VERSO 22
dehādy-upādher anirūpitatvād
bhavo na sākṣān na bhidātmanaḥ syāt
ato na bandhas tava naiva mokṣaḥ
syātām nikāmas tvayi no ’vivekaḥ
deha — do corpo; ādi — etc.; upādheḥ — como coberturas materiais designativas; anirūpitatvāt — por não serem determinadas; bhavaḥ — nascimento; na — não; sākṣāt — literal; na — nem; bhidā — dualidade; ātmanaḥ — para a Alma Suprema; syāt — existe; ataḥ — portanto; na — nenhum; bandhaḥ — cativeiro; tava — Vosso; na eva — nem, de fato; mokṣaḥ — liberação; syātām — se ocorrem; nikāmaḥ — por Vosso livre-arbítrio; tvayi — quanto a Vós; naḥ — nossa; avivekaḥ — discriminação errônea.
Já que nunca se demonstrou que sois coberto por designações corpóreas materiais, deve-se concluir que, para Vós, não existem nem nascimento em sentido literal nem dualidade alguma. Portanto, jamais Vos sujeitais a cativeiro ou liberação, e, se pareceis fazê-lo, é só porque desejais que Vos vejamos assim, ou apenas porque carecemos de discriminação.
SIGNIFICADO—Aqui, Akrūra declara duas razões por que o Senhor parece estar coberto por uma forma material ou parece nascer como um ser humano. A primeira razão é que, quando o Senhor Kṛṣṇa realiza Seus passatempos, Seus devotos amorosos pensam nEle como seu amado filho, amigo, amante etc. No êxtase desse intercâmbio amoroso, eles não pensam em Kṛṣṇa como Deus. Por exemplo, devido a seu extraordinário amor por Ele, mãe Yaśodā se preocupa por pensar que Kṛṣṇa poderá Se machucar na floresta. Ela se sentir desse modo é o desejo do Senhor, o que, nesta passagem, é indicado pela palavra nikāmaḥ. A segunda razão que leva o Senhor a poder parecer material é indicada pela palavra avivekaḥ: apenas por ignorância, falta de discriminação, podemos entender erroneamente a posição da Personalidade de Deus. No décimo primeiro canto do Bhāgavatam, no diálogo filosófico entre o Senhor Kṛṣṇa e Śrī Uddhava, o Senhor discute em pormenores Sua posição transcendental, além do cativeiro e da liberação. Como se afirma na literatura védica, deha-dehi-vibhago yaṁ neśvare vidyate kvacit: “Jamais existe distinção entre corpo e alma no Senhor Supremo.” Em outras palavras, o corpo de Śrī Kṛṣṇa é eterno, espiritual, onisciente e o reservatório de todo o prazer.