛṣṇa conservar uma flauta em Suas mãos em Vrajabhūmi, Vṛndāvana, é descrito como mādhurī ... virājate. A forma do Senhor com uma flauta em Suas mãos é muito atra­tiva, e a pessoa que Se sente mais sublimemente atraída é Śrīmatī Rādhārānī, Rādhikā. Ela desfruta da supremamente bem-aventurada associação de Kṛṣṇa. Às vezes, as pessoas não podem entender por que motivo o nome de Rādhikā não é mencionado no Śrīmad-Bhāgavatam. Na verdade, entretanto, pode-se compreender Rādhikā através da palavra ārādhana, que indica que ela desfruta dos mais elevados intercâmbios amorosos com Kṛṣṇa.

Não desejando ser ridicularizada por ter dado à luz Viṣṇu, Deva­kī queria o Kṛṣṇa de duas mãos e, portanto, pediu que o Senhor mudasse Sua forma.

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