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VERSO 22

mat-prāptaye ’jeśa-surāsurādayas
tapyanta ugraṁ tapa aindriye dhiyaḥ
ṛte bhavat-pāda-parāyaṇān na māṁ
vindanty ahaṁ tvad-dhṛdayā yato ’jita

mat-prāptaye — para obter minha misericórdia; aja — senhor Brahmā; īśa — senhor Śiva; sura — os outros semideuses, encabeçados pelo rei Indra, Candra e Varuṇa; asura-ādayaḥ — bem como os demônios; tapyante — submetem-se a; ugram — rigorosa; tapaḥ — austeridade; aindriye dhiyaḥ — cujas mentes estão absortas em pensar em refinados gozos de sentido; ṛte — a menos que; bhavat pāda-parāyaṇāt — alguém que esteja única e exclusivamente ocupado em servir aos pés de lótus do Senhor Supremo; na — não; mām — a mim; vindanti — obtém; aham — eu; tvat — em Vós; hṛdayāḥ — cujos corações; yataḥ — portanto; ajita — ó inconquistável.

Ó Supremo Senhor inconquistável, ao ficarem absortos em pensar no gozo material, o senhor Brahmā e o senhor Śiva, bem como os outros semideuses e os demônios, submetem-se a rigorosas austeridades e penitências para receberem minhas bênçãos. Mas eu não favoreço ninguém, por maior que ele seja, a menos que ele esteja ocupado em servir aos Vossos pés de lótus. Porque sempre Vos mantenho dentro do meu coração, posso favorecer somente alguém que seja um devoto.

SIGNIFICADO—Neste verso, Lakṣmīdevī, a deusa da fortuna, afirma explicitamente que não concede seu favor a nenhum materialista. Embora às vezes, aos olhos de um materialista, outro materialista se torna muito opulento, é a deusa Durgādevī, uma expansão material da deusa da fortuna, e não a própria Lakṣmīdevī, quem lhe outorga semelhante opulência. Aqueles que desejam riqueza material adoram Durgādevī com o seguinte mantra, dhanaṁ dehi rūpaṁ dehi rupavati bharyam dehi: “Ó adorável mãe Durgādevī, por favor, dá-me riqueza, força, fama, uma boa esposa e assim por diante.” Satisfazendo a deusa Durgā, a pessoa pode obter esses benefícios, mas, como são temporários, redundam apenas em māyā-sukha (felicidade ilusória). A propósito, Prahlāda Mahārāja afirma que māyā-sukhāya bharam udvahato vimūḍhān: aqueles que trabalham muito arduamente para obterem benefícios materiais são vimūḍhas, patifes tolos, pois semelhante felicidade se esvai com o tempo. Por outro lado, devotos como Prahlāda e Dhruva Mahārāja alcançaram extraordinárias opulências materiais, mas essas opulências não eram māyā-sukha. Quando o devoto adquire opulências inigualáveis, elas são dádivas diretas da deusa da fortuna, que reside no coração de Nārāyaṇa.

As opulências materiais que alguém obtém ao oferecer orações à deusa Durgā são temporárias. A Bhagavad-gītā (7.23), descreve que antavat tu phalaṁ teṣāṁ tad bhavaty alpa-medhasām: homens de inteligência parca desejam uma felicidade temporária. Pudemos observar o fato de que um dos discípulos de Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura desejou desfrutar da propriedade de seu mestre espiritual, e este, sendo misericordioso com o discípulo, deu-lhe a propriedade temporária, mas não o poder de pregar mundo afora o culto de Caitanya Mahāprabhu. O dom da pregação é a misericórdia especial concedida ao devoto que não quer nada material de seu mestre espiritual, mas que deseja apenas servi-lo. A história do demônio Rāvaṇa ilustra esse ponto. Embora tivesse tentado raptar da custódia do Senhor Rāmacandra a deusa da fortuna Sītādevī, Rāvaṇa foi malsucedido nesse seu intento. A Sītādevī que, à força, ele levou consigo não era a Sītādevī original, senão que era uma expansão de māyā, ou Durgādevī. Como resultado, ao invés de ganhar o favor da verdadeira deusa da fortuna, Rāvaṇa e toda a sua família foram aniquilados pelo poder de Durgādevī (sṛṣṭi-sthiti-pralaya-sādhana-śaktir ekā).

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