VERSO 11
ya īkṣitāhaṁ-rahito ’py asat-satoḥ
sva-tejasāpāsta-tamo-bhidā-bhramaḥ
sva-māyayātman racitais tad-īkṣayā
prāṇākṣa-dhībhiḥ sadaneṣv abhīyate
yaḥ — quem; īkṣitā — a testemunha; aham — falso ego; rahitaḥ — sem; api — não obstante; asat-satoḥ — de produtos e causas materiais; sva-tejasā — por Sua potência pessoal; apāsta — tendo dissipado; tamaḥ — a escuridão da ignorância; bhidā — a ideia de estar separado; bhramaḥ — e confusão; sva-māyayā — por Sua energia material criadora; ātman — dentro de Si mesmo; racitaiḥ — por aqueles que são produzidos (os seres vivos); tat-īkṣayā — por Seu olhar para aquela Māyā; prāṇa — pelos ares vitais; akṣa — os sentidos; dhībhiḥ — e inteligência; sadaneṣu — dentro dos corpos dos seres vivos; abhīyate — supõe-se a Sua presença.
Embora Ele seja a testemunha da causa e do efeito materiais, está sempre isento da falsa identificação com eles. Por meio de Sua potência interna, Ele dissipa as trevas da separação e desorientação. As almas individuais neste mundo, que se manifestam aqui quando Ele olha para Sua energia material criadora, percebem-nO indiretamente nas atividades de seus ares vitais, sentidos e inteligência.
SIGNIFICADO—Neste verso, Akrūra estabelece a posição todo-poderosa do Senhor Supremo, que ele está prestes a ver em Vṛndāvana. No décimo primeiro canto do Bhāgavatam (11.2.37), descreve-se o falso conceito de estar separado do Senhor: bhayaṁ dvitīyābhiniveśataḥ syād īśād apetasya viparyayo ’smṛtiḥ. Embora toda existência emane da Verdade Absoluta, Kṛṣṇa, imaginamos uma “segunda coisa”, este mundo material, como sendo inteiramente separado da existência do Senhor. Com esta mentalidade, tentamos explorar esta “segunda coisa” para nosso gozo dos sentidos. Dessa forma, a base psicológica da vida material é a ilusão de que este mundo de algum modo seja separado de Deus e, por isso, destine-se ao nosso desfrute.
É irônico que os filósofos impersonalistas, em sua renúncia radical deste mundo, aleguem que ele é completamente falso e separado do Absoluto. Desafortunadamente, tal esforço artificial para despojar este mundo de sua natureza divina, ou, em outros termos, de sua relação com Deus, não leva as pessoas a uma completa rejeição dele, mas sim a uma tentativa de desfrutá-lo. Embora seja verdade que este mundo é temporário e assim, em certo sentido, ilusório, o mecanismo da ilusão é uma potência espiritual do Senhor Supremo. Compreendendo isto, devemos desistir de imediato de qualquer tentativa de explorar este mundo; antes, devemos reconhecê-lo como uma energia de Deus. Na verdade, abandonaremos nossos desejos materiais somente quando entendermos que este mundo pertence a Deus e, portanto, não se destina a nosso prazer egoísta.
A palavra abhīyate neste contexto refere-se a um processo de supor a presença do Senhor por meio da meditação introspectiva. O segundo canto do Bhāgavatam (2.2.35) também descreve esse processo:
bhagavān sarva-bhūteṣu
lakṣitaḥ svātmanā hariḥ
dṛśyair buddhy-ādibhir draṣṭā
lakṣaṇair anumāpakaiḥ
“A Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, está em todo ser vivo junto com a alma individual. E este fato é percebido e apresentado como hipótese em nossos atos de ver e obter ajuda da inteligência.”
Akrūra afirma que o Senhor está isento do orgulho egoísta que aflige as almas corporificadas comuns. O Senhor, todavia, parece ter um corpo como qualquer um, e, portanto, alguém poderia objetar a afirmação de que Ele é isento de egoísmo. Śrīla Viśvanātha Cakravartī faz o seguinte comentário a respeito deste quebra-cabeça: “Como podemos distinguir entre estar livre de falso ego e ser afligido por ele? ‘Se um ser vivo está situado em um corpo’, [argumenta o opositor,] ‘ele encontrará a infelicidade e confusão que ocorrem dentro dele, assim como alguém que vive em uma casa, quer esteja apegado a ela, quer não, não pode evitar a experiência de escuridão, calor e frio que ocorrem dentro dela.’ A esta objeção, responde-se o seguinte: Por meio de Sua potência interna, o Senhor dissipa a escuridão da ignorância bem como a separação e desorientação que ela produz.”