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VERSO 27

satyaṁ diśaty arthitam arthito nṛṇāṁ
naivārthado yat punar arthitā yataḥ
svayaṁ vidhatte bhajatām anicchatām
icchāpidhānaṁ nija-pāda-pallavam

satyam — decerto; diśati — Ele oferece; arthitam — o objeto pelo qual se suplicou; arthitaḥ — tendo orado para se obter; nṛṇām — pelos seres humanos; na — não; eva — na verdade; artha-daḥ — o outorgador das bênçãos; yat — os quais; punaḥ — novamente; arthitā — um pedido de bênção; yataḥ — da qual; svayam — pessoalmente; vidhatte — Ele dá; bhajatām — àqueles ocupados em Seu serviço; anicchatām — embora sem desejar isso; icchā pidhānam — que abrange todas as coisas desejáveis; nija-pāda-pallavam — Seus próprios pés de lótus.

A Suprema Personalidade de Deus satisfaz os desejos materiais do devoto que, assim motivado, recorre a Ele, mas não concede ao devoto bênçãos que o induzam a pedir outras e outras bênçãos. Contudo, o Senhor prontamente dá ao devoto o refúgio de Seus próprios pés de lótus, mesmo que semelhante pessoa não aspire a isso, e esse refúgio lhe satisfaz todos os desejos. Essa é a misericórdia especial da Personalidade Suprema.

SIGNIFICADO—Os devotos mencionados no verso anterior, ao aproximarem-se da Suprema Personalidade de Deus, estão cheios de motivações materiais, mas este verso explica como esses devotos são salvos desses desejos. O Śrīmad-Bhāgavatam (2.3.10) aconselha:

akāmaḥ sarva-kāmo vā
mokṣa-kāma udāra-dhīḥ
tīvreṇa bhakti-yogena
yajeta puruṣaṁ param

“Quer alguém esteja livre de todos os desejos materiais, quer esteja cheio de desejos materiais, quer deseje tornar-se uno com o Supremo, deve ocupar-se em serviço devocional.” Dessa maneira, não apenas os desejos do devoto serão satisfeitos, mas chegará o dia em que seu único desejo será servir aos pés de lótus do Senhor. Alguém que se ocupa em servir ao Senhor com alguma motivação chama-se sakāma-bhakta, e aquele que serve ao Senhor sem qualquer motivação interesseira se chama akāma-bhakta. Kṛṣṇa é tão misericordioso que transforma o sakāma-bhakta em akāma-bhakta. O devoto puro, o akāma-bhakta, que não tem motivações materiais, encontra satisfação no simples fato de servir aos pés de lótus do Senhor. Confirma isso a Bhagavad-gītā (6.22), yaṁ labdhvā cāparaṁ lābhaṁ manyate nādhikaṁ tataḥ: quem se ocupa no serviço aos pés de lótus do Senhor não quer nenhuma outra coisa. Essa é a fase mais elevada de serviço devocional. Mesmo com o sakāma-bhakta, um devoto motivado, o Senhor é tão bondoso que lhe satisfaz os desejos de tal maneira que um dia ele virá a ser um akāma-bhakta. Dhruva Mahārāja, por exemplo, tornou-se um bhakta motivado pelo desejo de obter um reino melhor do que o de seu pai, mas, por fim, tornou-se akāma-bhakta e disse ao Senhor que svāmin kṛtārtho ’smi varaṁ na yāce: “Meu querido Senhor, estou muito satisfeito com o simples fato de servir a Vossos pés de lótus. Não desejo quaisquer benefícios materiais.” Às vezes, acontece de uma criancinha comer coisas sujas, mas seus pais lhe tiram isso e lhe oferecem um sandeśa ou algum outro doce. Os devotos que aspiram a bênçãos materiais são comparados a essas crianças. O Senhor é tão bondoso que lhes tira os desejos materiais e lhes dá a bênção mais elevada. Portanto, mesmo com motivações materiais, deve-se adorar apenas a Suprema Personalidade de Deus – mas a pessoa deve ocupar-se plenamente em serviço devocional ao Senhor para que todos os seus desejos sejam satisfeitos e, no final, possa voltar ao lar, voltar ao Supremo. Explica-se isso no Caitanya-caritāmṛta (Madhya 22.37-39, 41) da seguinte maneira.

Anyakāmī — o devoto pode desejar algo diferente do serviço aos pés de lótus do Senhor; yadi kare kṛṣṇera bhajana — contudo, se ele se ocupar a serviço do Senhor; nā māgiteha kṛṣṇa tāre dena sva-caraṇa — Kṛṣṇa lhe dará o refúgio dos Seus pés de lótus, muito embora ele não aspire a isso. Kṛṣṇa kahe — o Senhor diz; āmā bhaje — “Ele está ocupado em Meu serviço”; māge viṣaya-sukha — “mas quer os benefícios do gozo dos sentidos materiais”. Amṛta chāḍi ’viṣa māge: “semelhante devoto é como uma pessoa que, ao invés de néctar, pede veneno”. Ei baḍa mūrkha: “Isto é tolice dele”. Ami-vijña: “Mas sou experiente.” Ei mūrkhe ‘viṣaya’ kene diba: “Por que Eu deveria dar a esse tolo a sujeira do gozo material?” Svacaranāmṛta: “Seria melhor que Eu lhe desse o refúgio dos Meus pés de lótus”. Viṣaya’ bhulāiba: “Farei com que ele se esqueça de todos os desejos materiais.” Kāma lāgi’ kṛṣṇa bhaje — se alguém se ocupa em servir ao Senhor para obter gozo dos sentidos; paya kṛṣṇa-rase — o resultado é que, por fim, ele desenvolve o gosto pelo serviço aos pés de lótus do Senhor. Kāma chāḍi’ ‘dāsa’ haite haya abhilāṣe. Ele abandona, então, todos os desejos materiais e quer tornar-se um servo eterno do Senhor.

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