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VERSO 30

vaikārikān mano jajñe
devā vaikārikā daśa
dig-vātārka-praceto ’śvi-
vahnīndropendra-mitra-kāḥ

vaikārikāt — do modo da bondade; manaḥ — a mente; jajñe — gerada; devāḥ — semideuses; vaikārikāḥ — no modo da bondade; daśa — dez; dik — o controlador das direções; vāta — o controlador do ar; arka — o Sol; pracetaḥ — Varuṇa; aśvi — os Aśvinī-kumāras; vahni — o deus do fogo; indra — o rei dos céus; upendra — a deidade celestial; mitra — um dos doze Ādityas; kāḥ — Prajāpati Brahmā.

A partir do modo da bondade, a mente é gerada e se manifesta, bem como os dez semideuses que controlam os movimentos corpóreos. Esses semideuses são conhecidos como os controladores das direções, o controlador do ar, o deus do Sol, o pai de Dakṣa Prajāpati, os Aśvinī-kumāras, o deus do fogo, o rei dos céus, a deidade celestial adorável, o líder dos Ādityas, e Brahmājī, o Prajāpati. Todos vêm a existir.

SIGNIFICADO—Vaikārika é a fase neutra da criação, e tejas é o início da criação, enquanto tamas é a manifestação completa da criação material sob o encanto da escuridão da ignorância. A fabricação das “necessidades da vida” em indústrias e oficinas, muito proeminente na era de Kali, ou na era das máquinas, é o ponto culminante da qualidade da escuridão. Esses empreendimentos industriais da sociedade humana estão no modo da escuridão porque esses artigos fabricados, na verdade, não são necessários. A sociedade humana basicamente precisa de alimentos para a sobrevivência, abrigo para dormir, defesa para proteção, e parafernália para a satisfação dos sentidos. Os sentidos são os sinais práticos da vida, como será explicado no próximo verso. A civilização humana destina-se a purificar os sentidos, e os objetos de gozo dos sentidos devem ser fornecidos na quantidade absolutamente necessária, e não para agravar necessidades sensoriais artificiais. Alimento, abrigo, defesa e gozo dos sentidos são todos necessários na existência material. Por outro lado, em seu puro e imaculado estado de vida original, a entidade viva não tem essas necessidades. As necessidades são, portanto, artificiais, e, no estado de vida pura, não existem essas necessidades. Nesse caso, o incremento das necessidades artificiais, como é o padrão da civilização material, ou o estímulo do desenvolvimento econômico da sociedade humana, é uma espécie de ocupação em escuridão, sem conhecimento. Nessa ocupação, a energia humana é desperdiçada, porque a energia humana destina-se essencialmente a purificar os sentidos para ocupá-los na satisfação dos sentidos do Senhor Supremo. O Senhor Supremo, sendo o supremo possuidor de sentidos espirituais, é o mestre dos sentidos, Hṛṣīkeśa. Hṛṣīka significa os sentidos, e īśa significa o mestre. O Senhor não é servo dos sentidos, ou, em outras palavras, Ele não é dirigido pelos ditames dos sentidos, mas as almas condicionadas, ou as entidades vivas individuais, são servas dos sentidos. Elas são conduzidas pelas orientações ou ditames dos sentidos, daí a civilização material ser uma espécie de ocupação apenas em gozo dos sentidos. O padrão humano de civilização deve ser curar essa doença, o gozo dos sentidos, e a pessoa consegue isso simplesmente tornando-se um agente para a satisfação dos sentidos espirituais do Senhor. Os sentidos jamais deixarão de ter suas ocupações, mas a pessoa deve purificá-los, ocupando-os no serviço puro que consiste em satisfazer os sentidos do mestre dos sentidos. Essa é a instrução de toda a Bhagavad-gītā. Através de sua decisão de não lutar com seus parentes e amigos, Arjuna queria, em primeiro lugar, satisfazer seus próprios sentidos, mas o Senhor Śrī Kṛṣṇa ensinou-lhe a Bhagavad-gītā só para que Arjuna purificasse sua decisão baseada no gozo dos sentidos. Portanto, Arjuna concordou em satisfazer os sentidos do Senhor e, então, travar a Batalha de Kurukṣetra, como o Senhor desejava.

Os Vedas nos instruem a sair da existência da escuridão e avançar no caminho da luz (tamasi mā jyotir gama). O caminho da luz é, portanto, satisfazer os sentidos do Senhor. Homens desencaminhados, ou homens menos inteligentes, seguem o caminho da autorrealização sem nenhuma tentativa de satisfazer os sentidos transcendentais do Senhor trilhando o caminho mostrado por Arjuna e outros devotos do Senhor. Ao contrário, tentam artificialmente parar as atividades dos sentidos (sistema de yoga), ou negam os sentidos transcendentais do Senhor (sistema de jñāna). Os devotos, entretanto, estão acima dos yogīs e jñānīs porque os devotos puros não negam que o Senhor possua sentidos; eles querem satisfazer os sentidos do Senhor. É apenas devido à escuridão da ignorância que os yogīs e jñānīs negam que o Senhor possui sentidos e, assim, tentam artificialmente controlar as atividades dos sentidos enfermos. Na condição doentia dos sentidos, os sentidos ocupam-se excessivamente em aumentar as necessidades materiais. Ao passar a ver como é desvantajoso agravar as atividades dos sentidos, a pessoa é chamada de jñānī, e quando tenta parar as atividades dos sentidos, praticando os princípios ióguicos, ela é chamada de yogī, mas, quando conhece plenamente os sentidos transcendentais do Senhor e tenta satisfazer Seus sentidos, é chamada de devoto do Senhor. Os devotos do Senhor não tentam negar os sentidos do Senhor, tampouco param artificialmente as ações dos sentidos, senão que voluntariamente ocupam os sentidos purificados em servir ao mestre dos sentidos, como foi a atitude de Arjuna. Desse modo, alcançam facilmente a perfeição, passando a satisfazer o Senhor, a meta última de toda a perfeição.

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