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VERSOS 13-15

ye ’sūyānṛta-dambherṣā-
hiṁsā-māna-vivarjitāḥ
na teṣāṁ satya-śīlānām
āśiṣo viphalāḥ kṛtāḥ

iti bālakam ādāya
sāmarg-yajur-upākṛtaiḥ
jalaiḥ pavitrauṣadhibhir
abhiṣicya dvijottamaiḥ

vācayitvā svastyayanaṁ
nanda-gopaḥ samāhitaḥ
hutvā cāgniṁ dvijātibhyaḥ
prādād annaṁ mahā-guṇam

ye — aqueles brāhmaṇas que; asūya — inveja; anṛta — inveracidade; dambha — falso orgulho; īrṣā — rancores; hiṁsā — perturbando-se com a opulência alheia; māna — falso prestígio; vivarjitāḥ — completamente desprovidos de; na — não; teṣām — desses brāhmaṇas; satya-śīlānām — que são dotados de perfeitas qualificações bramânicas (satya, śama, dama etc.); āśiṣaḥ — as bênçãos; viphalā — inúteis; kṛtāḥ — tornaram­-se; iti — considerando todos esses pontos; bālakam — a criança; ādāya — cuidando de; sāma — de acordo com o Sāma Veda; ṛk — de acordo com o Ṛg Veda; yajuḥ — de acordo com o Yajur Veda; upākṛtaiḥ — purificada por esses meios; jalai — com água; pavitra-auṣadhibhiḥ — misturada com ervas puras; abhiṣicya — após banhar (a criança); dvija-uttamaiḥ — com cerimônias realizadas por primorosos brāhmaṇas possuidores das qualificações acima; vācayitvā — convidados a cantar; svasti-ayanam — hinos auspiciosos; nanda-gopaḥ — Mahārāja Nanda, o líder dos vaqueiros; samāhitaḥ — liberal e bom; hutvā — após fazer oblações; ca — também; agnim — ao fogo sagrado; dvijātibhyaḥ — àqueles brāhmaṇas virtuosos; prādāt — deu em caridade; annam — grãos alimentícios; mahā-guṇam — excelentes.

Quando os brāhmaṇas estão livres da inveja, da inveracidade, do orgulho desnecessário, dos rancores, do falso prestígio e do incômodo com a opulência alheia, suas bênçãos nunca são em vão. Considerando isso, Nanda Mahārāja sobriamente pôs Kṛṣṇa em seu colo e convidou esses brāhmaṇas verazes para que realizas­sem uma cerimônia ritualística de acordo com os hinos sagrados do Sāma Veda, Ṛg Veda e Yajur Veda. Depois, enquanto os hinos eram cantados, ele banhou a criança com água misturada com ervas puras e, após realizar uma cerimônia de fogo, alimentou suntuo­samente todos os brāhmaṇas com cereais e outros alimentos primo­rosos.

SIGNIFICADO—Nanda Mahārāja tinha muita confiança nas qualificações dos brāhmaṇas e em suas bênçãos. Ele estava completamente confiante de que bastava os bons brāhmaṇas derramarem suas bênçãos para que a criança Kṛṣṇa fosse feliz. As bênçãos dos brāhmaṇas qualificados podem trazer felicidade não somente a Kṛṣṇa, a Suprema Personali­dade de Deus, mas a todos. Porque é autossuficiente, Kṛṣṇa não precisa da bênção de ninguém, mas Nanda Mahārāja pensou que Kṛṣṇa precisava das bênçãos dos brāhmaṇas. Então, o que dizer dos outros? Na sociedade humana, portanto, deve haver uma classe de homens perfeitos, os brāhmaṇas, que possam conceder bênçãos aos outros, a saber, aos kṣatriyas, vaiśyas e śudras, para que todos sejam felizes. Kṛṣṇa, portanto, diz na Bhagavad-gītā (4.13) que a sociedade humana deve ter quatro ordens sociais (cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ guṇa-karma-vibhāgaśaḥ); não se deve pensar que todos devem tornar-se śudras ou vaiśyas e, em razão disso, a sociedade hu­mana prosperará. Como se expõe na Bhagavad-gītā, deve haver uma classe de brāhmaṇas com as qualidades de satya (veracidade), śama (tranquilidade), dama (autocontrole) e titikṣā (tolerância).

Aqui também, no Bhāgavatam, Nanda Mahārāja convida os brāhmaṇas qualificados. Mesmo havendo brāhmaṇas de casta, por quem temos todo o respeito, seu nascimento em famílias brāhmaṇas não significa que eles estejam qualificados a conceder bênçãos aos outros membros da sociedade humana. Este é o veredito dos śāstras. Em Kali-yuga, os brāhmaṇas de casta são aceitos como brāhmaṇas. Vipratve sūtram eva hi (Śrīmad-Bhāgavatam 12.2.3): Em Kali-yuga, o simples fato de alguém colocar um cordão que vale alguns centavos faz dele um brāhmaṇa. Esses brāhmaṇas não foram convocados por Nanda Mahārāja. Como afirma Narada Muni (Śrīmad-Bhāgavatam 7.11.35), yasya yal lakṣaṇaṁ proktam. As características de um brāhmaṇa são descritas nos śāstras, e a pessoa deve adquirir essas qualificações.

As bênçãos dos brāhmaṇas que não são invejosos, perturbados ou envaidecidos pelo orgulho e falso prestígio e que são plenamente qualificados com veracidade serão úteis. Portanto, uma classe de homens deve ser treinada como brāhmaṇas desde o começo. Brahmacārī gurukule vasan dānto guror hitam (Śrīmad-Bhāgavatam 7.12.1). A palavra dāntaḥ é muito importante. Dāntaḥ refere-se a alguém que não é in­vejoso, perturbado ou arrogante devido ao falso prestígio. Através do movimento da consciência de Kṛṣṇa, estamos tentando introduzir esses brāhmaṇas na sociedade. Em última análise, os brāhmaṇas devem ser vaiṣṇavas, e se alguém é um vaiṣṇava, já adquiriu as qualificações de um brāhmaṇa. Brahma-bhūtaḥ prasannātmā (Bhagavad-gītā 18.54). A palavra brahma-bhūta aplica-se àquele que se torna brāhmaṇa, ou entende o que é o Brahman (brahma jānātīti brāhmaṇaḥ). Aquele que é brahma-bhūtaḥ está sempre feliz (prasannātmā). Na śocati na kāṅkṣati: ele nunca se perturba com necessidades materiais. Samaḥ sarveṣu bhūteṣu: ele está disposto a conceder as mesmas bênçãos a todos. Mad-bhaktiṁ labhate parām: Então, ele se torna um vaiṣṇava. Nesta era, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura introduziu a cerimônia em que seus discípulos vaiṣṇavas recebem o cordão sagrado e, com isso, ele queria ajudar as pessoas a entenderem que, quando alguém se torna um vaiṣṇava, ele já adquiriu as qualificações próprias de um brāhmaṇa. Portanto, na Sociedade Internacional para a Consciência de Kṛṣṇa, aqueles que recebem sua segunda iniciação, a iniciação bramânica, devem ter em mente sua grande responsabilidade – serem verazes, controlar a mente e os sentidos, serem tolerantes e assim por diante. Então, suas vidas serão exitosas. Foram brāhmaṇas dessa catego­ria que Nanda Mahārāja convidou para cantarem os hinos védicos, e não brāhmaṇas ordinários. O verso treze menciona claramente hiṁsā-māna. A palavra māna refere-se ao falso prestígio ou ao falso orgulho. Aqueles que tinham falso orgulho, pensando que eram brāhmaṇas porque nasceram em famílias brāhmaṇas, jamais foram convidados por Nanda Mahārāja naquelas ocasiões.

O verso quatorze menciona pavitrauṣadhi. Em toda cerimônia ri­tualística, precisava-se de muitas ervas e flores, que eram conhecidas como pavitra-patra. Às vezes, havia folhas nimba; outras vezes, folhas bael, folhas de mangueira, folhas aśvattha ou folhas āmalakī. Igualmente, havia pañca-gavya, pañca-śasya e pañca-ratna. Em­bora pertencesse à comunidade vaiśya, Nanda Mahārāja conhecia tudo.

A palavra mais importante nestes versos é mahā-guṇam, indicando que os brāhmaṇas receberam saborosíssimos alimentos da melhor qualidade. Essas saborosas iguarias geralmente eram preparadas com dois ingredientes, a saber, grãos alimentícios e produtos lácteos. A Bhagavad-gītā (18.44), portanto, prescreve que a sociedade humana­ deve proteger as vacas e estimular a agricultura (kṛṣi-go-rakṣya-vāṇijyaṁ vaiśya-karma svabhāvajam). Simplesmente através de hábil culinária, centenas e milhares de saborosas iguarias podem ser pre­paradas a partir de produtos agrícolas e dos derivados lácteos. Isso é indicado aqui pelas palavras annaṁ mahā-guṇam. Mesmo hoje em dia na Índia, centenas e milhares de variedades de alimentos são preparadas a partir desses dois artigos, a saber, grãos alimentícios e leite, e depois são oferecidas à Suprema Personalidade de Deus. (Catur-vidha-śrī-bhagavat-prasāda. Patraṁ puṣpaṁ phalaṁ toyaṁ yo me bhaktyā prayacchati.) Em seguida, distribui-se a prasāda. Mesmo hoje em dia, em Jagannātha-kṣetra e outros grandes templos, alimentos muito saborosos são oferecidos à Deidade, e a prasāda é distribuída profusamente. Cozinhada por brāhmaṇas virtuosos que têm profundo conhecimento e depois distribuída ao público, essa prasāda também é uma bênção dos brāhmaṇas ou vaiṣṇavas. Existem quatro classes de prasāda (catur-vidha). Os sabores salgado, doce, acre e picante aparecem com diferentes tipos de especiarias, e o ali­mento é preparado em quatro categorias, chamadas carvya, cūṣya, lehya e peya a prasāda que é mastigada, a prasāda que é lambi­da, a prasāda que é saboreada com a língua e a prasāda que é bebida. Logo, existem muitas variedades de prasāda, muito bem preparadas com cereais e ghī, oferecidas às Deidades e distribuídas aos brāhmaṇas e vaiṣṇavas e depois ao público em geral. Esse é o processo da sociedade humana. Matar as vacas e arruinar a terra não resolverá o problema alimentar. Isso não é civilização. Os homens incivilizados que vivem na floresta e não servem para produzir alimentos através da agricultura e da proteção às vacas talvez prefiram comer animais, mas uma sociedade humana perfeita, avançada em conhecimento, deve aprender a produzir alimentos primorosos simplesmente atra­vés da agricultura e da proteção às vacas.

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