VERSO 1
rājovāca
brahmaṇā codito brahman
guṇākhyāne ’guṇasya ca
yasmai yasmai yathā prāha
nārado deva-darśanaḥ
rājā — o rei; uvāca — perguntou; brahmaṇā — pelo senhor Brahmā; coditaḥ — sendo instruído; brahman — ó brāhmaṇa erudito (Śukadeva Gosvāmī); guṇa-ākhyāne — ao narrar as qualidades transcendentais; aguṇasya — do Senhor, que não tem qualidades materiais; ca — e; yasmai yasmai — e para quem; yathā — tanto quanto; prāha — explicou; nāradaḥ — Nārada Muni; deva-darśanaḥ — alguém cuja audiência é tão boa quanto aquela de qualquer semideus.
O rei Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Como foi que Nārada Muni, cujos ouvintes são tão afortunados como aqueles instruídos pelo Senhor Brahmā, explicou as qualidades transcendentais do Senhor, que não tem qualidades materiais, e diante de quem ele falou?
SIGNIFICADO—Devarṣi Nārada foi instruído diretamente por Brahmājī, que também foi instruído diretamente pelo Senhor Supremo; portanto, as instruções que Nārada transmite a seus vários discípulos estão no mesmo nível das instruções do Senhor Supremo. Este é o método para se entender o conhecimento védico. Ele é proveniente do Senhor por meio da sucessão discipular, e este conhecimento transcendental é distribuído ao mundo mediante este processo descendente. Entretanto, não há nenhuma possibilidade de que o conhecimento védico seja recebido de especuladores mentais. Portanto, aonde quer que vá, Nārada Muni apresenta-se como alguém que foi autorizado pelo Senhor, e seu aparecimento está em nível de igualdade com o aparecimento do Senhor Supremo. De modo semelhante, a sucessão discipular que segue à risca a instrução transcendental é a autêntica corrente de sucessão discipular, e o teste para conhecer esses mestres espirituais genuínos é que não deve haver diferença entre a instrução que o Senhor originalmente transmitiu a Seu devoto e aquela comunicada pela autoridade na linha de sucessão discipular. Nos cantos posteriores, será explicado como Nārada Muni distribuiu o conhecimento transcendental referente ao Senhor.
Ficará também evidente que o Senhor existia antes da criação material, e, portanto, Seus transcendentais nomes, qualidades etc. não contêm nenhuma qualidade material. Por conseguinte, sempre que o Senhor é descrito como aguṇa, ou sem qualidades, isso não quer dizer que Ele não tenha nenhuma qualidade, mas que Ele não tem qualidades materiais, tais como os modos da bondade, paixão ou ignorância, como as almas condicionadas têm. Como é transcendental a todos os conceitos materiais, Ele é descrito, então, como aguṇa.