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VERSO 22

tvad-anupathaṁ kulāyam idam ātma-suhṛt-priya-vac
carati tathonmukhe tvayi hite priya ātmani ca
na bata ramanty aho asad-upāsanayātma-hano
yad-anuśayā bhramanty uru-bhaye ku-śarīra-bhṛtaḥ

tvat — a Vós; anupatham — útil para servir; kulāyam — corpo; idam — este; ātma — eu; suhṛt — amigo; priya — e amado; vat — como; cara­ti — age; tathā — não obstante; unmukhe — que estão favoravelmente dispostos; tvayi — em Vós; hite — que são auxiliares; priye — que são afetuosos; ātmani — que são o próprio Eu deles; ca — e; na — não; bata — ai; ramanti — têm prazer; aho — ah; asat — do irreal; upāsa­nayā — pela adoração; ātma — eles mesmos; hanaḥ — matando; yat — em que (adoração do irreal); anuśayāḥ — cujos desejos persistentes; bhra­manti — vagueiam; uru — muito; bhaye — na medonha (existência material); ku — degradados; śarīra — corpos; bhṛtaḥ — carregando.

Quando é usado para Vosso serviço devocional, este corpo humano age como o próprio eu, amigo e amado da pessoa. Mas desafortunadamente, embora sempre mostreis misericórdia para com as almas condicionadas e afetuosamente as ajudeis de todas as maneiras, e embora sejais o verdadeiro eu delas, as pessoas em geral deixam de deleitar-se em Vós. Em vez disso, cometem suicídio espiritual ao adorarem a ilusão. Oh! Porque persistem em aspi­rar por sucesso em sua devoção ao irreal, elas continuam a vagar por este terribilíssimo mundo, assumindo vários corpos degra­dados.

SIGNIFICADO—Os Vedas usam palavras fortes para aqueles que escolhem permanecer na ilusão em vez de servir à todo-misericordiosa Personalidade de Deus. A Bṛhad-āraṇyaka Upaniṣad (4.3.15) afirma que ārāmam asya paśyanti na taṁ paśyati kaścana; na tam vidātha ya imā jajānānyad yuṣmākam antaram babhūva; nīhāreṇa prāvṛtā jalpyā cāsu-tṛpa uktha-śāsaś caranti: “Todos podem ver o lugar onde o Senhor Se manifestou neste mundo para Seu prazer, mas, ainda assim, ninguém O vê. Nenhum de vós conhece aquele que gerou todos esses seres vivos, daí haver uma grande diferença entre vossa visão e a dEle. Cobertos pela névoa da ilusão, vós, praticantes de rituais védicos, entregais-vos a conversas inúteis e viveis apenas para satisfazer os sentidos.”

O Senhor Supremo permeia este universo, como Ele diz na Bhagavad-gītā (9.4), mayā tataṁ idaṁ sarvaṁ jagat. Nada neste mundo, nem mesmo o mais insignificante pote de barro ou tira de pano, está desprovido da presença da Personalidade de Deus. Todavia, porque Ele Se mantém invisível aos olhos invejosos (avyakta-mūrtinā), os materialistas são desencaminhados por Sua energia material e pensam que a fonte da criação material é uma combinação de átomos e forças físicas.

Mostrando sua compaixão por tais tolos materialistas, os Vedas personificados os aconselham nesta oração a lembrarem-se do real propósito para o qual eles existem: servir ao Senhor, seu maior benquerente, com devoção amorosa. O corpo humano é o recurso ideal para reviver a consciência espiritual; seus órgãos – ouvidos, língua, olhos etc. – são muito apropriados para ouvir sobre o Senhor, cantar Suas glórias, adorá-lO e executar todos os outros aspectos essenciais do serviço devocional.

O corpo material está destinado a manter-se intacto por apenas pouco tempo, daí ele se chamar kulāyam, sujeito a “dissolver-se na terra” (kau līyate). Não obstante, se bem utilizado, ele pode ser o melhor amigo da pessoa. Quando alguém está imerso em consciência mate­rial, porém, o corpo torna-se um falso amigo, distraindo a entidade viva desorientada de seu verdadeiro interesse próprio. Pessoas ena­moradas demais por seus próprios corpos e os de seus parceiros, filhos, animais de estimação etc. estão de fato desviando sua devo­ção para a adoração da ilusão, asad-upāsanā. Dessa maneira, como aqui declaram os śrutis, tais pessoas cometem suicídio espiritual, ga­rantindo punição futura por deixarem de executar as responsabilidades superiores da existência humana. Como declara a Īśopaniṣad (3):

asuryā nāma te lokā
andhena tamasāvṛtāḥ
tāṁs te pretyābhigacchanti
ye ke cātma-hano janāḥ

“O matador da alma, não importa quem seja, tem de entrar nos plane­tas conhecidos como os mundos dos infiéis, cheios de trevas e igno­rância.”

Aqueles que estão excessivamente apegados ao gozo dos sentidos ou que adoram o impermanente sob a forma de escrituras e filosofias falsas e materialistas, mantêm desejos que os levam a corpos mais degradados em cada vida sucessiva. Como estão presos na armadilha do ciclo de rotação perpétua do saṁsāra, sua única esperança de salvação é conseguir uma oportunidade de ouvir as misericordiosas ins­truções faladas pelos devotos do Senhor Supremo.

Śrīla Śrīdhara Svāmī ora:

tvayy ātmani jagan-nāthe
man-mano ramatām iha
kadā mamedṛśaṁ janma
mānuṣaṁ sambhaviṣyati

“Quando receberei um nascimento humano em que minha mente sentirá prazer em Vós, que sois a Alma Suprema e o Senhor do universo?­”

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