VERSO 37
puruṣasya mukhaṁ brahma
kṣatram etasya bāhavaḥ
ūrvor vaiśyo bhagavataḥ
padbhyāṁ śūdro vyajāyata
puruṣasya — da Suprema Personalidade de Deus; mukham — boca; brahma — são os brāhmaṇas; kṣatram — a ordem real; etasya — dEle; bāhavaḥ — os braços; ūrvoḥ — as coxas; vaiśyaḥ — são os mercadores; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; padbhyām — de Suas pernas; śūdraḥ — a classe operária; vyajāyata — manifestou-se.
Os brāhmaṇas representam Sua boca; os kṣatriyas, Seus braços; os vaiśyas, Suas coxas; e os śūdras nascem de Suas pernas.
SIGNIFICADO—Todos os seres vivos são tidos como partes integrantes do Senhor Supremo, e este verso explica como eles o são. As quatro divisões da sociedade humana, a saber, a classe inteligente (os brāhmaṇas), a classe administrativa (os kṣatriyas), a classe mercantil (os vaiśyas), e a classe operária (os śūdras), estão todas nas diferentes partes do corpo do Senhor. Nesse caso, ninguém é diferente do Senhor. Constitucionalmente, a boca do corpo e as pernas do corpo não são diferentes, mas a boca ou a cabeça do corpo são qualitativamente mais importantes do que as pernas. Ao mesmo tempo, a boca, as pernas, os braços e as coxas são todos partes integrantes do corpo. Esses membros do corpo do Senhor destinam-se a servir o todo completo. A boca destina-se a falar e comer, os braços destinam-se à proteção do corpo, as pernas destinam-se a carregar o corpo, e o abdômen do corpo destina-se a mantê-lo. A classe inteligente da sociedade, portanto, deve falar em nome do corpo, bem como aceitar alimento para satisfazer a fome do corpo. A fome do Senhor consiste em aceitar o fruto dos sacrifícios. Os brāhmaṇas, ou a classe inteligente, devem ser muito hábeis em realizar esses sacrifícios, e as classes subordinadas devem aderir a esses sacrifícios. Falar pelo Senhor Supremo significa glorificar o Senhor por meio da propagação do conhecimento sobre o Senhor como ele é, divulgando a verdadeira natureza do Senhor e a verdadeira posição de todas as outras partes do corpo inteiro. Os brāhmaṇas, portanto, precisam conhecer os Vedas, ou a fonte última do conhecimento. Veda significa conhecimento, e anta significa o fim dele. Segundo a Bhagavad-gītā, o Senhor é a fonte de tudo (ahaṁ sarvasya prabhavaḥ), e, por conseguinte, o fim de todo o conhecimento (vedānta) é conhecer o Senhor, conhecer nossa relação com Ele e agir unicamente de acordo com essa relação. As partes do corpo estão relacionadas com o corpo; do mesmo modo, o ser vivo deve conhecer sua relação com o Senhor. A vida humana tem este propósito especial, a saber, conhecer qual é a verdadeira relação entre cada ser vivo e o Senhor Supremo. Sem conhecer essa relação, a vida humana é arruinada. Portanto, classe de homens inteligentes, os brāhmaṇas, é especialmente responsável pela propagação desse conhecimento de nossa relação com o Senhor e em conduzir ao caminho correto a massa geral da população. A classe administrativa destina-se a proteger os seres vivos para que eles possam orientar sua vida na conquista desse objetivo. A classe mercantil destina-se a produzir grãos alimentícios e distribuí-los a toda a sociedade humana para que a população inteira receba a oportunidade de viver confortavelmente e desempenhar os deveres da vida humana. A classe mercantil também deve proteger as vacas para obter suficiente leite e produtos lácteos que podem, por si mesmos, dar a saúde e a inteligência adequadas para nutrir uma civilização que se interessa perfeitamente em conhecer a verdade última. E a classe operária, que não é inteligente nem poderosa, pode ajudar, prestando serviços físicos às outras classes superiores e, assim, beneficiar-se com a cooperação delas. Portanto, o universo é uma unidade completa em relação com o Senhor, e, sem essa relação com o Senhor, toda a sociedade humana é perturbada e fica sem nenhuma paz e prosperidade. Confirmam isso os Vedas: brāhmaṇo ’sya mukham āsīd, bāhū rājanyaḥ kṛtaḥ.