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VERSO 41

dyu-pataya eva te na yayur antam anantatayā
tvam api yad-antarāṇḍa-nicayā nanu sāvaraṇāḥ
kha iva rajāṁsi vānti vayasā saha yac chrutayas
tvayi hi phalanty atan-nirasanena bhavan-nidhanāḥ

dyu — do céu; patayaḥ — os senhores; eva — mesmo; te — Vosso; na yayuḥ — não podem alcançar; antam — o fim; anantatayā — por ser ilimitado; tvam — Vós; api — mesmo; yat — quem; antara — dentro de; aṇḍa — dos universos; nicayāḥ — multidões; nanu — de fato; sa — juntamente com; āvaranāḥ — suas coberturas externas; khe — no céu; iva — como; rajāṁsi — partículas de poeira; vānti — são levadas pelo vento; vaya­sā saha — com a roda do tempo; yat — porque; śrutayaḥ — os Vedas; tvayi — em Vós; hi — de fato; phalanti — frutificam; atat — daquilo que é distinto da Verdade Absoluta; nirasanena — pela eliminação; bhavat — em Vós; nidhanāḥ — cuja conclusão última.

Porque sois ilimitado, nem os senhores do céu nem mesmo Vós podeis jamais alcançar o limite de Vossas glórias. Os incontáveis universos, cada qual envolvido em seu invólucro, são impelidos pela roda do tempo a vaguear dentro de Vós, como partículas de poeira a voar pelo céu. Seguindo seu método de eliminação de tudo o que é separado do Supremo, os śrutis tornam-se bem-­sucedidos ao revelar-Vos como a sua conclusão máxima.

SIGNIFICADO—Agora, em sua última oração, os Vedas personificados levam à con­clusão de que todos os śrutis, mediante suas várias referências literais e metafóricas, descrevem, em última análise, a identidade, as qualidades pessoais e os poderes da Suprema Personalidade de Deus. As Upaniṣads glorificam-nO sem cessar, yad ūrdhvaṁ gārgi divo yad arvāk pṛthivyā yad antarā dyāvā-pṛthivī ime yad bhūtaṁ bhavac ca bhaviṣyac ca: “Minha cara filha de Garga, a grandeza dEle abran­ge tudo o que está acima de nós no céu, tudo abaixo da superfície da terra, tudo entre o céu e a terra, e tudo o que já existiu, existe agora ou existirá.” (Bṛhad-āraṇyaka Upaniṣad 3.8.4)

Para esclarecer o sentido desta oração final dos śrutis, Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura apresenta a seguinte conversa entre o Senhor Nārāyaṇa e os Vedas personificados: Os Vedas disseram: “O senhor Brahmā e os outros governantes dos planetas celestiais ainda não conseguiram descrever os limites de Vossas glórias. O que nós podemos fazer, então, já que somos insignificantes em compara­ção com esses formidáveis semideuses?”

O Senhor Nārāyaṇa respondeu: “Não. Vós śrutis sois dotados de visão mais sublime do que os semideuses que governam este universo. Sereis capazes de alcançar o limite de Minhas glórias se não parardes agora.”

“Mas nem Vós podeis encontrar Vosso limite!”

“Se esse é o caso, o que quereis dizer quando Me chamais de onisciente e onipotente?”

“Concluímos que possuís essas características pelo próprio fato de serdes ilimitado. Decerto, se alguém desconhece algo que nem mesmo existe, como um chifre de coelho, isso não deprecia sua onisciência, e se alguém não consegue encontrar tal não-entidade, isso não limita sua onipotência. Sois tão vasto que inumeráveis uni­versos flutuam dentro de Vós. Cada um desses universos é rodea­do de sete camadas compostas dos elementos materiais, e cada uma dessas coberturas concêntricas é sucessivamente dez vezes maior do que a anterior. Embora jamais possamos descrever a verdade completa sobre Vós, aperfeiçoamos nossa existência ao declararmos que sois o verdadeiro assunto dos Vedas.”

“Mas por que pareceis insatisfeitos?”

“Porque Śrīla Vyāsadeva descreveu nos Vedas a existência transcendental de Brahman, Paramātmā e Bhagavān apenas em resumo. Ao ver a necessidade de desenvolver melhor sua descrição a respeito do Supremo, ele escolheu concentrar-se no assunto referente ao Brahman, o aspecto impessoal do Supremo conhecido como tat (‘aquilo’), explicando Brahman mediante a negação de tudo o que difere dele. Assim como num campo onde caiu acidentalmente um estojo de joias, essas podem ser recuperadas caso se retiram as pedras, galhos e lixo indesejados; do mesmo modo, no reino visível de māyā e suas cria­ções, a Verdade Absoluta pode ser encontrada por um processo de eliminação. Já que nós, Vedas, não podemos enumerar toda catego­ria material, entidade individual, qualidade e movimento no universo do início até o fim dos tempos, e já que a verdade a respeito de Brahman, Paramātmā e Bhagavān ainda continuaria intacta mesmo que descrevêssemos todas essas coisas e depois as descartássemos, por esse meio de investigação nós nunca esperamos alcançar uma definição final sobre Vós. É apenas por Vossa misericórdia que podemos fazer alguma tentativa de nos aproximarmos de Vós, a sumamente inacessível Verdade Absoluta.”

Há muitas afirmações do śruti que levam adiante o trabalho de atan-nirasanam, o processo de distinguir o Supremo de tudo o que é inferior. A Bṛhad-āraṇyaka Upaniṣad (3.8.8), por exemplo, declara que asthūlam anaṇu ahrasvam adīrgham alohitam asneham acchāyam atamo ’vāyv anākāśam asaṅgam arasam agandham acakṣuṣkam aśrotram agamano ’tejaskam aprāṇam asukham amātram anantaram abāhyam: “Ele não é grande nem pequeno, curto nem comprido, quente nem frio, não está na sombra nem na escuridão. Tampouco é ele o vento ou o éter. Não está em contato com coisa alguma e não tem gosto, cheiro, olhos, ouvidos, movimento, potência, ar vital, prazer, medida, interior ou exterior.” A Kena Upaniṣad (3) declara que anyad eva tad viditād atho aviditād adhi: “O Brahman é dife­rente do que é conhecido e do que ainda está por ser conhecido.” E a Kaṭha Upaniṣad (2.14) afirma que anyatra dharmād anyatrādharmād anyatrāsmāt kṛtākṛtāt: “O Brahman está fora do âmbito de religião e irreligião, de ação piedosa e impiedosa.”

Segundo as regras da linguística e da lógica, uma negação não pode ser ilimitada: deve haver algum correlativo positivo do qual ela seja a negação. No caso do exaustivo atan-nirasanam dos Vedas, sua negação de que qualquer coisa material seja absolutamente real, o correlativo é a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa.

Śrīla Śrīdhara Svāmī ora:

dyu-patayo vidur antam ananta te
na ca bhavān na giraḥ śruti-maulayaḥ
tvayi phalanti yato nama ity ato
jaya jayeti bhaje tava tat-padam

“Os deuses do céu não conhecem Vosso limite, ó Senhor infinito, nem mesmo Vós o conheceis. Porque as palavras transcendentais dos sublimes śrutis tornam-se frutíferas ao Vos revelar, ofereço-Vos minhas reverências. Dessa maneira, adoro-Vos como a Verdade Absoluta, dizendo: ‘Todas as glórias a Vós! Todas as glórias a Vós!’”

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