VERSO 10
nānṛtaṁ tava tac cāpi
yathā māṁ prabravīṣi bhoḥ
avijñāya paraṁ matta
etāvat tvaṁ yato hi me
na — não; anṛtam — falso; tava — de ti; tat — isto; ca — também; api — como afirmaste; yathā — no que se trata de; mām — de mim; prabravīṣi — como descreves; bhoḥ — ó meu filho; avijñāya — sem conhecer; param — o Supremo; mattaḥ — superior a mim; etāvat — tudo o que falaste; tvam — tu mesmo; yataḥ — em razão de; hi — com certeza; me — sobre mim.
Tudo o que falaste a meu respeito não é falso, pois, enquanto a pessoa não passa a conhecer a Personalidade de Deus, que é a verdade última superior a mim, com certeza se iludirá observando minhas atividades poderosas.
SIGNIFICADO—A lógica do “sapo no poço” ilustra que o sapo que reside na atmosfera e limites de um poço não pode imaginar o comprimento e a largura do oceano gigantesco. Semelhante sapo, ao ser informado do gigantesco comprimento e largura do oceano, primeiro não acredita que exista tal oceano, e, se alguém lhe garante que existe, o sapo usa, então, de sua imaginação e começa a medi-lo, dilatando sua barriga o máximo possível, e seu minúsculo abdômen acaba se rompendo e o pobre sapo morre, ficando sem nenhuma noção do verdadeiro oceano. Do mesmo modo, os cientistas materialistas também querem desafiar a potência inconcebível do Senhor, medindo-O com seus cérebros de sapo e suas conquistas científicas, mas eles simplesmente acabam morrendo sem nenhum sucesso, como o sapo.
Às vezes, sem que se tenha algum conhecimento do verdadeiro Deus, aceita-se que um homem materialmente poderoso é Deus ou uma encarnação de Deus. Essa avaliação material pode estender-se gradualmente, e a tentativa pode alcançar o limite máximo, ou seja, Brahmājī, que é o ser vivo mais elevado dentro do universo e que tem uma duração de vida que o cientista material considera inimaginável. Conforme a informação que obtemos no mais autêntico livro de conhecimento, a Bhagavad-gītā (8.17), calcula-se que um dia e uma noite de Brahmājī equivalem a algumas centenas de milhares de anos em nosso planeta. O “sapo no poço” talvez não acredite que haja essa longa duração de vida, mas as pessoas que têm uma percepção das verdades mencionadas na Bhagavad-gītā aceitam a existência de uma grande personalidade que cria a variedade contida em todo o universo. Compreende-se através das escrituras reveladas que o Brahmājī deste universo é mais jovem do que todos os outros Brahmās encarregados dos muitos e muitos outros universos diferentes deste, mas nenhum deles pode ser igual à Personalidade de Deus.
Nāradajī é uma das almas liberadas e, após sua liberação, ele ficou conhecido como Nārada; por outro lado, antes de sua liberação, era o simples filho de uma criada. Pode-se perguntar a razão pela qual Nāradajī não conhecia o Senhor Supremo e por qual motivo confundiu Brahmājī com o Senhor Supremo, embora, na verdade, ele não o fosse. Se a alma liberada jamais se deixa confundir por essa ideia errônea, por que Nāradajī fez todas essas perguntas como se fosse um homem comum com um pobre fundo de conhecimento? Essa perplexidade também acometeu Arjuna, embora ele seja um eterno associado do Senhor. Semelhante confusão que toma conta de Arjuna ou Nārada ocorre pela vontade do Senhor para que outras pessoas que não são liberadas possam compreender a verdade dos fatos e conheçam o Senhor. O fato de Nārada ter desconfiado que Brahmājī não se tornou todo-poderoso serve de lição para os sapos no poço para que eles não se confundam com a verdadeira identidade da Personalidade de Deus (ao qual não se pode comparar uma personalidade como Brahmā, e muito menos os homens comuns que se fazem passar por Deus ou uma encarnação de Deus). O Senhor Supremo é sempre o Supremo, e, como tentamos estabelecer várias vezes nestes significados, nenhum ser vivo, mesmo que esteja no padrão de Brahmā, pode alegar ser uno com o Senhor. Ninguém deve se deixar enganar quando a população, prestando tributo a um herói após a sua morte, adora-o como Deus. Houve muitos reis como o Senhor Rāmacandra, o rei de Ayodhyā, mas nenhum deles é mencionado como Deus nas escrituras reveladas. Ser um bom rei não é necessariamente uma qualificação para ser o Senhor Rāma, mas ser uma grande personalidade como Kṛṣṇa é a qualificação para ser a Personalidade de Deus. Se examinarmos atentamente as personagens que participaram da Batalha de Kurukṣetra, poderemos observar que Mahārāja Yudhiṣṭhira não era um rei menos piedoso que o Senhor Rāmacandra, e, pelo estudo do caráter, Mahārāja Yudhiṣṭhira era mais moralista do que o Senhor Kṛṣṇa. O Senhor Kṛṣṇa pediu que Mahārāja Yudhiṣṭhira mentisse, mas Mahārāja Yudhiṣṭhira protestou contra isso. Entretanto, isso não significa que Mahārāja Yudhiṣṭhira pudesse ser igual ao Senhor Rāmacandra ou ao Senhor Kṛṣṇa. As grandes autoridades consideram Mahārāja Yudhiṣṭhira um homem piedoso, mas aceitam o Senhor Rāma ou Kṛṣṇa como a Personalidade de Deus. O Senhor, portanto, é uma identidade diferente em todas as circunstâncias, e nenhuma ideia de antropomorfismo pode ser aplicada a Ele. O Senhor é sempre o Senhor, e o ser vivo comum jamais pode ser igual a Ele.