VERSO 17
mallānām aśanir nṛṇāṁ nara-varaḥ strīṇāṁ smaro mūrtimān
gopānāṁ sva-jano ’satāṁ kṣiti-bhujāṁ śāstā sva-pitroḥ śiśuḥ
mṛtyur bhoja-pater virāḍ aviduṣāṁ tattvaṁ paraṁ yogināṁ
vṛṣṇīnāṁ para-devateti vidito raṅgaṁ gataḥ sāgrajaḥ
mallānām — para os lutadores; aśaniḥ — relâmpago; nṛṇām — para os homens; nara-varaḥ — o melhor dos varões; strīṇām — para as mulheres; smaraḥ — o Cupido; mūrti-mān — encarnado; gopānām — para os vaqueiros; sva-janaḥ — seu parente; asatām — ímpios; kṣiti-bhujām — para os reis; śāstā — um castigador; sva-pitroḥ — para Seus pais; śiśuḥ — um filho; mṛtyuḥ — morte; bhoja-pateḥ — para o rei dos Bhojas, Kaṁsa; virāṭ — a totalidade do universo material; aviduṣām — para os homens ininteligentes; tattvam — a Verdade; param — Suprema; yoginām — para os yogīs; vṛṣṇīnām — para os membros da dinastia Vṛṣṇi; para-devatā — sua Deidade mais adorável; iti — dessas maneiras; viditaḥ — compreendido; raṅgam — na arena; gataḥ — entrou; sa — junto de; agra-jaḥ — seu irmão mais velho.
Quando Kṛṣṇa entrou na arena com Seu irmão mais velho, os vários grupos de pessoas presentes apreciaram Kṛṣṇa de diferentes maneiras. Os lutadores viram Kṛṣṇa como um relâmpago; os homens de Mathurā, como o melhor dos varões; as mulheres, como o Cupido em pessoa; os vaqueiros, como seu parente; os governantes ímpios, como um castigador; Seus pais, como um filho; o rei dos Bhojas, como a morte; os homens ininteligentes, como a forma universal do Senhor Supremo; os yogīs, como a Verdade Absoluta, e os Vṛṣṇis, como sua suprema Deidade adorável.
SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī cita o seguinte verso, que explica as dez atitudes de intercâmbio com Kṛṣṇa aqui descritas.
raudro ’dbhutaś ca śṛṅgāro
hāsyaṁ vīro dayā tathā
bhayānakaś ca bībhatsaḥ
śāntaḥ sa-prema-bhaktikaḥ
“[Há dez diferentes posturas:] fúria [percebida pelos lutadores], admiração [pelos homens], atração conjugal [pelas mulheres], riso [pelos vaqueiros], cavalheirismo [pelos reis], misericórdia [por Seus pais], terror [por Kaṁsa], espanto [pelos homens ininteligentes], neutralidade serena [pelos yogīs] e devoção amorosa [pelos Vṛṣṇis].”
Śrīla Viśvanātha Cakravartī salienta que gente como os lutadores, Kaṁsa e os governantes ímpios percebem Kṛṣṇa como perigoso, irado ou ameaçador porque não conseguem compreender a verdadeira posição da Personalidade de Deus. Na verdade, o Senhor Kṛṣṇa é o amigo e benquerente de todos, mas, porque nos rebelamos contra Ele, Ele nos castiga, e assim podemos percebê-lO como ameaçador. De fato, Kṛṣṇa, ou Deus, é misericordioso; quando Ele nos pune, isso também é uma forma de misericórdia da parte dEle.
Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura cita a seguinte afirmação védica, raso vai saḥ rasaṁ hy evāyaṁ labdhvānandī bhavati: “Ele mesmo é rasa, o sabor ou doçura de uma relação em particular. E com certeza quem alcança essa rasa torna-se ānandī, pleno de bem-aventurança.” (Taittirīya Upaniṣad 2.7.1)
Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī cita outro verso para explicar a palavra rasa:
vyatītya bhāvanā-vartma
yaś camatkāra-bhāra-bhūḥ
hṛdi sattvojjvale bāḍhaṁ
svadate sa raso mataḥ
“Aquilo que está além da imaginação, carregado de deslumbramento e saboreado no coração que resplandece de bondade – isso é conhecido como rasa.”
Como Śrīla Rūpa Gosvāmī explica detalhadamente em seu Bhakti-rasāmṛta-sindhu, há cinco rasas principais (neutralidade, serviço, amizade, amor parental e amor conjugal) e sete rasas secundárias (admiração, humor, cavalheirismo, compaixão, fúria, medo e terror). Assim, há doze rasas ao todo, e o supremo objeto de todas as rasas é o próprio Śrī Kṛṣṇa. Em outras palavras, nosso amor e afeição de fato se destinam a Śrī Kṛṣṇa. Infelizmente, por ignorância, teimamos em tentar espremer felicidade e amor das relações materiais, que não têm relação direta com Kṛṣṇa, daí a vida se tornar uma frustração constante. A solução é simples: render-se a Kṛṣṇa, amar Kṛṣṇa, amar os devotos de Kṛṣṇa e ser feliz para sempre.