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VERSO 48

āhuś ca te nalina-nābha padāravindaṁ
yogeśvarair hṛdi vicintyam agādha-bodhaiḥ saṁsāra-kūpa-patitottaraṇāvalambaṁ
gehaṁ juṣām api manasy udiyāt sadā naḥ

āhuḥ — as gopīs disseram; ca — e; te — Teus; nalina-nābha — ó Senhor, cujo umbigo é igual a uma flor de lótus; pada-aravindam — pés de lótus; yoga-īśvaraiḥ — pelos grandes yogīs místicos; hṛdi — dentro do coração; vicintyam — objeto de meditação; agādha-bodhaiḥ — que eram filósofos altamente eruditos; saṁsāra-kūpa — no poço escuro da existência material; patita — dos caídos; uttaraṇa — dos salvadores; avalambam — o único refúgio; geham — afazeres domésticos; juṣām — da­queles ocupados; api — embora; manasi — nas mentes; udiyāt — que sejam despertados; sadā — sempre; naḥ — nossas.

As gopīs falaram assim: Querido Senhor, cujo umbigo é igual a uma flor de lótus, Teus pés de lótus são o único refúgio para aqueles que caíram no poço fundo da existência material. Grandes yogīs místicos e filósofos altamente eruditos adoram Teus pés e meditam neles. Desejamos que esses pés de lótus também possam ser despertados dentro de nossos corações, embora sejamos apenas pessoas comuns ocupadas em afazeres domésticos.

SIGNIFICADO—A tradução e o significado das palavras deste verso foram extraí­dos do livro Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya 1.81), traduzido por Śrīla Prabhupāda, onde se cita este verso.

Revelando o humor ciumento em que as gopīs falaram estas pala­vras falsamente reverenciais, Śrīla Viśvanātha Cakravartī apresenta as afir­mações delas da seguinte maneira: “Ó Senhor Supremo, ó Superalma diretamente manifesta, ó joia da coroa dos instrutores do conhe­cimento definitivo, estavas ciente de nosso excessivo apego a lar, propriedade e família. Portanto, anteriormente mandaste Uddhava nos instruir sobre o conhecimento que dissipa a ignorância, e agora Tu mesmo fizeste isso. Dessa maneira, purificaste nossos corações da contaminação, e, como resultado, compreendemos Teu amor puro por nós, livre de qualquer outra motivação que não seja garantir nossa liberação. Mas não passamos de vaqueiras ininteligentes; logo, como é que esse conhecimento poderá permanecer fixo em nossos cora­ções? Nem mesmo conseguimos meditar constantemente em Teus pés, o foco de realização para grandes almas como o senhor Brahmā. Por favor, sê misericordioso conosco e, de algum modo, torna possí­vel que nos concentremos em Ti, ao menos um pouco. Ainda estamos sofrendo as reações de nosso trabalho fruitivo, então como podemos meditar em Ti, a meta dos grandes yogīs? Tais yogīs são mensuravelmente sábios, mas nós somos apenas mulheres néscias. Por favor, faze algo para tirar-nos deste profundo poço da vida ma­terial.”

Os devotos puros jamais são motivados pelo desejo de aprimoramento material ou liberação espiritual. E mesmo que o Senhor lhes ofereça tais bênçãos, os devotos muitas vezes recusam-se a aceitá­-lAs. Como afirmou o Senhor Kṛṣṇa no décimo primeiro canto do Śrīmad-Bhāgavatam (11.20.34):

na kiñcit sādhavo dhīrā
bhaktā hy ekāntino mama
vāñchanty api mayā dattaṁ
kaivalyam apunar-bhavam

“Porque possuem comportamento santo e inteligência profunda, Meus devotos dedicam-se por completo a Mim e não desejam nada além de Mim. De fato, mesmo que Eu lhes ofereça a oportunidade de livrarem-se dos nascimentos e mortes, eles não aceitam.” É muito apropriado, portanto, que as gopīs respondam com um toque de ira enciumada à tentativa de Kṛṣṇa de ensinar-lhes jñāna-yoga.

Dessa maneira, segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, as palavras que as gopīs falam neste verso podem ser assim interpreta­das: “Ó sol que diretamente destrói as trevas da ignorância, estamos causticadas pelos raios solares desse conhecimento filosófico. Somos pássaros cakora que só podem sobreviver no luar que irradia de Teu belo rosto. Por favor, retorna conosco para Vṛndāvana e, assim, traze-nos de volta à vida.”

E se Ele diz: “Então, vinde para Dvārakā, onde desfrutaremos juntos”, elas respondem que Śrī Vṛndāvana é seu lar, e que estão apegadas demais a ela para residirem em qualquer outro local. Somente ali, insinuam as gopīs através de suas palavras, Kṛṣṇa pode atraí-las usando penas de pavão em Seu turbante e tocando uma canção encantadora com Sua flauta. Apenas se Ele novamente rumar para Vṛndāvana é que as gopīs po­derão ser salvas, e não por qualquer outra espécie de meditação nEle ou conhecimento teórico acerca do eu.

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhu­pāda referentes ao décimo canto, octogésimo segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Kṛṣṇa e Balarāma Encontram-Se com os Habitantes de Vṛndāvana”.

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