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VERSO 39

sa sarva-dhī-vṛtty-anubhūta-sarva
ātmā yathā svapna-janekṣitaikaḥ
taṁ satyam ānanda-nidhiṁ bhajeta
nānyatra sajjed yata ātma-pātaḥ

saḥ — Ele (a Pessoa Suprema); sarva-dhī-vṛtti — o processo de compreensão através de todas as espécies de inteligência; anubhūta — os conhecedores; sarve — todos; ātmā — Superalma; yathā — tanto quanto; svapna-jana — uma pessoa sonhando; īkṣita — visto por; ekaḥ — sempre o mesmo; tam — a Ele; satyam — a Verdade Suprema; ānanda-nidhim — o oceano de bem-aventurança; bhajeta — a pessoa deve adorar; na — nunca; anyatra — nenhuma outra coisa; sajjet — estar apegada; yataḥ — pelo que; ātma-pātaḥ — a própria degradação.

A pessoa deve concentrar sua mente na Suprema Personalidade de Deus, que Se distribui sozinho em tantas manifestações assim como pessoas comuns criam milhares de manifestações em sonhos. A pessoa deve concentrar a mente nEle, a única Verdade Absoluta e inteiramente bem-aventurada. Caso contrário, a pessoa será desencaminhada e provocará sua própria degradação.

SIGNIFICADO—Neste verso, o grande Gosvāmī Śrīla Śukadeva indica qual é o processo de serviço devocional. Ele tenta incutir em nós a ideia de que, ao invés de desviarmos nossa atenção para vários ramos da autorrealização, devemos concentrar-nos na Suprema Personalidade de Deus como o supremo objeto de nossa percepção, adoração e devoção. A autorrealização é, por assim dizer, deixarmos de lutar pela existência material e passarmos a lutar pela vida eterna, e, por isso, através da graça ilusória da energia externa, o yogī ou o devoto se defrontam com muitas seduções, pelas quais um grande lutador pode voltar a enredar-se no cativeiro da existência material. O yogī pode alcançar um miraculoso sucesso em conquistas materiais, tais como aṇimā e laghimā, pelas quais pode tornar-se menor que o menor ou mais leve que o mais leve, ou, em linguagem mais simples, pode alcançar bênçãos materiais em forma de riqueza e mulheres. Mas a pessoa é advertida contra essas seduções porque voltar a emaranhar-se nesse prazer ilusório significa a degradação do eu e o persistente aprisionamento no mundo material. Prestando atenção a essa advertência, a pessoa deve seguir apenas sua inteligência vigilante.

O Senhor Supremo é um só, e Suas expansões são várias. Ele é, portanto, a Superalma de tudo. Ao ver algo, a pessoa deve saber que seu poder visual é secundário e que o poder visual do Senhor é primário. Ninguém pode ver nada que não tenha sido primeiro visto pelo Senhor. Essa é a instrução dos Vedas e das Upaniṣads. Logo, não importa o que vejamos ou façamos, a Superalma de todas as capacidades visuais ou de todas as ações é o Senhor. O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu propõe esta teoria de unidade e diferença simultâneas entre a alma individual e a Superalma como a filosofia acintya-bhedābheda-tattva. O virāṭ-rūpa, ou o aspecto gigantesco do Senhor Supremo, inclui toda a matéria manifesta, em razão do que o virāṭ, ou o aspecto gigantesco do Senhor, é a Superalma de todas as entidades vivas e inanimadas. Mas o virāṭ-rūpa é também uma manifestação de Nārāyaṇa, ou Viṣṇu, e, sempre continuando nessa linha de raciocínio, a pessoa acabará vendo que o Senhor Kṛṣṇa é a Superalma última de tudo o que existe. A conclusão é que, sem hesitar, a pessoa deve se tornar um adorador do Senhor Kṛṣṇa, ou, com o mesmo valor, um adorador de Sua expansão plenária Nārāyaṇa, e nenhuma outra pessoa. Nos hinos védicos, afirma-se claramente que, em primeiro lugar, Nārāyaṇa lançou um olhar sobre a matéria e, então, aconteceu a criação. Antes da criação, não havia Brahmā nem Śiva, e muito menos os outros. Śrīpāda Śaṅkarācārya aceita definitivamente isto: que Nārāyaṇa está além da criação material e que todos os outros estão dentro da criação material. Portanto, toda a criação material é simultaneamente igual a Nārāyaṇa e diferente dEle, e isso apoia a filosofa acintya-bhedābheda-tattva do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu. Sendo uma emanação do potente olhar de Nārāyaṇa, a criação material não é diferente dEle. Contudo, como resulta de Sua energia externa (bahiraṅgā-māyā) e está à parte da potência interna (ātma-māyā), a criação material é diferente dEle ao mesmo tempo. Neste verso, apresenta-se um ótimo exemplo: o homem que sonha. Ao dormir, a pessoa cria muitas situações em seu sonho, após o que ele próprio se vê enredado no sonho e também é afetado pelas consequências. Esta criação material também é exatamente como uma criação onírica do Senhor, mas Ele, sendo a Superalma transcendental, não é envolvido nem afetado pelas reações dessa criação onírica. Ele sempre está em Sua posição transcendental, mas, em essência, Ele é tudo, e nada é alheio a Ele. Sendo parte dEle, a pessoa deve, portanto, concentrar-se unicamente nEle, sem desvios; caso contrário, ela certamente será subjugada pelas potências da criação material, uma após outra. Na Bhagavad-gītā (9.7), isso recebe a seguinte confirmação:

sarva-bhūtāni kaunteya
prakṛtiṁ yānti māmikām
kalpa-kṣaye punas tāni
kalpādau visṛjāmy aham

“Ó filho de Kuntī, no final do milênio, todas as manifestações materiais entram em Minha natureza e, no começo de outro milênio, por Minha potência, Eu volto a criá-las.”

Entretanto, a vida humana é a oportunidade para sair dessa repetitiva criação e aniquilação. É o meio pelo qual a pessoa pode escapar da potência externa do Senhor e entrar em Sua potência interna.

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do segundo canto, primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Primeiro Passo para Compreender Deus.

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