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VERSO 7

kā tvaṁ cikīrṣasi ca kiṁ muni-varya śaile
māyāsi kāpi bhagavat-para-devatāyāḥ
vijye bibharṣi dhanuṣī suhṛd-ātmano ’rthe
kiṁ vā mṛgān mṛgayase vipine pramattān

— quem; tvam — és tu; cikīrṣasi — estás tentando fazer; ca­ — também; kim — o que; muni-varya — ó melhor dos munis; śaile — nesta colina; māyā — potência ilusória; asi — és tu; kāpi — alguma; bhaga­vat — a Suprema Personalidade de Deus; para-devatāyāḥ — do Senhor transcendental; vijye — sem cordas; bibharṣi — estás carregando; dhanuṣī — dois arcos; suhṛt — de um amigo; ātmanaḥ — de ti mesma; arthe — para o benefício; kim vā — ou; mṛgān — animais selvagens; mṛgayase — estás tentando caçar; vipine — nesta floresta; pramattān — que estão enlouquecidos materialmente.

O príncipe, erroneamente, dirigiu-se à Apsarā: Ó melhor dos santos, quem és? Por que estás nesta colina e o que desejas fazer? Tu és alguma das potências ilusórias da Suprema Personalidade de Deus? Parece que estás carregando dois arcos sem corda. Por que carregas esses arcos? Tens algum objetivo ou pretendes beneficiar um amigo? Talvez estejas carregando-os para matar os animais loucos desta floresta.

SIGNIFICADO—Enquanto praticava rigorosas penitências na floresta, Āgnīdhra se viu cativado pelos movimentos de Pūrvacitti, a garota enviada pelo senhor Brahmā. Como se afirma na Bhagavad-gītā, kāmais tais tair hṛta jñānāḥ: quem se torna luxurioso perde a inteligência. Por­tanto, Āgnīdhra, tendo perdido sua inteligência, não pôde distinguir se Pūrvacitti era homem ou mulher. Ele a confundiu com um muni-­putra, o filho de uma pessoa santa na floresta, e chamou-a de muni­-varya. Devido à beleza pessoal dela, entretanto, ele não conseguia acreditar que ela fosse um rapaz. Portanto, ele começou a estudar suas feições. Em primeiro lugar, ao observar suas duas sobrancelhas tão expres­sivas, ele ficou imaginando que ele ou ela talvez fosse a māyā da Suprema Personalidade de Deus. As palavras usadas neste contexto são bhagavat-para-devatāyāḥ. Devatāḥ, os semideuses, pertencem todos a este mundo material, ao passo que Bhagavān, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, está sempre além deste mundo mate­rial, sendo conhecido, portanto, como para-devatā. Por certo que o mundo material é criado por māyā, mas é criado sob a orientação de para-devatā, a Suprema Personalidade de Deus. Como confirma a Bhagavad-gītā (mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram), māyā não é a autoridade última no que se refere à criação deste mundo material. Māyā procede em nome de Kṛṣṇa.

As sobrancelhas de Pūrvacitti eram tão belas que Āgnīdhra as comparou a arcos sem cordas. Portanto, ele perguntou se elas se des­tinavam a ser usadas para os propósitos pessoais da jovem ou em benefício de outrem. Suas sobrancelhas eram como arcos de caça. Este mundo material é como uma grande floresta, cujos habitantes também são comparados a animais selvagens, tais como os veados e os tigres, fadados a serem mortos. Os matadores são as sobrancelhas das belas mulheres. Cativados pela beleza do sexo frágil, todos os homens do mundo são mortos pelos arcos sem cordas, mas não podem perceber que māyā os está matan­do. É um fato, contudo, que eles estão sendo mortos (bhūtvā bhūtva pralīyate). Em virtude de seu tapasya, Āgnīdhra podia entender como māyā age sob a orientação da Suprema Personalidade de Deus.

A palavra pramattān também é significativa. Pramatta refere-se a alguém que não consegue controlar seus sentidos. Todo o mundo material está sendo explorado por pessoas que são pramattas, ou vimūḍhas. Logo, Prahlāda Mahārāja disse:

śoce tato vimukha-cetasa indriyārtha-
māyā-sukhāya bharam udvahato vimūḍhān

“Eles apodrecem enquanto executam atividades materiais em busca do transitório prazer material e arruínam suas vidas, esforçando-se dia e noite para conseguirem satisfazer os sentidos, sem nenhum apego pelo desenvolvimento do amor a Deus. Tudo o que faço é me la­mentar por eles e arquitetar vários planos para libertá-los das garras de māyā.” (Śrīmad-Bhāgavatam 7.9.43) Termos tais como pramatta, vimukha e vimūḍha são usados nos śāstras em referência aos karmīs que se em­penham muito seriamente na busca do gozo dos sentidos. Eles são mortos por māyā. Contudo, quem é apramatta, sóbrio e sensato, um dhīra, sabe muito bem que o principal dever de um ser humano é prestar serviço à Pessoa Suprema. Armada com seus arcos e flechas invisíveis, māyā está sempre pronta a matar aqueles que são pra­mattas. Āgnīdhra questionou Pūrvacitti quanto a isso.

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