VERSO 43
gṛheṣu tāsām anapāyy atarka-kṛn
nirasta-sāmyātiśayeṣv avasthitaḥ
reme ramābhir nija-kāma-sampluto
yathetaro gārhaka-medhikāṁś caran
gṛheṣu — nas residências; tāsām — delas; anapāyī — nunca deixando; atarka — inconcebíveis; kṛt — realizando feitos; nirasta — que refutavam; sāmya — igualdade; atiśayeṣu — e superioridade; avasthitaḥ — permanecendo; reme — desfrutava; ramābhiḥ — com as mulheres agradáveis; nija — dEle; kāma — no prazer; samplutaḥ — absorto; yathā — como; itaraḥ — qualquer outro homem; gārhaka-medhikān — os deveres da vida de casado; caran — cumprindo.
O Senhor, realizador de feitos inconcebíveis, permanecia constantemente nos palácios de cada uma de Suas rainhas, os quais não eram igualados nem superados por nenhuma outra residência. Ali, embora plenamente satisfeito em Si mesmo, Ele desfrutava com Suas agradáveis esposas e, tal qual um marido comum, cumpria Seus deveres domésticos.
SIGNIFICADO—A palavra atarka-kṛt é significativa nesta passagem. Tarka quer dizer “lógica”, e atarka significa “o que está além da lógica”. O Senhor pode realizar (kṛt) aquilo que está além da lógica mundana e é, portanto, inconcebível. Ainda assim, as atividades do Senhor podem ser apreciadas e compreendidas até um ponto significativo por aqueles que se rendem a Ele. Esse é o segredo de bhakti, a devoção amorosa ao Senhor Supremo.
Śrīla Śrīdhara Svāmī comenta que o Senhor estava sempre em casa, exceto quando tinha de sair para cumprir deveres domésticos comuns. E Śrīla Viśvanātha Cakravartī ressalta que, como o Senhor Nārāyaṇa desfruta com apenas uma deusa da fortuna nos planetas Vaikuṇṭha e, em Dvārakā, Kṛṣṇa desfruta com milhares de rainhas, deve-se considerar Dvārakā como superior a Vaikuṇṭha. A esse respeito, Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita a seguinte passagem do Skanda Purāṇa:
ṣoḍaśaiva sahasrāṇi
gopyas tawra samāgatāḥ
haṁsa eva mataḥ kṛṣṇaḥ
paramātmā janārdanaḥ
tasyaitāḥ śaktayo devi
ṣoḍaśaiva prakīṛtitāḥ
candra-rūpī mataḥ kṛṣṇaḥ
kalā-rūpās tu tāḥ smṛtāḥ
sampūrṇa-maṇḍalā tāsāṁ
mālinī ṣoḍaśī kalā
ṣoḍaśaiva kalā yāsu
gopī-rūpā varāṅgane
ekaikaśas tāḥ sambhinnāḥ
sahasreṇa pṛthak pṛthak
“Naquele lugar, dezesseis mil gopīs se reuniram com Kṛṣṇa, que é considerado o Supremo, a Superalma, o abrigo de todos os seres vivos. Essas gopīs são Suas célebres dezesseis potências, ó deusa. Kṛṣṇa é como a Lua, e as gopīs são como suas fases, e todo o contingente das gopīs é como a sequência completa das dezesseis fases da Lua. Cada uma dessas dezesseis divisões de gopīs, minha querida Varāṅganā, subdivide-se em mil partes.”
Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita ainda a seção Kārttika-māhātmya do Padma Purāṇa, kaiśore gopa-kanyās tā yauvane rāja-kanyakāḥ: “Aquelas que eram filhas de vaqueiros em sua tenra juventude tornaram-se princesas reais em sua maturidade.” O ācārya acrescenta: “Portanto, assim como o Senhor de Dvārakā é uma expansão plenária do sumamente completo Senhor de Śrī Vṛndāvana, da mesma forma Suas principais rainhas são expansões plenárias de Suas potências de prazer sumamente completas, as gopīs.