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VERSO 21

pāpacyamānena hṛdāturendriyaḥ
samṛddhibhiḥ pūruṣa-buddhi-sākṣiṇām
akalpa eṣām adhiroḍhum añjasā
paraṁ padaṁ dveṣṭi yathāsurā harim

pāpacyamānena — queimando; hṛdā — com o coração; ātura-­indriyaḥ — que está aflita; samṛddhibhiḥ — pela reputação piedosa etc.; pūruṣa-buddhi-sākṣiṇām — daqueles que estão sempre absortos, pensando no Senhor Supremo; akalpaḥ — sendo incapaz; eṣām — dessas pessoas; adhiroḍhum — elevar-se; añjasā — rapidamente; param — meramente; padam — ao nível; dveṣṭi — inveja; yathā — tanto quanto; asurāḥ — os demônios; harim — a Suprema Personalidade de Deus.

Uma pessoa conduzida pelo falso ego e assim sempre aflita, tanto no nível mental quanto sensorial, não pode tolerar a opulência de pessoas autorrealizadas. Sendo incapaz de elevar-se ao nível de auto­rrealização, ela inveja essas pessoas tanto quanto os demônios inve­jam a Suprema Personalidade de Deus.

SIGNIFICADO—Explica-se aqui a verdadeira razão para a inimizade entre o senhor Śiva e Dakṣa. Dakṣa invejava o senhor Śiva devido à alta posição de Śiva como encarnação de uma qualidade da Suprema ­Personalidade de Deus e porque o senhor Śiva estava diretamente em contato com a Superalma e, portanto, era honrado e recebia um assento melhor do que o dele. Havia também muitas outras razões. Dakṣa, sendo materialmente envaidecido, não podia tolerar a posição elevada do senhor Śiva, de modo que sua ira contra o senhor Śiva por este não ter se levantado em sua presença era somente a manifestação final de sua inveja. O senhor Śiva está sempre absorto em meditação e sem­pre percebe a Superalma, como se expressa aqui pelas palavras pūruṣa-buddhi-sākṣiṇām. A posição de alguém cuja inteligência está sempre absorta em meditação na Suprema Personalidade de Deus é muito elevada, não podendo ser imitada por ninguém, especialmente uma pessoa comum. Quando Dakṣa entrou na arena de yajña, o senhor Śiva estava absorto em meditação e talvez não tivesse vis­to Dakṣa entrar, mas Dakṣa aproveitou-se da oportunidade para amaldiçoá-lo, pois havia muito tempo que Dakṣa vinha cultivando uma atitude invejosa contra o senhor Śiva. Aqueles que são real­mente autorrealizados veem cada corpo individual como um templo da Suprema Personalidade de Deus porque a Suprema Personalidade de Deus, sob Seu aspecto Paramātmā, reside nos corpos de todos.

Quando alguém oferece respeito ao corpo, não o oferece ao corpo material, mas sim à presença do Senhor Supremo. Assim, quem sempre medita no Senhor Supremo está sempre oferecendo­-Lhe reverências. No entanto, como Dakṣa não era muito elevado, ele achava que as reverências eram oferecidas ao corpo material, e, como o senhor Śiva não ofereceu respeito a seu corpo material, Dakṣa ficou invejoso. Pessoas assim, sendo incapazes de se elevarem ao nível de almas autorrealizadas como o senhor Śiva, são sempre invejosas. O exemplo dado aqui é bastante adequado. Os asuras, demônios ou ateus, sempre têm inveja da Suprema Personalidade de Deus; eles simplesmente querem matá-lO. Mesmo nesta era, encon­tramos alguns supostos eruditos que escrevem comentários sobre a Bhagavad-gītā e que têm inveja de Kṛṣṇa. Quando Kṛṣṇa diz man-­manā bhava mad-bhaktaḥ (Bhagavad-gītā 18.65) – “Pensa sempre em Mim, torna-te Meu devoto e rende-te a Mim” – os supostos eruditos comentam que não é a Kṛṣṇa que temos que nos render. Isso é inveja. Os asuras ou ateus, os demônios, sem razão ou causa, têm inveja da Suprema Personalidade de Deus. Do mesmo modo, ao invés de ofe­recerem respeitos a pessoas autorrealizadas, os homens tolos que não podem se aproximar do nível mais elevado de autorrealização são sempre invejosos, embora não haja razão para isso.

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