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VERSO 20

sva-kṛta-pureṣv amīṣv abahir-antara-saṁvaraṇaṁ
tava puruṣaṁ vadanty akhila-śakti-dhṛto ’ṁśa-kṛtam
iti nṛ-gatiṁ vivicya kavayo nigamāvapanaṁ
bhavata upāsate ’ṅghrim abhavam bhuvi viśvasitāḥ

sva — por ele mesmo; kṛta — criados; pureṣu — nos corpos; amīṣu — estes; abahiḥ — não externamente; antara — ou internamente; saṁvaraṇam — cujo envoltório real; tava — Vossa; puruṣam — entidade viva; vadanti — (os Vedas) dizem; akhila — de todas; śakti — as energias; dhṛtaḥ — do possuidor; aṁśa — como a expansão; kṛtam — manifesta­da; iti — desta maneira; nṛ — da entidade viva; gatim — a posição; vi­vicya — determinando; kavayaḥ — sábios eruditos; nigama — dos Vedas; āvapanam — o campo em que são semeadas todas as oferendas; bhavataḥ — Vossos; upāsate — adoram; aṅghrim — os pés; abhavam — que provocam a cessação da existência material; bhuvi — na Terra; viśvasitāḥ — tendo desenvolvido fé.

O ser vivo individual, embora habite os corpos materiais que criou para si mesmo por meio de seu karma, de fato não é coberto nem pela matéria sutil nem pela grosseira. Isso acontece assim porque, como descrevem os Vedas, ele é parte integrante de Vós, o possuidor de todas as potências. Tendo determinado que esta é a posição da entidade viva, os sábios eruditos ficam imbuídos de fé e adoram Vossos pés de lótus, aos quais se ofere­cem todos os sacrifícios védicos neste mundo e que são a fonte da liberação.

SIGNIFICADO—Não somente o Senhor Supremo permanece por completo incontaminado quando reside nos corpos materiais das almas condicionadas, mas também as infinitesimais almas jīvas jamais são tocadas diretamen­te pelas coberturas de ignorância e luxúria que adquirem enquanto passam por repetidos ciclos de nascimentos e mortes. Por isso, a Taittirīya Upaniṣad (3.10.5) proclama que sa yaś cāyaṁ puruṣe yaś cāsāv āditye sa ekaḥ: “A alma do ser vivo corporificado é una com aquele que se encontra dentro do Sol.” De modo semelhante, a Chāndogya Upaniṣad (6.8.7) ensina que tat tvam asi: “Tu não és diferente daquela Verdade Suprema.”

Nesta oração, os Vedas personificados referem-se ao desfrutador finito dos corpos materiais (a alma jīva) como uma expansão do reservatório transcendental de todas as potências, o Senhor Supremo. O termo aṁśa-kṛtam, “feito como Sua porção”, deve ser compreen­dido de maneira adequada, porém, neste contexto. A jīva não é criada em tempo algum, nem é da mesma espécie de expansão do Senhor que as onipotentes expansões viṣṇu-tattvas. A Alma Suprema é o objeto adequado de toda adoração, e a alma jīva subordinada destina­-se a ser Seu adorador. O Senhor Supremo encena Seus passatem­pos mostrando-Se em inumeráveis aspectos de Sua personalidade, ao passo que a jīva é forçada a mudar de corpos sempre que suas reações kármicas acumuladas assim o ditam. Segundo o Śrī Nārada Pañcarātra:

yat taṭa-sthaṁ tu cid-rūpaṁ
sva-saṁvedyād vinirgatam
rañjitaṁ guṇa-rāgeṇa
sa jīva iti kathyate

“A potência marginal, que é espiritual por natureza, que emana da energia saṁvit autoconsciente e que fica maculada por seu apego aos modos da natureza material, chama-se jīva.”

Embora seja também uma expansão do Senhor Kṛṣṇa, a alma jīva se distingue das independentes expansões Viṣṇu de Kṛṣṇa por sua posição constitucional situada na margem entre o espírito e a maté­ria. Como explica o Mahā-varāha Purāṇa:

svāṁśaś cātha vibhinnāṁśa
iti dvidhā śa iṣyate
aṁśino yat tu sāmarthyaṁ
yat-svarūpaṁ yathā sthitiḥ

tad eva nāṇu-mātro ’pi
bhedaṁ svāṁśāṁśinoḥ kvacit
vibhinnāṁśo ’lpa-śaktiḥ syāt
kiñcit sāmarthya-mātra-yuk

“O Senhor Supremo é conhecido de duas maneiras: em termos de Suas expansões plenárias e de Suas expansões separadas. Entre as expansões plenárias e Sua fonte de expansão, jamais existe diferença essencial alguma quanto a Suas capacidades, formas ou situações. As expansões separadas, por outro lado, possuem apenas uma potência diminuta, sendo dotadas somente até certo ponto com os poderes do Senhor.”

A alma condicionada neste mundo parece como que coberta pela matéria, tanto interna quanto externamente. Externamente, a matéria grosseira a rodeia sob as formas de seu corpo e ambiente, enquanto, internamente, o desejo e a aversão influem em sua consciência. Todavia, da perspectiva transcendental dos sábios autorrealizados, ambas as espécies de cobertura material não têm substância. Pela eliminação lógica de todas as identidades materiais, que são erros de conceitua­ção baseados nas coberturas grosseira e sutil da alma, uma pessoa reflexiva pode determinar que a alma não é nada material. Ela é, na verdade, uma centelha pura do espírito divino, um servo da Divinda­de Suprema. Compreendendo isso, a pessoa deve adorar os pés de lótus do Senhor Supremo; tal adoração é a flor plenamente desabro­chada da árvore dos rituais védicos. A compreensão que se tem do esplendor dos pés de lótus do Senhor, nutrida aos poucos pelo oferecimento de sacrifícios védicos, produz automaticamente frutos tais como a liberação da existência material e a irrevogável fé na miseri­córdia do Senhor. Pode-se efetuar tudo isso enquanto ainda se vive no mundo material. Como declara o Senhor na Gopāla-tāpanī Upaniṣad (Uttara 47):

mathurā-maṇḍale yas tu
jambūdvīpe sthito ’tha vā
yo ’rcayet pratimāṁ prati
sa me priyataro bhuvi

“Quem Me adora sob Minha forma de Deidade enquanto vive no distrito de Mathurā ou, de fato, em qualquer lugar de Jambūdvīpa, torna-se muito querido para Mim neste mundo.”

Śrīla Śrīdhara Svāmī ora:

tvad-aṁśasya mameśāna
tvan-māyā-kṛta-bandhanam
tvad-aṅghri-sevām ādiśya
parānanda nivartaya

“Meu Senhor, por favor, libertai a Mim, Vossa expansão parcial, do cativeiro criado por Vossa māyā. Por favor, fazei isso, ó morada da suprema bem-aventurança, encaminhando-me ao serviço de Vossos pés.”

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