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CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Nanda Mahārāja Salvo e Śaṅkhacūḍa Morto

Este capítulo descreve como o Senhor Śrī Kṛṣṇa salvou Seu pai Nanda das garras de uma serpente e libertou um Vidyādhara chama­do Sudarśana da maldição dos sábios Āṅgirasas.

Certo dia, Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros colocaram suas famílias em carros de boi e foram até a floresta Ambikāvana para adorar o senhor Śiva. Após se banharem no rio Sarasvatī e adorarem o senhor Sadāśiva, uma forma do Senhor Viṣṇu, eles decidiram passar a noite na floresta. Enquanto dormiam, uma serpente faminta aproximou-se dali e começou a engolir Nanda Mahārāja. Aterro­rizado, Nanda gritou pedindo por socorro: “Ó Kṛṣṇa! Ó meu filho, por favor, salva esta alma rendida!” Os vaqueiros logo despertaram e começaram a espancar a serpente com tochas de lenha, mas a serpente não soltava Nanda. Então, o Senhor Kṛṣṇa veio e, com Seu pé de lótus, tocou a serpente, que de imediato se libertou de seu corpo de réptil e apareceu em sua forma original de semideus. O semideus lhes contou sobre sua identidade anterior e como fora amaldiçoado por um grupo de sábios. Então, ofereceu louvores aos pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa e, por ordem do Senhor, regressou à sua própria morada.

Posteriormente, durante o festival de Dola-pūrṇimā, Śrī Kṛṣṇa e Baladeva desfrutaram de passatempos na floresta com as jovens de Vraja. As namoradas de Baladeva e as de Kṛṣṇa se juntaram e cantaram sobre as qualidades transcendentais dEles. Quando os dois Senho­res ficaram absortos em cantar a tal ponto que pareciam inebriados, um servo de Kuvera, chamado Śaṅkhacūḍa, adiantou-se descarada­mente e colocou-se a raptar as gopīs. As mocinhas gritaram: “Kṛṣṇa, por favor, salva-nos!”, e Ele e Rāma começaram a perseguir Śaṅkhacūḍa. “Não tenhais medo!”, Kṛṣṇa gritou para as gopīs. Com medo dos Senhores, Śaṅkhacūḍa deixou de lado as gopīs e correu para se salvar. Kṛṣṇa perseguiu-o, alcançou-o bem depressa e, com um golpe de Seu punho, arrancou a joia de Śaṅkhacūḍa junto com sua cabeça. Então, Kṛṣṇa trouxe a joia e a presenteou ao Senhor Baladeva.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Certo dia, os vaqueiros, ansiosos por fazer uma viagem para adorar o senhor Śiva, foram em carros de bois até a floresta de Ambikā.

VERSO 2: Ó rei, após chegarem ali, banharam-se no Sarasvatī e, então, com muita devoção e variada parafernália, adoraram o poderoso senhor Paśupati e sua consorte, a deusa Ambikā.

VERSO 3: Os vaqueiros deram aos brāhmaṇas presentes tais como vacas, ouro, roupas e cereais cozidos misturados com mel. Então, os vaqueiros oraram: “Que o senhor fique satisfeito conosco.”

VERSO 4: Nanda, Sunanda e os outros afortunadíssimos vaqueiros passaram aquela noite à margem do Sarasvatī, observando à risca seus votos. Eles jejuaram, bebendo apenas água.

VERSO 5: Durante a noite, uma cobra enorme e muito faminta apareceu naquela mata. Serpenteando, ela se aproximou do adormecido Nanda Mahārāja e começou a engoli-lo.

VERSO 6: Nas garras da cobra, Nanda Mahārāja gritou: “Kṛṣṇa, Kṛṣṇa, meu querido garoto! Esta enorme serpente está me engolindo! Por favor, salva-me! Sou rendido a Ti!”

VERSO 7: Ao ouvirem os gritos de Nanda, os vaqueiros levantaram-se prontamente e viram que ele estava sendo engolido. Perturbados, eles espancaram a serpente com tochas acesas.

VERSO 8: Contudo, embora as tochas a estivessem queimando, a serpente não soltava Nanda Mahārāja. Então, o Supremo Senhor Kṛṣṇa, o amo dos devotos, chegou àquele lugar e, com Seu pé, tocou a cobra.

VERSO 9: Devido ao toque do divino pé do Senhor Supremo, todas as reações pecaminosas daquela cobra foram destruídas e, em razão disso, ela abandonou seu corpo de serpente e apareceu sob a forma de um adorável Vidyādhara.

VERSO 10: Então, o Supremo Senhor Hṛṣīkeśa interrogou essa personalidade, que estava de pé diante dEle com a cabeça inclinada e cujo corpo, decorado com colares de ouro, brilhava com muito resplendor.

VERSO 11: [O Senhor Kṛṣṇa disse:] Meu caro senhor, pareces muito admirável, resplandescente com tão grande beleza. Quem és? E quem te forçou a assumir este terrível corpo de cobra?

VERSOS 12-13: A serpente respondeu: Sou o célebre Vidyādhara chamado Sudarśana. Eu era muito opulento e belo, e costumava vagar livremente por todas as direções em meu aeroplano. Certa vez, eu vi alguns sábios de aparência desagradável da linhagem de Āṅgirā Muni. Orgulhoso de minha beleza, eu os ridicularizei, e eles, por causa de meu pecado, fizeram-me assumir esta forma inferior.

VERSO 14: Foi de fato para meu benefício que aqueles misericordiosos sábios me amaldiçoaram, pois agora fui tocado pelo pé do supre­mo mestre espiritual de todos os mundos e, assim, libertei-me de toda a inauspiciosidade.

VERSO 15: Meu Senhor, destruís todo o medo daqueles que, temendo este mundo material, refugiam-se em Vós. Devido ao toque de Vossos pés, agora estou livre da maldição dos sábios. Ó destruidor da aflição, por favor, permiti-me regressar a meu planeta.

VERSO 16: Ó mestre do poder místico, ó grande personalidade, ó Senhor dos devotos, rendo-me a Vós. Por favor, ordenai-me como quiserdes, ó Deus supremo, Senhor de todos os senhores do universo.

VERSO 17: Ó infalível, apenas por ver-Vos, libertei-me de imediato do castigo dos brāhmaṇas. Qualquer um que cante Vosso nome purifica a todos os que ouvem seu cantar, bem como a si mesmo. Quanto mais benéfico, então, é o toque de Vossos pés de lótus?

VERSO 18: Recebendo assim a permissão do Senhor Kṛṣṇa, o semideus Sudarśana circungirou-O, prostrou-se para oferecer-Lhe reverência e depois regressou para seu planeta celestial. Assim Nanda Mahā­rāja foi salvo do perigo.

VERSO 19: Os habitantes de Vraja ficaram atônitos ao verem o grande poder de Śrī Kṛṣṇa. Querido rei, eles então completaram sua adoração ao senhor Śiva e regressaram a Vraja, descrevendo respeitosamente ao longo do caminho os poderosos feitos de Kṛṣṇa.

VERSO 20: Certa vez, o Senhor Govinda e o Senhor Rāma, os executores de feitos maravilhosos, estavam brincando na floresta à noite com as mocinhas de Vraja.

VERSO 21: Kṛṣṇa e Balarāma usavam guirlandas de flores e trajes impecáveis, e Seus membros corpóreos estavam belamente enfeitados e ungidos. As mulheres cantavam Suas glórias de modo encantador, apegadas a Eles pela afeição.

VERSO 22: Os dois Senhores louvaram o cair da noite, anunciada pelo nascer da Lua e o aparecimento das estrelas, a brisa com perfu­me de lótus e as abelhas inebriadas com a fragrância das flores de jasmim.

VERSO 23: Kṛṣṇa e Balarāma cantavam, produzindo simultaneamente toda a escala musical. O canto dEles criava felicidade para a mente e ouvidos de todos os seres vivos.

VERSO 24: Ao ouvirem aquele som, as gopīs ficaram atônitas. Esquecendo-se de si, ó rei, elas não notaram que suas finas roupas estavam se soltando e que seu cabelo e guirlandas se desalinharam.

VERSO 25: Enquanto o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma brincavam segundo Sua livre vontade e cantavam ao ponto de parecerem inebriados, um servo de Kuvera chamado Śaṅkhacūḍa apareceu em cena.

VERSO 26: Ó rei, mesmo enquanto os dois Senhores testemunhavam isso, Śaṅkhacūḍa insolentemente raptou as mulheres e começou a fugir com elas rumo ao norte. As mulheres, que haviam aceitado Kṛṣṇa e Balarāma como seus Senhores, começaram a chamar por Eles.

VERSO 27: Ouvindo Suas devotas a gritar: “Kṛṣṇa! Rāma!”, e vendo que elas se assemelhavam a vacas sendo roubadas por um ladrão, Kṛṣṇa e Balarāma começaram a correr atrás do demônio.

VERSO 28: Os Senhores gritaram em resposta: “Não temais!” Então, apanharam pedras e perseguiram a toda a velocidade aquele mais baixo dos Guhyakas, que fugia rapidamente.

VERSO 29: Ao ver que os dois vinham em direção a ele como as forças personificadas do Tempo e da Morte, Śaṅkhacūḍa encheu-se de ansiedade. Confuso, ele abandonou as mulheres e fugiu para salvar sua vida.

VERSO 30: O Senhor Govinda perseguia o demônio para onde quer que ele corresse, ávido por apanhar a joia de sua cabeça. Enquanto isso, o Senhor Balarāma fazia a proteção das mulheres.

VERSO 31: O poderoso Senhor alcançou Śaṅkhacūḍa, que se achava a uma grande distância, como se este estivesse bem ali perto, meu que­rido rei, e então, com Seu punho, o Senhor arrancou a cabeça do perverso demônio junto com sua joia.

VERSO 32: Tendo assim matado o demônio Śaṅkhacūḍa e tomado sua joia brilhante, o Senhor Kṛṣṇa deu a mesma a Seu irmão mais velho com grande satisfação, enquanto as gopīs observavam.

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