VERSO 10
āsīt purañjano nāma
rājā rājan bṛhac-chravāḥ
tasyāvijñāta-nāmāsīt
sakhāvijñāta-ceṣṭitaḥ
āsīt — havia; purañjanaḥ — Purañjana; nāma — chamado; rājā — rei; rājan — ó rei; bṛhat-śravāḥ — cujas atividades eram grandiosas; tasya — seu; avijñāta — o desconhecido; nāmā — chamado; āsīt — havia; sakhā — amigo; avijñāta — desconhecido; ceṣṭitaḥ — cujas atividades.
Meu querido rei, certa vez, no passado, existiu um rei chamado Purañjana, que era célebre por suas grandiosas atividades. Ele tinha um amigo chamado Avijñāta [“o desconhecido”]. Ninguém podia entender as atividades de Avijñāta.
SIGNIFICADO––Toda entidade viva é purañjana. A palavra puram significa “dentro deste corpo, dentro desta forma”, e jana significa “entidade viva”. Assim, todos são purañjanas. Considera-se toda entidade viva como o rei de seu corpo porque a entidade viva recebe plena liberdade de usar seu corpo da maneira que desejar. Normalmente, ela ocupa o seu corpo em gozo dos sentidos, porque quem está no conceito corpóreo da vida sente que a meta última da vida é servir os sentidos. Esse é o processo de karma-kāṇḍa. Alguém que não tenha conhecimento interior, que não saiba que na verdade é a alma espiritual dentro do corpo, que está simplesmente enamorado pelos ditames dos sentidos, é chamado de materialista. Um materialista interessado em gozo dos sentidos pode ser chamado de purañjana. Uma vez que tal materialista utiliza seus sentidos de acordo com seus caprichos, ele também pode ser chamado de rei. Um rei irresponsável considera a posição real como propriedade pessoal e utiliza mal seu tesouro para o gozo dos sentidos.
A palavra bṛhac-chravāḥ também é significativa. A palavra śravaḥ significa “fama”. A entidade viva é famosa desde tempos imemoriais, pois, como se afirma na Bhagavad-gītā (2.20), na jāyate mriyate vā: “A entidade viva nunca nasce e nunca morre.” Por ser eterna, suas atividades são eternas, embora sejam executadas em diferentes classes de corpos. Na hanyate hanyamāne śarīre: “Ela não morre, nem mesmo após a aniquilação do corpo.” Assim, a entidade viva transmigra de um corpo a outro e realiza diversas atividades. Em cada corpo, a entidade viva executa muitos atos. Às vezes, torna-se um grande herói – assim como Hiraṇyakaśipu e Kaṁsa ou, na era moderna, Napoleão ou Hitler. As atividades de semelhantes homens são decerto muito grandiosas, mas basta seus corpos terminarem para tudo mais terminar. Então, deles permanece apenas o nome. Portanto, a entidade viva pode ser chamada de bṛhac-chravāḥ; pode ser que conquiste grande renome devido a várias classes de atividades. Todavia, ela tem um amigo que ela desconhece. Os materialistas não entendem que Deus está presente como a Superalma, a qual Se encontra no coração de cada entidade viva. Embora o Paramātmā esteja sentado ao lado do jīvātmā como um amigo, o jīvātmā, ou a entidade viva, não sabe disso. Consequentemente, ela é descrita como avijñāta-sakhā, significando “aquele que tem um amigo desconhecido”. A palavra avijñāta-ceṣṭitaḥ também é significativa porque a entidade viva trabalha arduamente sob a direção de Paramātmā e é arrastada pelas leis da natureza. Não obstante, ela se julga independente de Deus e independente das estritas leis da natureza material. A Bhagavad-gītā (2.24) afirma:
acchedyo ’yam adāhyo ’yam
akledyo ’śoṣya eva ca
nityaḥ sarva-gataḥ sthāṇur
acalo ’yaṁ sanātanaḥ
“Esta alma individual é inquebrável e indissolúvel, e não pode ser queimada nem seca. Ela é permanente, está presente em toda a parte, é imutável, imóvel e eternamente a mesma.”
A entidade viva é sanātana, eterna. Como não pode ser morta por nenhuma arma, reduzida a cinzas pelo fogo, molhada ou umedecida pela água, nem secada pelo ar, ela é considerada imune às reações materiais. Apesar de trocar de corpos, as condições materiais não a afetam. Ela é submetida às condições materiais e age de acordo com as orientações de seu amigo, a Superalma. Como se afirma na Bhagavad-gītā (15.15):
sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭo
mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca
“Estou situado nos corações de todos, e é de Mim que vêm a lembrança, o conhecimento e o esquecimento.” Assim, o Senhor como Paramātmā encontra-Se no coração de todos, e dá orientações à entidade viva para ela agir da maneira que deseje. Nesta vida e em suas vidas anteriores, a entidade viva não sabe que o Senhor lhe está dando uma oportunidade de satisfazer toda espécie de desejos. Ninguém pode satisfazer nenhum desejo sem a sanção do Senhor. A alma condicionada ignora todos os recursos que o Senhor lhe oferece.