VERSOS 20-21
tāvad ubhayor api rodhasor yā mṛttikā tad-rasenānuvidhyamānā vāyv-arka-saṁyoga-vipākena sadāmara-lokābharaṇaṁ jāmbū-nadaṁ nāma suvarṇaṁ bhavati; yad u ha vāva vibudhādayaḥ saha yuvatibhir mukuṭa-kaṭaka-kaṭi-sūtrādy-ābharaṇa-rūpeṇa khalu dhārayanti.
tāvat — inteiramente; ubhayoḥ api — de ambas; rodhasoḥ — das margens; yā — o qual; mṛttikā — o lodo; tat-rasena — do suco das frutas jambū que flui no rio; anuvidhyamānā — estando impregnado; vāyu-arka-saṁyoga-vipākena — devido a uma reação química com o ar e o brilho solar; sadā — sempre; amara-loka-ābharaṇam — que é usado para enfeites dos semideuses, os cidadãos dos planetas celestiais; jāmbū-nadam nāma — chamado Jāmbū-nada; suvarṇam — ouro; bhavati — torna-se; yat — o qual; u ha vāva — na verdade; vibudha-ādayaḥ — os grandes semideuses; saha — com; yuvatibhiḥ — suas esposas sempre jovens; mukuṭa — coroas; kaṭaka — braceletes; kaṭi-sūtra — cintos; ādi — e assim por diante; ābharaṇa — de toda espécie de enfeites; rūpeṇa — sob a forma; khalu — na verdade; dhārayanti — eles possuem.
O lodo de ambas as margens do rio Jambū-nadī, umedecido pelo suco corrente e depois seco pelo ar e pelo brilho solar, produz uma grande quantidade do ouro chamado Jāmbū-nada. Os cidadãos do céu usam esse ouro para várias espécies de enfeites. Portanto, todos os habitantes dos planetas celestiais e suas jovens esposas estão plenamente decorados com elmos, braceletes e cintos de ouro e, nessa atmosfera, eles gozam da vida.
SIGNIFICADO—Por desígnio da Suprema Personalidade de Deus, os rios de alguns planetas produzem ouro em suas margens. Os pobres habitantes desta Terra, devido ao seu parco conhecimento, deixam-se cativar por um pretenso bhagavān que consegue produzir uma irrisória quantidade de ouro. Contudo, compreende-se que, em determinado sistema planetário superior deste mundo material, o lodo das margens de Jambū-nadī mistura-se com o suco de jambū, reage com os raios solares no ar e, em seguida, produz grandes quantidades de ouro. Assim, os homens e as mulheres desse planeta usam vários adornos de ouro e desfrutam de uma ótima aparência. Na Terra, infelizmente, existe tanta escassez de ouro que os governos do mundo tentam mantê-lo em reservas para emitir papel-moeda. Porém, como o papel-moeda não tem o seu lastro imprescindível, o papel que distribuem como dinheiro é inútil. Todavia, as pessoas na Terra se orgulham muitíssimo do avanço material. Nos tempos modernos, em vez de ouro, as moças e as senhoras usam enfeites de plástico, e, no lugar de se usarem utensílios de ouro, proliferam os utensílios de plástico, apesar do que as pessoas se orgulham muito de sua riqueza material. Portanto, descreve-se que as pessoas desta era são mandāḥ sumanda-matayo manda-bhāgyā hy upadrutāḥ (Śrīmad-Bhāgavatam 1.1.10). Em outras palavras, elas são extremamente incompetentes e muito lentas para entender a opulência da Suprema Personalidade de Deus. Chegou-se a descrevê-las como sumanda-matayaḥ porque suas concepções são tão debilitadas que aceitam um blefista que produz um pouco de ouro como se fosse Deus. Como não têm ouro algum em sua posse, são, na verdade, muito pobres, daí semelhantes pessoas serem tidas como desafortunadas.
Às vezes, essas pessoas desafortunadas querem ser promovidas aos planetas celestiais para alcançar posições privilegiadas, conforme são descritas neste verso, mas os devotos puros do Senhor não estão nem um pouco interessados em tal opulência. Com efeito, os devotos às vezes comparam a cor do ouro com a do excremento dourado reluzente. Śrī Caitanya Mahāprabhu instruiu os devotos a não se deixarem encantar por enfeites de ouro e tampouco por mulheres belamente decoradas. Na dhanaṁ na janaṁ na sundarīm: o devoto não deve deixar-se enfeitiçar pelo ouro, por belas mulheres ou pelo prestígio de ter muitos seguidores. Śrī Caitanya Mahāprabhu, portanto, orou confidencialmente pedindo que mama janmani janmanīśvare bhavatād bhaktir ahaitukī tvayi: “Meu Senhor, por favor, abençoa-Me com Teu serviço devocional. Nada mais Eu desejo.” O devoto deve orar a fim de libertar-se deste mundo material. Esse é o seu único desejo.
ayi nanda-tanuja kiṅkaraṁ
patitaṁ māṁ viṣame bhavāmbudhau
kṛpayā tava pāda-paṅkaja-
sthita-dhūlī-sadṛśaṁ vicintaya
O devoto humilde simplesmente ora ao Senhor: “Por favor, recolhei-me do mundo material, onde proliferam muitas variedades de opulências materiais, e mantende-me sob o refúgio de Vossos pés de lótus.”
Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura ora:
hā hā prabhu nanda-suta, vṛṣabhānu-sutā-yuta,
karuṇā karaha ei-bāra
narottama-dāsa kaya, nā ṭheliha rāṅgā-pāya,
tomā vine ke āche āmāra
“Ó meu Senhor, ó filho de Nanda Mahārāja, agora permaneceis diante de Mim com Vossa consorte, Śrīmatī Rādhārāṇī, a filha de Vṛṣabhānu. Por favor, aceitai-me como a poeira de Vossos pés de lótus. Por favor, não me rejeites, pois não tenho nenhum outro abrigo.”
Do mesmo modo, Prabodhānanda Sarasvatī mostra que a posição dos semideuses, que estão enfeitados com elmos e outros adornos de ouro, é mera fantasmagoria (tri-daśa-pūr ākāśa puṣpāyate). O devoto jamais se deixa enfeitiçar por essas opulências. Tudo o que ele deseja é se tornar a poeira dos pés de lótus do Senhor.