VERSO 4
vadanti viśvaṁ kavayaḥ sma naśvaraṁ
paśyanti cādhyātmavido vipaścitaḥ
tathāpi muhyanti tavāja māyayā
suvismitaṁ kṛtyam ajaṁ nato ’smi tam
vadanti — eles dizem com autoridade; viśvam — toda a criação material; kavayaḥ — grandes sábios eruditos; sma — decerto; naśvaram — perecível; paśyanti — eles veem em transe; ca — também; adhyātma-vidaḥ — que compreenderam o conhecimento espiritual; vipaścitaḥ — estudiosos muito eruditos; tathā api — mesmo assim; muhyanti — deixam-se iludir; tava — Vossa; aja — ó não-nascido; māyayā — pela energia ilusória; su-vismitam — muito maravilhosa; kṛtyam — atividade; ajam — ao Supremo não-nascido; nataḥ asmi — ofereço minhas reverências; tam — a Ele.
Ó não-nascido, os estudiosos dos Vedas, que são eruditos e avançados em conhecimento espiritual, bem como outros pensadores e filósofos, decerto sabem que este mundo material é perecível. Em transe, eles compreendem a verdadeira posição deste mundo e também pregam a verdade. Contudo, mesmo eles, às vezes, deixam-se confundir por Vossa energia ilusória. Esse é o Vosso maravilhoso passatempo. Portanto, posso compreender que Vossa energia ilusória é magnífica, e ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.
SIGNIFICADO—A energia ilusória da Suprema Personalidade de Deus age não apenas sobre a alma condicionada dentro deste mundo material, mas às vezes também age sobre os estudiosos eruditos mais avançados, os quais, através do entendimento prático, conhecem de fato a posição constitucional deste mundo material. Tão logo alguém pensa: “Eu sou este corpo material (ahaṁ mameti) e tudo que está relacionado com este corpo material é meu”, ele está iludido. Essa ilusão (moha) causada pela energia material age especialmente sobre as almas condicionadas, mas às vezes também age sobre as almas liberadas. Alma liberada é alguém que desenvolveu conhecimento suficiente deste mundo material e, portanto, não está apegado à concepção de vida corpórea. Porém, devido à prolongada associação com os modos da natureza material, mesmo as almas liberadas, descuidando de sua posição transcendental, às vezes se deixam cativar pela energia ilusória. Portanto, na Bhagavad-gītā (7.14), o Senhor Kṛṣṇa diz que mām eva ye prapadyante māyām etāṁ taranti te: “Apenas aqueles que se rendem a Mim é que podem subjugar a influência da energia material.” Por isso, ninguém deve pensar que é uma pessoa liberada, imune à influência de māyā. Todos devem executar serviço devocional muito cuidadosamente, seguindo à risca os princípios reguladores. Assim, permanecerão fixos aos pés de lótus do Senhor. Caso contrário, uma pequena desatenção poderá trazer um resultado desastroso. Já conhecemos o exemplo de Mahārāja Bharata. Mahārāja Bharata, sem dúvida, era um grande devoto, mas, porque deu um pouco de sua atenção a um veadinho, teve de passar por mais dois nascimentos, um nascimento como veado, e outro nascimento como o brāhmaṇa Jaḍa Bharata. Somente depois disso é que foi liberado e voltou ao lar, voltou ao Supremo.
O Senhor está sempre disposto a perdoar o Seu devoto, mas, se o devoto tenta aproveitar-se da benevolência do Senhor e, deliberadamente, segue cometendo erros, o Senhor na certa o punirá, deixando-o cair nas garras da energia ilusória. Em outras palavras, o conhecimento teórico adquirido através do estudo dos Vedas é insuficiente para proteger alguém das garras de māyā. Praticando o serviço devocional, a pessoa deve agarrar-se firmemente aos pés de lótus do Senhor. Somente então garantirá uma posição sólida.