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VERSO 20

śriyaḥ patir yajña-patiḥ prajā-patir
dhiyāṁ patir loka-patir dharā-patiḥ
patir gatiś cāndhaka-vṛṣṇi-sātvatāṁ
prasīdatāṁ me bhagavān satāṁ patiḥ

śriyaḥ — toda a opulência; patiḥ — o proprietário; yajña — do sacrifício; patiḥ — o diretor; prajā-patiḥ — o líder de todas as entidades vivas; dhiyām — da inteligência; patiḥ — o mestre; loka-patiḥ — proprietário de todos os planetas; dharā — Terra; patiḥ — o supremo; patiḥ — líder; gatiḥ — destino; ca — também; andhaka — um dos reis da dinastia Yadu; vṛṣṇi — o primeiro rei da dinastia Yadu; sātvatām — os Yadus; prasīdatām — sê misericordioso; me — comigo; bhagavān — Senhor Śrī Kṛṣṇa; satām — de todos os devotos; patiḥ — o Senhor.

Que o Senhor Śrī Kṛṣṇa, que é o Senhor adorável de todos os devotos, o protetor e a glória de todos os reis, como Andhaka e Vṛṣṇi, da dinastia Yadu, o esposo de todas as deusas da fortuna, o diretor de todos os sacrifícios e, portanto, o líder de todas as entidades vivas, o controlador de toda inteligência, o proprietário de todos os planetas, espirituais e materiais, e a encarnação suprema sobre a Terra (o todo supremo), seja misericordioso comigo.

SIGNIFICADO—Como é um dos proeminentes gata-vyalīkas, que estão livres de todas as falsas concepções errôneas, Śukadeva Gosvāmī expressa que, segundo a própria compreensão por ele adquirida, o Senhor Śrī Kṛṣṇa é o somatório de toda a perfeição, a Personalidade de Deus. Todos estão buscando ser favorecidos pela deusa da fortuna, mas as pessoas não sabem que o Senhor Śrī Kṛṣṇa é o amado esposo de todas as deusas da fortuna. Na Brahma-saṁhitā, afirma-se que o Senhor, em Sua transcendental morada Goloka Vṛndāvana, dedica-Se a apascentar as vacas surabhi e é servido por centenas de milhares de deusas da fortuna. Todas essas deusas da fortuna são manifestações da transcendental potência de prazer (hlādinī-śakti) de Sua energia interna, e, ao manifestar-Se nesta Terra, o Senhor desempenhou a rāsa-līlā, onde foram apresentadas algumas atividades de Sua potência de prazer, com as quais Ele simplesmente queria atrair as almas condicionadas, que estão todas em busca da fantasmagórica potência de prazer no degradado gozo sexual. Os devotos puros do Senhor, como Śukadeva Gosvāmī, que era inteiramente desapegado da abominável vida sexual do mundo material, decerto não se referiam a atividades sexuais ao mencionarem esta faceta da potência de prazer do Senhor, mas era seu objetivo saborear um gosto transcendental inconcebível para as pessoas mundanas em busca de vida sexual. Vida sexual no mundo temporário é a causa fundamental do condicionamento aos grilhões da ilusão, e, com certeza, Śukadeva Gosvāmī jamais se interessou pela vida sexual do mundo temporário. Tampouco a manifestação da potência de prazer do Senhor tem alguma ligação com essas perversões. O Senhor Caitanya era um sannyāsī estrito, prova isso o fato de que Ele não permitia que nenhuma mulher se aproximasse dEle, nem mesmo para prostrar-se e oferecer respeitos. Ele nem mesmo ouvia as orações que as deva-dāsīs ofereciam no templo de Jagannātha, porque se proíbe que o sannyāsī ouça canções cantadas pelo belo sexo. Entretanto, mesmo na rígida posição de sannyāsī, Ele recomendou o modo de adoração praticado pelas gopīs de Vṛndāvana como sendo o serviço amoroso mais elevado que se pode prestar ao Senhor. E Śrīmatī Rādhārāṇī é a principal de todas essas deusas da fortuna e, portanto, é a personificação do prazer do Senhor, e não é diferente de Kṛṣṇa.

Nos rituais védicos, há recomendações para a realização de diferentes espécies de sacrifícios a fim de que se obtenha o benefício máximo na vida. Na execução de grandes sacrifícios, as bênçãos recebidas são, afinal de contas, favores concedidos pela deusa da fortuna, e o Senhor, sendo o esposo ou amante da deusa da fortuna, de fato também é o Senhor de todos os sacrifícios. Ele é o desfrutador último de todas as classes de yajña; portanto, Yajña-pati é outro nome do Senhor Viṣṇu. A Bhagavad-gītā recomenda que tudo seja feito para o Yajña-pati (yajñārtāt karmaaḥ), ou os atos serão a causa do condicionamento à lei da natureza material. Aqueles que não estão livres de todas as falsas concepções (vyalīkam) realizam sacrifícios para satisfazer meros semideuses, mas o devoto do Senhor sabe muito bem que o Senhor Śrī Kṛṣṇa é o supremo desfrutador de todas as práticas de sacrifícios; portanto, realizam o saṅkīrtana-yajña (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ), que é especialmente recomendado nesta era de Kali. Em Kali-yuga, a prática de outras espécies de sacrifício não é exequível, pois faltam condições propícias e sacerdotes qualificados.

Na Bhagavad-gītā (3.10-11), somos informados de que o senhor Brahmā, após propiciar o renascimento das almas condicionadas dentro do universo, instruiu-as a realizarem sacrifícios para levarem uma vida próspera. Com essas práticas de sacrifício, as almas condicionadas jamais terão dificuldade em se manter vivas. Por fim, podem purificar sua existência. Elas serão naturalmente promovidas à existência espiritual, a verdadeira identidade do ser vivo. Em nenhuma circunstância deve a alma condicionada abandonar a prática de sacrifício, austeridade e caridade. A meta de todos esses sacrifícios é satisfazer o Yajña-pati, a Personalidade de Deus; portanto, o Senhor também é Prajā-pati. Segundo a Kaṭha Upaniṣad, há um único Senhor, e Ele é o líder das inúmeras entidades vivas. As entidades vivas são mantidas pelo Senhor (eko bahūnāṁ yo vidadhāti kāmān). Portanto, o Senhor é chamado de o Bhūta-bhṛt supremo, ou o mantenedor de todos os seres vivos.

Os seres vivos são dotados de inteligência na proporção de suas atividades anteriores. Os seres vivos não possuem o mesmo grau de inteligência porque, por trás do desenvolvimento dessa inteligência, está o controle do Senhor, como se declara na Bhagavad-gītā (15.15). Como Paramātmā, Superalma, o Senhor vive no coração de todos, e apenas dEle vem o poder de lembrança, conhecimento e esquecimento (mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca). Pela graça do Senhor, uma pessoa pode lembrar-se muito bem de suas atividades passadas, mas outras não podem. Pela graça do Senhor, alguém é muito inteligente, mas, por causa desse mesmo controle, há aqueles que não passam de tolos. Portanto, o Senhor é Dhiyām-pati, ou o Senhor da inteligência.

As almas condicionadas lutam para se tornarem senhores do mundo material. Todos estão tentando assenhorear-se da natureza material, empregando seu mais alto grau de inteligência. Esse abuso de inteligência praticado pela alma condicionada chama-se loucura. Todos devem aplicar sua inteligência em livrar-se das garras materiais. Mas a alma condicionada, devido apenas à loucura, ocupa toda a sua energia e inteligência no gozo dos sentidos, e, para alcançar essa meta da vida, ela deliberadamente comete todas as espécies de más ações. O resultado é que, ao invés de alcançar uma vida não-condicionada em que há liberdade plena, a alma condicionada, estando louca, emaranha-se repetidas vezes em diferentes classes de cativeiros nos corpos materiais. Tudo o que vemos na manifestação material é apenas a criação do Senhor. Portanto, Ele é o verdadeiro proprietário de tudo o que há nos universos. Sob o controle do Senhor, e nunca com total independência, pode a alma condicionada desfrutar um fragmento dessa criação material. Essa é a instrução que consta na Īśopaniṣad. Todos devem satisfazer-se com aquilo que é concedido pelo Senhor do universo. É apenas por loucura que alguém tenta usurpar as posses materiais alheias.

O Senhor do universo, por Sua imotivada misericórdia para com as almas condicionadas, desce através de Sua própria energia (ātma-mayā) para restabelecer a relação eterna que as almas condicionadas mantêm com Ele. O Senhor recomenda que todos se rendam a Ele ao invés de quererem se fazer passar por desfrutadores de uma limitada porção que está sob Seu controle. Ao executar esse advento, Ele prova quão maior é Sua habilidade de desfrutar e manifesta Seu poder de desfrute, por exemplo, casando-se com dezesseis mil esposas de uma só vez. A alma condicionada orgulha-se muito porque tem apenas uma esposa, mas o Senhor ri disso; o homem inteligente consegue perceber quem é o verdadeiro esposo. De fato, o Senhor é o esposo de todas as mulheres em Sua criação, mas a alma condicionada, que está sob o controle do Senhor, orgulha-se de ser o esposo de uma ou duas mulheres.

Todas essas qualificações, que se coadunam com as diferentes categorias de patis mencionadas neste verso, aplicam-se ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, e Śukadeva Gosvāmī, portanto, menciona especialmente o pati e gati da dinastia Yadu. Os membros da dinastia Yadu sabiam que o Senhor Śrī Kṛṣṇa é tudo, e todos eles queriam voltar ao Senhor Śrī Kṛṣṇa depois que Ele concluísse Seus passatempos transcendentais sobre a Terra. Por vontade do Senhor, a dinastia Yadu foi aniquilada para que seus membros pudessem voltar ao lar com o Senhor. A aniquilação da dinastia Yadu foi um espetáculo material criado pelo Senhor Supremo; de resto, o Senhor e os membros da dinastia Yadu são todos associados eternos. Portanto, o Senhor é o guia de todos os devotos, e, nesse caso, Śukadeva Gosvāmī, deixando que se desenvolvam sentimentos carregados de amor, oferece-Lhe os devidos respeitos.

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