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VERSO 19

sva-kṛta-vicitra-yoniṣu viśann iva hetutayā
taratamataś cakāssy anala-vat sva-kṛtānukṛtiḥ
atha vitathāsv amūṣv avitathāṁ tava dhāma samaṁ
viraja-dhiyo ’nuyanty abhivipaṇyava eka-rasam

sva — por Vós mesmo; kṛta — criadas; vicitra — variegadas; yoniṣu — dentro das espécies de vida; viśan — entrando; iva — aparentemente; hetutayā — como a motivação delas; taratamataḥ — segundo hierarquias; cakāssi — Vós Vos tornais visível; anala-vat — como o fogo; sva — Vossa; kta — criação; anukṛtiḥ — imitando; atha — portanto; vitathāsu — irreais; amūṣu — entre estas (várias espécies); avitatham — não irreal; tava — Vossa; dhāma — manifestação; samam — não diferenciada; viraja — imaculadas; dhiyaḥ — cujas mentes; anuyanti — compreendem; abhivipaṇyavaḥ — aqueles que estão livres de todos os enredamentos materiais (paṇa); eka-rasam — imutável.

Aparentemente entrando nas várias espécies de seres vivos que criastes, Vós os inspirais a agir, manifestando-Vos segundo suas posições superiores e inferiores, assim como o fogo se manifesta de maneiras diferentes segundo a forma daquilo que ele queima. Portanto, pessoas de inteligência imaculada, que estão completamente livres de apegos materiais, compreendem que Vosso eu indiferenciado e imutável é a realidade permanente entre todas estas impermanentes formas de vida.

SIGNIFICADO—Ouvindo essas orações dos Vedas personificados, em que os śrutis descrevem que a Superalma entra em incontáveis variedades de corpos materiais, um crítico talvez pergunte como o Supremo pode fazer isso sem tornar-Se limitado. De fato, proponentes da filosofia advaita não veem distinção essencial entre a Alma Suprema e Sua criação. Na concepção dos impersonalistas, o Absoluto inexplicavelmente ficou preso na armadilha da ilusão e, assim, tornou-Se primeiro um Deus pessoal e, depois, os semideuses, seres humanos, animais, plantas e, por fim, a matéria. Śaṅkarācārya e seus seguidores encontram enorme dificuldade para citar evidências védicas em apoio a essa teoria de como a ilusão se impôs ao Absoluto. Todavia, falando em seu próprio nome, os Vedas aqui respondem a essa objeção e se recusam a emprestar sua autoridade ao impersonalismo māyāvāda

O processo de criação chama-se, tecnicamente, sṛṣṭi, “emissão”. O Senhor Supremo emite Suas variadas energias, e essas partilham de Sua natureza, embora permaneçam distintas dEle. Esse fato é expres­so na verdadeira filosofia védica de acintya-bhedābheda, as inconce­bíveis unidade e diferença simultâneas do Senhor Supremo e Suas energias. Assim, embora cada uma das incontáveis almas individuais seja uma entidade distinta, todas as almas consistem na mesma subs­tância espiritual que o Supremo. Como partilham da essência espiri­tual do Senhor Supremo, as jīvas são não nascidas e eternas, assim como Ele o é. O Senhor Kṛṣṇa, falando a Arjuna no Campo de Ba­talha de Kurukṣetra, confirma isso:

na tv evāhaṁ jātu nāsaṁ
na tvaṁ neme janādhipāḥ
na caiva na bhaviṣyāmaḥ
sarve vayam ataḥ param

“Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir.” (Bhagavad-gītā 2.12) A criação material é um arranjo especial para aquelas jīvas que escolheram separar-se do serviço ao Senhor Supremo, e, dessa manei­ra, a criação envolve a produção de um mundo de imitação onde elas podem tentar ser independentes.

Depois de criar as muitas espécies de vida material, o Senhor Supremo expande-Se em Sua própria criação como a Superalma a fim de prover a inteligência e inspiração de que cada ser vivo necessita para sua existência cotidiana. Como se afirma na Taittirīya Upaniṣad (2.6.2), tat sṛṣṭvā tad evānuprāviśat: “Depois de criar este mundo, Ele, então, entrou no mundo.” O Senhor entra no mundo material, mas sem formar nenhum vínculo que O prenda a ele; isso os śrutis decla­ram neste trecho com a frase viśann iva, “apenas parecendo entrar”. Taratamataś cakāssi significa que o Paramātmā entra no corpo de cada ser vivo, do eminente semideus Brahmā até o germe insigni­ficante, e exibe diferentes graus de Sua potência segundo a capaci­dade de iluminação de cada alma. Analavat sva-kṛtānukṛtiḥ: Assim como o fogo aceso em vários objetos queima segundo as diferentes formas daqueles objetos, de igual modo a Alma Suprema, entrando nos corpos de todas as criaturas vivas, ilumina a consciência de cada alma condicionada segundo a capacidade individual dela.

Mesmo no meio da criação e destruição materiais, o Senhor de todas as criaturas permanece eternamente inalterado, como o expres­sa aqui a palavra eka-rasam. Em outras palavras, o Senhor mantém eternamente Sua forma pessoal de prazer espiritual imensurável e imaculado. Os raros seres vivos que se desvencilham por comple­to (abhitas) das atividades materiais, ou paṇa (tornando-se, portanto, abhivipaṇyavaḥ), chegam a conhecer o Senhor como Ele é. Todo homem inteligente deve seguir o exemplo dessas grandes almas e suplicar-lhes a oportunidade de também se ocupar no serviço devo­cional ao Senhor Supremo.

Esta oração é recitada por śrutis cuja atitude se assemelha àquela que expressa o seguinte mantra da Śvetāśvatara Upaniṣad (6.11):

eko devaḥ sarva-bhūteṣu gūḍhaḥ
sarva-vyāpī sarva-bhūtāntarātmā
karmādhyakṣaḥ sarva-bhūtādhivāsaḥ
sākṣī cetā kevalo nirguṇaś ca

“O Senhor Supremo único vive oculto dentro de todas as coisas cria­das. Ele permeia toda a matéria e está sentado nos corações de todos os seres vivos. Como a Superalma que mora em seu coração, Ele supervisiona suas atividades materiais. Assim, embora não tenha qualidades materiais, Ele é a única testemunha e aquele que dá consciência.”

Śrīla Śrīdhara Svāmī apresenta sua própria oração:

sva-nirmiteṣu kāryeṣu
tāratamya-vivarjitam
sarvānusyūta-san-mātraṁ
bhagavantaṁ bhajāmahe

“Adoremos o Senhor Supremo, que entra nos produtos de Sua própria criação, mas permanece à parte das gradações materiais superio­res e inferiores deles. Ele é a existência indiferenciada e pura que tudo permeia.”

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