VERSO 45
trayyā copaniṣadbhiś ca
sāṅkhya-yogaiś ca sātvataiḥ
upagīyamāna-māhātmyaṁ
hariṁ sāmanyatātmajam
trayyā — estudando os três Vedas (Sāma, Yajur e Atharva); ca — também; upaniṣadbhiḥ ca — e estudando o conhecimento védico contido nas Upaniṣads; sāṅkhya-yogaiḥ — lendo a literatura de sāṅkhya-yoga; ca — e; sātvataiḥ — através dos grandes sábios e devotos, ou lendo o Vaiṣṇava-tantra, os Pañcarātras; upagīyamāna-māhātmyam — cujas glórias são adoradas (através de todos esses textos védicos); harim — a Suprema Personalidade de Deus; sā — ela; amanyata — considerou (comum); ātmajam — como seu próprio filho.
As glórias da Suprema Personalidade de Deus são estudadas através dos três Vedas, das Upaniṣads, da literatura de sāṅkhya-yoga, e de outros textos vaiṣṇavas, mas mãe Yaśodā considerava essa Pessoa Suprema como seu filho comum.
SIGNIFICADO—Como a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, afirma na Bhagavad-gītā (15.15), o propósito de alguém estudar os Vedas é entendê-lO (vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ). Śrī Caitanya Mahāprabhu explicou a Sanātana Gosvāmī que há três objetivos nos Vedas. Um é entendermos nossa relação com Kṛṣṇa (sambandha), outro é agirmos de acordo com essa relação (abhidheya), e o terceiro é alcançarmos a meta última (prayojana). A palavra prayojana significa “necessidades”, e a necessidade última é explicada por Śrī Caitanya Mahāprabhu. Premā pum-artho mahān: A maior necessidade do ser humano é desenvolver amor pela Suprema Personalidade de Deus. Aqui, vemos que mãe Yaśodā executa a atividade mais elevada, pois está absorta em completo amor por Kṛṣṇa.
No começo, o propósito védico é buscado mediante três processos (trayī) – através de karma-kāṇḍa, jñāna-kāṇḍa e upāsanā-kāṇḍa. Quando alguém atinge completamente a perfeita fase de upāsanā-kāṇḍa, ele passa a adorar Nārāyaṇa, ou o Senhor Viṣṇu. Quando Pārvatī perguntou ao Senhor Mahādeva, o senhor Śiva, qual era o melhor método de upāsanā, ou adoração, o senhor Śiva respondeu: ārādhanānāṁ sarveṣāṁ viṣṇor ārādhanaṁ param. Viṣṇūpāsanā, ou viṣṇv-ārādhana, adoração ao Senhor Viṣṇu, é a fase máxima de perfeição, como experienciada por Devakī. Aqui, no entanto, mãe Yaśodā não realiza upāsanā, pois ela desenvolveu transcendental amor extático por Kṛṣṇa. Logo, ela está situada em uma posição melhor do que a de Devakī. Para mostrar isso, Śrīla Vyāsadeva enuncia este verso: trayyā copaniṣadbhiḥ etc.
Ao ingressar nos estudos dos Vedas para obter vidyā, conhecimento, o ser humano começa a participar da civilização humana. Então, continuando seu avanço, ele passa a estudar as Upaniṣads e obtém brahma-jñāna, compreensão impessoal acerca da Verdade Absoluta; a partir daí, segue avançando, até sāṅkhya-yoga, para entender o controlador supremo, que é mencionado na Bhagavad-gītā (paraṁ brahma paraṁ dhāma pavitraṁ paramaṁ bhavān/ puruṣaṁ śāśvatam). Quando alguém entende que puruṣa, o controlador supremo, é Paramātmā, ele está ocupado no método de yoga (dhyānāvasthita-tad-gatena manasā paśyanti yaṁ yoginaḥ). Mas mãe Yaśodā superou todas essas etapas. Ela chegou à plataforma na qual ama Kṛṣṇa como seu querido filho, daí ela ser aceita como estando na fase máxima de compreensão espiritual. A Verdade Absoluta é compreendida em três aspectos (brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate), mas tamanho é seu êxtase que ela não se importa em entender o que é Brahman, o que é Paramātmā ou o que é Bhagavān. Bhagavān desceu pessoalmente para tornar-Se seu amado filho. Portanto, nada pode comparar-se à boa fortuna de mãe Yaśodā, como declara Śrī Caitanya Mahāprabhu (ramyā kācid upāsanā vrajavadhū-vargeṇa yā kalpitā). A Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus, pode ser compreendida em diferentes etapas. Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (4.11):
ye yathā māṁ prapadyante
tāṁs tathaiva bhajāmy aham
mama vartmānuvartante
manuṣyāḥ pārtha sarvaśaḥ
“A todos os que se rendem a Mim, Eu recompenso proporcionalmente. Todos seguem o Meu caminho sob todos os aspectos, ó filho de Pṛthā.” Talvez alguém seja karmī, jñānī, yogī e, então, bhakta ou prema-bhakta. Mas a última etapa de compreensão é prema-bhakti, como de fato foi demonstrado por mãe Yaśodā.