VERSO 3
nāsmatto yuvayos tāta
nityotkaṇṭhitayor api
bālya-paugaṇḍa-kaiśorāḥ
putrābhyām abhavan kvacit
na — não; asmattaḥ — por causa de Nós; yuvayoḥ — para vós dois; tāta — ó querido pai; nitya — sempre; utkaṇṭhitayoḥ — que estivestes em ansiedade; api — de fato; bālya — (os prazeres da) idade de bebê; paugaṇḍa — meninice; kaiśorāḥ — e adolescência; putrābhyām — por causa de teus dois filhos; abhavan — houve; kvacit — absolutamente.
[O Senhor Kṛṣṇa disse:] Querido pai, por causa de Nós, teus dois filhos, tu e mãe Devakī permanecestes sempre ansiosos e jamais pudestes gozar Nossa infância, meninice ou adolescência.
SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī discute este verso da seguinte maneira: “Talvez alguém objete que, neste ponto, o Senhor Kṛṣṇa, na verdade, ainda não passara da fase kaiśora [dos dez aos quinze anos de idade], pois as mulheres de Mathurā haviam afirmado que kva cāti-sukumārāṅgau kiśorau nāpta-yauvanau: ‘Kṛṣṇa e Balarāma têm membros corpóreos muito delicados, por estarem ainda na fase kaiśora, não tendo alcançado a adolescência.’ (Śrīmad-Bhāgavatam 10.44.8) A definição das diferentes fases do crescimento é dada a seguir:
kaumāraṁ pañcamābdāntaṁ
paugaṇḍaṁ daśamāvadhi
kaiśoram ā-pañcadaśād
yauvanaṁ tu tataḥ param
‘A fase kaumāra dura até os cinco anos, paugaṇḍa dura até os dez, e kaiśora dura até os quinze anos. Daí em diante, chama-se yauvana.’ De acordo com esta afirmação, o período kaiśora termina aos quinze anos de idade. Kṛṣṇa tinha apenas onze anos quando matou Kaṁsa, segundo as palavras de Uddhava, ekādaśa-samās tatra gūḍhārciḥ sa-balo ’vasat: ‘Como uma chama encoberta, o Senhor Kṛṣṇa permaneceu ali incógnito com Balarāma durante onze anos.’ (Śrīmad-Bhāgavatam 3.2.26) E visto que Kṛṣṇa e Balarāma nunca receberam a iniciação bramânica em Vrajabhūmi, foi na ocasião [em que Eles foram para Mathurā] quando Sua fase kaiśora começou, e não quando terminou.
“Esta objeção à afirmação do Senhor Kṛṣṇa no presente verso – de que Seus pais não puderam desfrutar Sua fase kaiśora – baseia-se na contagem comum de idade. Mas devemos considerar a seguinte afirmação:
kālenālpena rājarṣe
rāmaḥ kṛṣṇaś ca go-vraje
aghṛṣṭa-jānubhiḥ padbhir
vicakramatur añjasā
‘Ó rei Parīkṣit, dentro de pouquíssimo tempo, Rāma e Kṛṣṇa começaram a caminhar muito facilmente em Gokula sobre Suas pernas, com Sua própria força, sem a necessidade de engatinhar.’ (Bhāgavatam 10.8.26) Às vezes, vemos que o filho de um rei, mesmo em sua fase paugaṇḍa de vida, desenvolve excepcional força física e exibe atividades próprias de um kaiśora. Então, o que se dizer do Senhor Kṛṣṇa, cujo crescimento excepcional está estabelecido no Vaiṣṇava-toṣaṇī, Bhakti-rasāmṛta-sindhu, Ānanda-vṛndavana-campū e outras obras?
“Os três anos e quatro meses que o Senhor Kṛṣṇa ficou em Mahāvana foram o equivalente a cinco anos para uma criança comum, e assim, naquele período, Ele completou Sua fase kaumāra da infância. O período que vai desde então até os seis anos e oito meses de idade, durante os quais Ele viveu em Vṛndāvana, constitui Sua fase paugaṇḍa. E o período que vai dos seis anos e oito meses até a idade de dez anos, em que Ele viveu em Nandīśvara [Nandagrāma], constitui Sua fase kaiśora. Então, com a idade de dez anos e sete meses, no décimo primeiro dia da quinzena da lua nova do mês de Caitra, Ele foi para Mathurā e, depois, no décimo quarto dia, Ele matou Kaṁsa. Dessa forma, Ele completou Seu período kaiśora aos dez anos, e permanece eternamente nessa idade. Em outras palavras, devemos entender que, deste ponto em diante, o Senhor permanece para sempre um kiśora.”
Assim, Śrīla Viśvanātha Cakravartī analisa as complexidades deste verso.