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VERSO 11

so ’nveṣamāṇaḥ śaraṇaṁ
babhrāma pṛthivīṁ prabhuḥ
nānurūpaṁ yadāvindad
abhūt sa vimanā iva

saḥ — esse rei Purañjana; anveamānaḥ — procurando; śaraam­ — refúgio; babhrāma — viajou por; pṛthivīm — todo o planeta Terra; prabhuḥ — para se tornar um senhor independente; na — nunca; anurūpam — de seu agrado; yadā — quando; avindat — pôde encon­trar; abhūt — ficou; saḥ — ele; vimanāḥ — taciturno; iva — como.

O rei Purañjana começou a procurar um lugar adequado para viver, e assim viajou pelo mundo inteiro. Mesmo após grandes jornadas, ele não pôde encontrar um lugar que fosse do seu agrado. Por fim, ele ficou taciturno e desapontado.

SIGNIFICADO––As viagens de Purañjana são semelhantes às viagens dos hippies modernos. De um modo geral, os hippies são filhos de pais e famílias grandiosas. Não é verdade que eles sejam sempre pobres. Contudo, de alguma forma, eles abandonam o abrigo de seus pais ricos e viajam por todo o mundo. Como se afirma neste verso, a entidade viva deseja tornar-se prabhu, ou senhor. Embora a palavra prabhu signifique “senhor”, na verdade a entidade viva não é um senhor: ela é serva eterna de Deus. Abandonando o abrigo de Deus, Kṛṣṇa, e procurando tornar-se prabhu independentemente, a entidade viva viaja por toda a criação. Existem 8.400.000 espécies de vida e milhões e bilhões e trilhões de planetas dentro da criação. A entida­de viva vagueia através dessas várias espécies de corpos e através de diferentes planetas e, dessa maneira, ela é como o rei Purañjana, que viajou por todo o mundo em busca de um lugar adequado para viver.

Śrī Narottama Dāsa Ṭhākura afirma em uma canção que karma­-kāṇḍa, jñāna-kāṇḍa, kevala viṣera bhāṇḍa: “O caminho de karma-­kāṇḍa [atividades fruitivas] e o caminho de jñāna-kāṇḍa [especu­lação] são como potes de um forte veneno.” Amṛta baliyā yebā khāya, nānā yoni sadā phire: “Uma pessoa que confunde esse veneno com néctar e o bebe viaja por diferentes espécies de vida.” Kadarya bha­kṣaṇa kare: “E, de acordo com seu corpo, ela come toda classe de coisas abomináveis.” Por exemplo, quando a entidade viva está no corpo de um porco, ela come excremento. Quando a entidade viva está no corpo de um urubu, ela come toda espécie de carniça, e até mesmo pus e muco, e desfruta disso. Assim, Narottama Dāsa Ṭhākura demonstra como a entidade viva viaja por diversas espécies de corpos e come toda espécie de coisas abomináveis. Como, no final de tudo, ela não se sente feliz, torna-se taciturna ou adota o caminho dos hippies.

Assim, este verso diz (na anurūpam) que o rei não conseguia encontrar um lugar adequado para suas intenções. Isso porque, em nenhuma forma de vida e em nenhum planeta do mundo material, a entidade viva pode ser feliz, haja vista que tudo no mundo material é inadequado para a alma espiritual. Como se afirma neste verso, a entidade viva deseja tornar-se prabhu independentemente, mas sua felicidade começa tão logo ela abandona essa ideia e se torna serva de Deus, Kṛṣṇa. Portanto, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura canta:

miche māyāra vaśe, yāccha bhese’,
khāccha hābuḍubu, bhāi

“Minha cara entidade viva, por que te deixas arrastar pelas ondas de māyā?” Como afirma a Bhagavad-gītā (18.61):

īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ
hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati
bhrāmayan sarva-bhūtāni
yantrārūḍhāni māyayā

“O Senhor Supremo está situado nos corações de todos, ó Arjuna, e está dirigindo as andanças de todas as entidades vivas, que estão sentadas num tipo de máquina feita de energia material.”

A entidade viva é levada na máquina do corpo através de muitas espécies de vida em muitos planetas. Portanto, Bhaktivinoda Ṭhākura pergunta à entidade viva por que ela está se deixando arrastar nessas máquinas corpóreas, sendo exposta a tantas circunstâncias diferentes. Ele aconselha, portanto, que superemos as ondas de māyā, rendendo-nos a Kṛṣṇa:

jīva kṛṣṇa-dāsa, e viśvāsa,
karle ta’ āra duḥkha nāi

Logo que nos confrontamos com Kṛṣṇa, Kṛṣṇa nos aconselha:

sarva-dharmān parityajya
mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja
ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo
mokṣayiṣyāmi mā śucaḥ

“Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas.” (Bg. 18.66)

Assim, somos imediatamente dispensados da viagem de um corpo a outro e de um planeta a outro. Śrī Caitanya Mahāprabhu diz: brahmāṇḍa bhramite kona bhāgyavān jīva (Cc. Madhya 19.151). Se, durante sua viagem, uma entidade viva obtém a fortuna de ser abençoada pela companhia dos devotos e alcançar a consciên­cia de Kṛṣṇa, sua verdadeira vida começa. Este movimento para a consciência de Kṛṣṇa está dando a todas as entidades vivas errantes uma oportunidade de se refugiarem em Kṛṣṇa e, dessa maneira, tornarem-se felizes.

Neste verso, as palavras vimanā iva são muito significativas. Neste mundo material, mesmo o grande rei do céu também está sempre cheio de ansiedade. Se até o senhor Brahmā experimenta ansie­dades, o que dizer, então, das entidades vivas comuns que estão trabalhando neste planeta? A Bhagavad-gītā (8.16) confirma:

ābrahma-bhuvanāl lokāḥ
punar āvartino ’rjuna

“Desde o planeta mais elevado no mundo material até o mais baixo, todos são lugares de sofrimento, onde ocorrem repetidos nascimentos e mortes.” No mundo material, a entidade viva nunca está satisfeita. Mesmo na posição de Brahmā ou na posição de Indra ou Candra, ela está sempre cheia de ansiedade pelo simples fato de ter aceitado este mundo material como um lugar de felicidade.

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