VERSO 3
na tasya tattva-grahaṇāya sākṣād
varīyasīr api vācaḥ samāsan
svapne niruktyā gṛhamedhi-saukhyaṁ
na yasya heyānumitaṁ svayaṁ syāt
na — não; tasya — dele (um estudante dos Vedas); tattva-grahaṇāya — para aceitar a verdadeira finalidade do conhecimento védico; sākṣāt — diretamente; varīyasīḥ — muito elevadas; api — embora; vācaḥ — palavras dos Vedas; samāsan — tornaram-se suficientemente; svapne — em um sonho; niruktyā — pelo exemplo; gṛha-medhi-saukhyam — felicidade dentro deste mundo material; na — não; yasya — daquele que; heya-anumitam — concluiu como sendo inferior; svayam — naturalmente; syāt — tornam-se.
Assim como uma pessoa naturalmente reconhece que um sonho é algo fictício e irreal, ela pode compreender, por fim, que a felicidade material, quer nesta vida, quer na próxima, seja neste planeta, seja em planetas superiores, é insignificante. Ao entender isso, os Vedas, embora sejam uma fonte magnífica, são insuficientes para lhe fornecer um conhecimento direto da verdade.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (2.45), Kṛṣṇa aconselha Arjuna a transcender as atividades materiais desenvolvidas pelos três modos da natureza (traiguṇya-viṣayā vedā nistraiguṇyo bhavārjuna). O objetivo do estudo védico é transcender as atividades dos três modos da natureza material. É claro que, no mundo material, o modo da bondade é aceito como o melhor, e, situando-se na plataforma de sattva-guṇa, o indivíduo pode promover-se aos sistemas planetários superiores. Contudo, isso ainda não é a perfeição. Ele tem de chegar à conclusão de que nem mesmo a plataforma de sattva-guṇa é boa. Alguém pode sonhar que se tornou um rei, com família, esposa e filhos agradáveis, mas, tão logo acaba o sonho, ele conclui que se tratava de algo irreal. De modo semelhante, toda espécie de felicidade material é indesejável para alguém que procura a salvação espiritual. Quem não chega à conclusão de que nada tem a ver com qualquer classe de felicidade material não pode atingir a plataforma de compreensão da Verdade Absoluta, ou tattva-jñāna. Os karmīs, os jñānīs e os yogīs buscam alguma elevação material. Dia e noite, os karmīs trabalham arduamente em busca de algum conforto físico, e tudo o que os jñānīs fazem é especular sobre como escapar do enredamento do karma e imergir na refulgência Brahman. Os yogīs são muito afeiçoados à aquisição de perfeição material e poderes mágicos. Todos eles estão tentando ser materialmente perfeitos, mas o devoto em serviço devocional chega muito facilmente à plataforma de nirguṇa, e, consequentemente, os resultados de karma, jñāna e yoga tornam-se muito insignificantes para ele. Portanto, apenas o devoto está na plataforma de tattva-jñāna, não os outros. É evidente que a posição do jñānī é superior à posição do karmī, mas sua posição também é incompleta. O jñānī precisa realmente libertar-se, e, após a libertação, ele pode situar-se em serviço devocional (mad-bhaktiṁ labhate parām).