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CAPÍTULO TRINTA E OITO

A Chegada de Akrūra a Vṛndāvana

Este capítulo descreve a viagem que Akrūra fez de Mathurā para Vṛndāvana, sua meditação em Kṛṣṇa e Balarāma durante a viagem e a honra que os dois Senhores ofereceram a Akrūra em sua chegada.

Na manhã do dia seguinte ao que Kaṁsa lhe ordenara que trou­xesse Kṛṣṇa e Balarāma para Mathurā, Akrūra preparou sua quadriga e partiu para Gokula. Enquanto viajava, ele pensava assim: “Estou prestes a obter a grande boa fortuna de ver os pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa, que são adorados por Brahmā, Rudra e os outros semideuses. Embora Kaṁsa seja um inimigo do Senhor Supremo e de Seus de­votos, ainda assim, é por causa da graça de Kaṁsa que conseguirei esta grande dádiva de ver o Senhor. Quando eu avistar Seus pés de lótus, todas as minhas reações pecaminosas serão destruídas de ime­diato. Descerei de minha quadriga e cairei aos pés de Kṛṣṇa e Bala­rāma, e, ainda que eu tenha sido enviado por Kaṁsa, o onisciente Śrī Kṛṣṇa decerto não terá nenhuma animosidade contra mim.” Enquan­to pensava assim consigo mesmo, Akrūra chegou a Gokula ao pôr do sol. Depois de descer de sua quadriga e pisar no campo de pastagem, ele começou a rolar na poeira em grande êxtase.

Akrūra, então, continuou até chegar a Vraja. Ao ver Kṛṣṇa e Balarāma, ele caiu a Seus pés de lótus, e ambos os Senhores o abraçaram. Em seguida, levaram-no a Sua residência, perguntaram-lhe sobre como fora a viagem e honraram-no de várias maneiras – oferecendo-lhe água para lavar os pés, arghya, um assento e assim por diante. Eles aliviaram-no de seu cansaço massageando-lhe os pés e serviram-lhe um delicioso banquete. Mahārāja Nanda também honrou Akrūra com muitas palavras doces.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Depois de passar a noite na cidade de Mathurā, o magnânimo Akrūra montou em sua quadriga e partiu para a vila pastoril de Nanda Mahārāja.

VERSO 2: Enquanto viajava pela estrada, o magnânimo Akrūra sentia tremenda devoção pela Personalidade de Deus de olhos de lótus, e assim passou a tecer as seguintes considerações.

VERSO 3: [Śrī Akrūra pensou:] Que atos piedosos pratiquei, a que seve­ras austeridades me submeti, que adoração executei ou que cari­dade fiz para que hoje eu possa ver o Senhor Keśava?

VERSO 4: Visto que sou um materialista absorto apenas em gozo dos sentidos, julgo ser tão difícil para mim conseguir esta oportunidade de ver o Senhor Uttamaḥśloka quanto seria para alguém que nasceu súdra ter permissão de recitar os mantras védicos.

VERSO 5: Mas chega desta conversa! Afinal, mesmo uma alma caída como eu pode ter a oportunidade de contemplar o infalível Senhor Supremo, pois uma das almas condicionadas que está sendo arrebatada pelo rio do tempo pode às vezes alcançar a margem.

VERSO 6: Hoje, todas as minhas reações pecaminosas se erradicarão e meu nascimento logrará êxito, pois oferecerei reverência aos pés de lótus do Senhor Supremo, nos quais meditam os yogīs místicos.

VERSO 7: De fato, hoje o rei Kaṁsa concedeu-me extrema misericórdia ao enviar-me para ver os pés de lótus do Senhor Hari, que agora apareceu neste mundo. Devido apenas à refulgência das unhas dos dedos de Seus pés, muitas almas no passado transcenderam a insuperável escuridão da existência material e alcançaram a liberação.

VERSO 8: Aqueles pés de lótus são adorados por Brahmā, Śiva e todos os outros semideuses, pela deusa da fortuna e também pelos grandes sábios e vaiṣṇavas. Sobre aqueles pés de lótus, o Senhor caminha pela floresta enquanto cuida das vacas com Seus companheiros, e aqueles pés estão marcados com o kuṅkuma dos seios das gopīs.

VERSO 9: Com certeza, verei o rosto do Senhor Mukunda, pois os veados estão passando do meu lado direito. Aquele rosto, emoldurado por Seu cabelo cacheado, é embelezado por Suas atraentes bo­chechas e nariz, Seus olhares sorridentes e Seus olhos de lótus avermelhados.

VERSO 10: Verei o Supremo Senhor Viṣṇu, o reservatório de toda a beleza, que por Sua própria livre vontade assumiu agora uma forma humana para aliviar a Terra de seu fardo. Logo, não se pode negar que meus olhos alcançarão a perfeição de sua existência.

VERSO 11: Embora Ele seja a testemunha da causa e do efeito materiais, está sempre isento da falsa identificação com eles. Por meio de Sua potência interna, Ele dissipa as trevas da separação e desorientação. As almas individuais neste mundo, que se manifestam aqui quando Ele olha para Sua energia material criadora, percebem-nO indiretamente nas atividades de seus ares vitais, senti­dos e inteligência.

VERSO 12: As qualidades, atividades e aparecimentos do Senhor Supremo destroem todos os pecados e criam toda a boa fortuna, e as palavras que os descrevem animam, embelezam e purificam o mundo. Por outro lado, palavras desprovidas de Suas glórias são como os adornos de um cadáver.

VERSO 13: Este mesmo Senhor Supremo descendeu na dinastia dos Sātvatas para dar prazer aos enaltecidos semideuses, que mantêm os princípios religiosos que Ele criou. Residindo em Vṛndāvana, Ele difunde Sua fama, que os semideuses glorificam em canções e que traz auspiciosidade a todos.

VERSO 14: Hoje com certeza hei de vê-lO, a meta e mestre espiritual das grandes almas. Vê-lO traz júbilo a todos os que têm olhos, pois Ele é a verdadeira beleza do universo. De fato, Sua forma pessoal é o refúgio desejado pela deusa da fortuna. Agora, todas as auroras de minha vida tornaram-se auspiciosas.

VERSO 15: Então, descerei prontamente de minha quadriga e me prostrarei aos pés de lótus de Kṛṣṇa e Balarāma, as Supremas Personalidades de Deus. São dEles os mesmos pés que eminentes yogīs místicos que lutam pela autorrealização trazem em suas mentes. Ofere­cerei também minhas reverências aos vaqueirinhos amigos do Senhor e a todos os outros residentes de Vṛndāvana.

VERSO 16: E quando eu estiver prostrado a Seus pés, o Senhor onipotente colocará Sua mão de lótus sobre minha cabeça. Para aqueles que buscam refúgio nEle porque estão muito perturbados pela poderosa serpente do tempo, essa mão afasta todo o temor.

VERSO 17: Por oferecerem caridade a essa mão de lótus, Purandara e Bali ganharam a posição de Indra, rei dos céus, e, durante os agradá­veis passatempos da dança da rāsa, quando o Senhor enxugou o suor das gopīs e eliminou-lhes a fadiga, o contato com as faces delas tornou aquela mão tão perfumada quanto uma flor aromática.

VERSO 18: O Senhor infalível não me considerará um inimigo, ainda que Kaṁsa me tenha enviado para cá como seu mensageiro. Afinal, o Senhor onisciente é o verdadeiro conhecedor do campo deste corpo material e, com Sua visão perfeita, Ele testemunha, tanto externa quanto internamente, todos os esforços do coração da alma condicionada.

VERSO 19: Enquanto eu estarei fixo de mãos postas, prostrado em reverências a Seus pés, Ele lançará sobre mim Seu afetuoso olhar sorridente. Dessa maneira, toda a minha contaminação logo se dissipará, e abandonarei todas as dúvidas e sentirei a mais intensa bem-aventurança.

VERSO 20: Reconhecendo-me como amigo íntimo e parente, Kṛṣṇa me abraçará com Seus poderosos braços, santificando no mesmo instante meu corpo e reduzindo a nada todo o meu cativeiro material, que decorre das atividades fruitivas.

VERSO 21: Depois de ser abraçado pelo famosíssimo Senhor Kṛṣṇa, ficarei humildemente postado diante dEle com a cabeça inclinada e de mãos postas, e Ele me dirá: “Meu querido Akrūra.” Nesse exato momento, terei cumprido o propósito de minha vida. De fato, a vida de qualquer um a quem a Suprema Personalidade deixa de reconhecer é simplesmente lastimável.

VERSO 22: O Senhor Supremo não tem um amigo favorito ou mais queri­do, tampouco considera alguém indesejável, desprezível ou digno de ser negligenciado. Ainda assim, Ele corresponde amorosamen­te com Seus devotos da mesma maneira que eles O adorem, assim como as árvores celestiais satisfazem os desejos de quem quer que delas se aproxime.

VERSO 23: E então, enquanto eu ainda estiver postado com a cabeça inclinada, o principal dos Yadus, o irmão mais velho do Senhor Kṛṣṇa, segurará minhas mãos postas e, após abraçar-me, Ele me conduzirá à Sua casa. Ali, Ele me honrará com todos os artigos do ritual de boas-vindas e me perguntará como Kaṁsa tem tratado os membros de Sua família.

VERSO 24: Śukadeva Gosvāmī continuou: Meu querido rei, enquanto o filho de Śvaphalka, viajando pela estrada, meditava assim profundamente em Śrī Kṛṣṇa, ele chegou a Gokula quando o Sol começava a se pôr.

VERSO 25: No pasto das vacas, Akrūra viu as pegadas daqueles pés cuja poeira pura os governantes de todos os planetas do universo carregam em suas coroas. Aquelas pegadas do Senhor, que se distinguem por marcas tais como o lótus, a cevada e o aguilhão para tanger elefantes, tornavam o solo maravilhosamente belo.

VERSO 26: Cada vez mais comovido pelo êxtase de ver as pegadas do Senhor, com os pelos arrepiados por causa de seu amor puro e os olhos cheios de lágrimas, Akrūra saltou da quadriga e come­çou a rolar entre aquelas pegadas, exclamando: “Ah! Esta é a poeira dos pés de meu senhor!”

VERSO 27: A própria meta da vida de todos os seres corporificados é este êxtase, que Akrūra experimentou quando, ao receber a ordem de Kaṁsa, colocou de lado todo orgulho, medo e lamentação e absorveu-se em ver, ouvir e descrever as coisas que lhe lembra­vam o Senhor Kṛṣṇa.

VERSOS 28-33: Então, Akrūra viu Kṛṣṇa e Balarāma na vila de Vraja, indo ordenhar as vacas. Kṛṣṇa usava roupas amarelas, e Balarāma, azuis, e Seus olhos assemelhavam-se aos lótus de outono. A tez de um daqueles dois jovens de potentes braços, abrigos da deusa da fortuna, era azul-escura, e a do outro era branca. Com Seus rostos de finos traços, Eles eram as mais belas de todas as personalidades. Enquanto caminhavam com a passada de jovens elefantes, olhando ao redor com sorrisos compassivos, aquelas duas enaltecidas personalidades embelezavam o pasto das vacas com as impressões de Seus pés, que tinham as marcas da bandeira, do raio, do aguilhão para tanger elefantes e do lótus. Os dois Senhores, cujos passatempos são muito magnânimos e atrativos, estavam adornados com colares de pedras preciosas e guirlandas de flores, ungi­dos com substâncias fragrantes e auspiciosas, recém-banhados e vestidos em trajes imaculados. Eles eram as Supremas Personalidades primordiais, os senhores e as causas originais dos universos, os quais, para o benefício da Terra, haviam descido agora em Suas formas distintas de Keśava e Balarāma. Ó rei Parīkṣit, Eles pa­reciam duas montanhas decoradas de ouro, uma com esmeralda e a outra com prata, e, com Sua refulgência, dissipavam a escuridão do céu em todas as direções.

VERSO 34: Akrūra, dominado pela afeição, saltou rapidamente de sua quadriga e caiu aos pés de Kṛṣṇa e Balarāma tal qual uma vara.

VERSO 35: A alegria de ver o Senhor Supremo inundou os olhos de Akrūra com lágrimas e decorou os membros de seu corpo com erupções de êxtase. Ele estava tão ansioso, ó rei, que não conseguiu sequer se apresentar.

VERSO 36: Reconhecendo Akrūra, o Senhor Kṛṣṇa trouxe-o para perto com Sua mão, que tem a marca da roda da quadriga, e, então, abraçou-o. Kṛṣṇa ficou satisfeito, pois sempre mantém uma disposi­ção benigna para com Seus devotos rendidos.

VERSOS 37-38: Enquanto Akrūra estava postado com a cabeça inclinada, o Senhor Saṅkarṣaṇa [Balarāma] segurou suas mãos postas e, então, em companhia do Senhor Kṛṣṇa, levou-o à Sua casa. Depois de perguntar a Akrūra se sua viagem fora confortável, Balarāma ofereceu-lhe um assento de primeira classe, banhou seus pés de acordo com os preceitos das escrituras e respeitosamente serviu­-lhe leite com mel.

VERSO 39: O onipotente Senhor Balarāma deu uma vaca de presente a Akrūra, massageou-lhe os pés para aliviá-lo do cansaço e, então, com grande respeito e fé, serviu-lhe comidas bem preparadas e de vários sabores requintados.

VERSO 40: Depois que Akrūra comera até ficar satisfeito, o Senhor Balarāma, o supremo conhecedor dos deveres religiosos, ofereceu-lhe ervas aromáticas para adoçar a boca, bem como fragrâncias e guirlandas de flores. Assim, Akrūra mais uma vez desfrutou do prazer mais elevado.

VERSO 41: Nanda Mahārāja perguntou a Akrūra: Ó descendente de Daśārha, como todos vós estais vos mantendo enquanto aquele impiedoso Kaṁsa continua vivo? Sois como ovelhas sob os cuidados de um açougueiro.

VERSO 42: Aquele cruel e egoísta Kaṁsa assassinou os bebês de sua pró­pria irmã na presença dela, mesmo enquanto ela chorava de an­gústia. Então, por que deveríamos perguntar sobre vosso bem-estar, visto que sois seus súditos?

VERSO 43: Honrado por Nanda Mahārāja com estas palavras francas e agradáveis, Akrūra esqueceu a fadiga da viagem.

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