VERSO 17
yas tv iha vai bhūtānām īśvaropakalpita-vṛttīnām avivikta-para-vyathānāṁ svayaṁ puruṣopakalpita-vṛttir vivikta-para-vyatho vyathām ācarati sa paratrāndhakūpe tad-abhidroheṇa nipatati tatra hāsau tair jantubhiḥ paśu-mṛga-pakṣi-sarīsṛpair maśaka-yūkā-matkuṇa-makṣikādibhir ye ke cābhidrugdhās taiḥ sarvato ’bhidruhyamāṇas tamasi vihata-nidrā-nirvṛtir alabdhāvasthānaḥ parikrāmati yathā kuśarīre jīvaḥ.
yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; bhūtānām — para algumas entidades vivas; īśvara — pelo controlador supremo; upakalpita — designadas; vṛttīnām — cujos meios de subsistência; avivikta — não compreendendo; para-vyathānām — a dor alheia; svayam — ela própria; puruṣa-upakalpita — designada pela Suprema Personalidade de Deus; vṛttiḥ — cuja subsistência; vivikta — entendendo; para-vyathaḥ — as condições dolorosas alheias; vyathām ācarati — mas ainda assim causa dor; saḥ — tal pessoa; paratra — em sua próxima vida; andhakūpe — ao inferno chamado Andhakūpa; tat — com elas; abhidroheṇa — devido ao pecado da maldade; nipatati — cai; tatra — ali; ha — na verdade; asau — essa pessoa; taiḥ jantubhiḥ — por aquelas respectivas entidades vivas; paśu — animais; mṛga — feras; pakṣi — pássaros; sarīsṛpaiḥ — serpentes; maśaka — mosquitos; yūkā — piolhos; matkuṇa — vermes; makṣika-ādibhiḥ — moscas e assim por diante; ye ke — ou algum outro; ca — e; abhidrugdhāḥ — perseguida; taiḥ — por eles; sarvataḥ — em toda parte; abhidruhyamāṇaḥ — sendo atacada; tamasi — na escuridão; vihata — perturbada; nidrā-nirvṛtiḥ — cujo lugar de descanso; alabdha — não sendo capaz de obter; avasthānaḥ — um lugar de descanso; parikrāmati — perambula; yathā — assim como; ku-śarīre — em um corpo de grau inferior; jīvaḥ — uma entidade viva.
Pelos desígnios do Senhor Supremo, os seres vivos de grau inferior, tais como os percevejos e os mosquitos, sugam o sangue de seres humanos e outros animais. Essas criaturas insignificantes não sabem que suas picadas incomodam o ser humano. Contudo, os seres humanos de primeira classe – os brāhmaṇas, os kṣatriyas e os vaiśyas – têm consciência desenvolvida e, portanto, sabem quão doloroso é ser morto. O ser humano dotado de conhecimento na certa comete pecado caso mate ou atormente criaturas insignificantes, que não têm a faculdade de discriminar. O Senhor Supremo pune tal homem colocando-o no inferno conhecido como Andhakūpa, onde é atacado por todos os pássaros e feras, répteis, mosquitos, piolhos, vermes, moscas e quaisquer outras criaturas que ele tenha atormentado durante sua vida. Eles o atacam de todas as direções, tirando-lhe o prazer de dormir. Incapaz de descansar, ele constantemente fica vagando pela escuridão. Assim, em Andhakūpa, seu sofrimento é idêntico ao de uma criatura das espécies inferiores.
SIGNIFICADO—Através deste verso muito instrutivo, tomamos conhecimento de que os animais inferiores, criados pelas leis da natureza para perturbar o ser humano, não estão sujeitos à punição. Entretanto, como tem consciência desenvolvida, o ser humano não pode nada que contrarie os princípios de varṇāśrama-dharma sem receber a devida punição. Na Bhagavad-gītā (4.13), Kṛṣṇa afirma que cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ guṇa-karma-vibhāgaśaḥ: “Conforme os três modos da natureza material e o trabalho atribuído a eles, as quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim.” Assim, todos os homens devem ser divididos em quatro classes – brāhmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras – e devem agir de acordo com as normas estabelecidas. Eles não podem desviar-se das regras e regulações a eles prescritas. Uma delas afirma que nunca devem afligir animal algum, nem mesmo aqueles que perturbam os seres humanos. Embora um tigre não seja pecaminoso caso ataque outro animal e coma sua carne, se um homem com consciência desenvolvida age assim, ele tem que ser punido. Em outras palavras, o ser humano que não se vale de sua consciência desenvolvida, mas que, ao contrário, age como um animal, com certeza sofrerá punições em muitos infernos diferentes.